Apelidado pelo historiador norte-americano Donald Bogle «o decano dos cineastas independentes», William Greaves é um dos nomes mais injustamente esquecidos no panorama do cinema moderno de estilo documental. Em outubro, a já habitual retrospetiva conjunta da Cinemateca Portuguesa com o Doclisboa (coprogamada em conjunto com Scott MacDonald, um dos autores e coordenadores do livro William Greaves: Filmmaking as Mission), vai apresentar uma amostra muito completa desta obra por redescobrir, dando conta da complexidade e variedade de propostas contidas no cinema deste homem negro renascentista.
Alguém que encarava a realização como uma missão de vida ou o cinema como factor de transformação social e política, William Greaves inicia a sua carreira como ator nos Estados Unidos da América antes de partir para o Canadá. É a partir do país vizinho que começa a realizar e montar os seus primeiros filmes num sistema de produção dedicado ao documentário fundado por John Grierson, colaborando com nomes maiores do cinema direto desse país, tais como Terence Macartney-Filgate e Stanley Jackson.
Cineasta atento à realidade das minorias oprimidas, especialmente à situação da comunidade afro-americana, via-se como um divulgador e um formador, promovendo os exemplos de resistência, identificando as origens do racismo e da discriminação, tanto na vida social como no local de trabalho. Na sua filmografia encontramos obras tão diversas como EMERGENCY WARD, integralmente rodada nas urgências do General Hospital em Montreal, IN THE COMPANY OF MEN, um psicodrama no local de trabalho que aborda a questão do racismo, ou mais experimental e filme de culto SYMBIOPSYCHOTAXIPLASM: TAKE ONE, que iria influenciar importantes nomes do cinema independente americano, com Steven Sodebergh à cabeça. Soderbergh seria inclusive um dos produtores da sequela SYMBIOPSYCHOTAXIPLASM: TAKE 2 ½, a derradeira obra de Greaves lançada em 2005.
Em outubro é hora de descobrirmos um surpreendente cineasta de e para todos os tempos chamado William Greaves. Antes disso, no próximo dia 4 de julho, haverá uma sessão de antecipação da retrospetiva na esplanada da Cinemateca com a exibição de IN THE COMPANY OF MEN.