CICLO
Independências nos Arquivos Italianos


Em colaboração com o ICNOVA-FCSH (UNL)/ Escola das Artes – UAL / Hangar
e com o apoio do Archivio Audiovisivo del Movimento Operaio e Democratico (Roma)

No âmbito da conferência internacional “O Nascimento (em Imagens) das Nações Africanas: Média e Descolonizações” que decorrerá entre 9 e 11 de outubro em Lisboa, a Cinemateca apresenta um pequeno Ciclo sobre o tema feito em colaboração com a investigadora Maria do Carmo Piçarra, com quem já temos vindo a apresentar este ano os Ciclos “Do Cinema de Estado ao Cinema Fora do Estado” dedicados a Moçambique, Guiné-Bissau e, em novembro, Angola. É dela o texto que se segue, bem como as notas sobre as sessões deste programa.
“Entre 1973 e 1975, Guiné-Bissau, Angola, Cabo Verde, Moçambique e S. Tomé e Príncipe foram os últimos países africanos a libertar-se, formalmente, do colonialismo europeu, na sequência de lutas de libertação para as quais contaram com solidariedades internacionalistas. Entre outras formas, estas materializaram-se no que se pretendeu ser um Terceiro Cinema descolonizador. Os filmes feitos alinharam-se com os objetivos da conferência Tricontinental, realizada em Havana, em janeiro de 1966. Se as solidariedades cubana, soviética, argelina, sueca ou francesa vêm sendo referenciadas, a italiana só agora começa a ser analisada. A Fondazione Archivio Audiovisivo del Movimento Operaio e Democratico (AAMOD), com um importante acervo relativo às lutas anticoloniais, tem dado contributos decisivos nesse sentido. Entre eles, e com organização sua e da Fondazione Gramsci, em parceria com as Cineteca Nazionale, Casa del Cinema, Sapienza Università di Roma e Università Roma Tre, de 10 a 14 de dezembro de 2023, contou-se “Le ex colonie portoghesi: media e decolonizzazione”. Integrando-se na série “Il progetto e le forme di un cinema politico”, iniciada em 2017, incluiu uma mostra que revelou filmes da sua coleção, do Centro Sperimentale di Cinematografia, do Instituto Cubano del Arte e Industria Cinematográficos, e da RAI TECHE, além de uma conferência internacional.
Partiu dos diretores científicos do evento, o investigador Luca Peretti e Paola Scarnati, figura tutelar da AAMOD, o convite para que os apoiasse na organização do mesmo em Roma, e o desafio para dar sequência ao mesmo em Portugal, integrando a Cinemateca Portuguesa e o ICNOVA-UNL no projeto. Nesse âmbito, partindo do programa apresentado na Casa del Cinema, em Roma, apresenta-se agora em colaboração com a Cinemateca e com Luca Peretti, a mostra “Independências nos Arquivos Italianos”. Paralelamente, e de 9 a 11 de outubro, realiza-se a conferência “O Nascimento (em Imagens) das Nações Africanas: Média e Descolonizações”, coorganizada por mim e por Giulia Stripolli (IHC) na Universidade Nova de Lisboa (9-10) e na Escola das Artes da UAL (11), parceiro com o Hangar – Centro de Investigação Artística (17 de outubro). Nestas instituições, haverá debates, projeções e apresentações de investigações artísticas e comunicações.
Este Ciclo propõe obras de referência que perderam visibilidade quando a importância do cinema político diminuiu. Destacam-se AFRICA NERA, AFRICA ROSSA, realizado por Carlo Lizanni em Angola pós-independência,
I DANNATI DELLA TERRA, de Valentino Orsini, ou RECONSTRUÇÃO, EDUCAÇÃO, assinado coletivamente mas filmado por Flora Gomes. Títulos como A PROPOSITO DELL’ANGOLA, feito clandestinamente em Angola, a mostrar com a presença da realizadora, Augusta Conchiglia, ou DIECI GIORNI CON I GUERRIGLIERI DEL MOZAMBICO LIBERO testemunham o militantismo dos italianos que, nas décadas de 60 e 70, combateram o colonialismo dando sequência à luta antifascista iniciada nos anos 40. MADINA BOE, do cubano José Massip, ou PORTOGALLO: PAESE TRANQUILLO, que o catalão Joaquìn Jordà fez a pedido do MPLA, e com produção do Partido Comunista italiano, sendo uma importante antecipação da revolução que se antecipava são obras exemplares do internacionalismo cinematográfico de então. Entretanto, o militantismo italiano manteve-se pós-independências, como atesta NO PINTCHA, feito por Sergio Spina para o PAIGC, apesar da existência de realizadores locais formados. QUEIMADA!, de Gillo Pontecorvo, a encerrar, traduz a noção de que foi impondo: a vitória só seria realmente certa através dos filmes de ficção para grande público.”
Maria do Carmo Piçarra
 
 
10/10/2024, 18h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Independências nos Arquivos Italianos

Maputo | Reconstrução, Educação | No Pintcha
 
11/10/2024, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Independências nos Arquivos Italianos

Queimada!
de Gillo Pontecorvo
Itália, 1969 - 129 min
10/10/2024, 18h30 | Sala Luís de Pina
Independências nos Arquivos Italianos
Maputo | Reconstrução, Educação | No Pintcha
com a presença de Flora Gomes e apresentação de Luca Peretti
MAPUTO
de Elena Bedei
Itália, 1977 – 12 min

RECONSTRUÇÃO, EDUCAÇÃO
de Serge Michel, Florentino Flora Gomes,
Sana na N’Hada, José Bolama, Josefina Crato
Guiné-Bissau, 1977 – 25 min

NO PINTCHA
de Sergio Spina
Guiné-Bissau, 1979 – 50 min

duração total da projeção: 87 min
legendados eletronicamente em português | M/12

Esta sessão, que junta três filmes realizados após as independências de Moçambique e Guiné-Bissau, abre com MAPUTO, de Elena Bedei, que documenta o quotidiano na capital de Moçambique pouco depois da independência. Filme recentemente descoberto no Archivio Audiovisivo del Movimento Operaio e Democratico, RECONSTRUÇÃO, EDUCAÇÃO documenta o encontro, em Bissau, dos ministros da Educação das ex-colónias portuguesas para, com o conselho do educador e filósofo brasileiro Paulo Freire, presente, pensar na formação a implementar observando os princípios da Pedagogia do Oprimido. Assinado coletivamente, teve maior envolvimento de Flora Gomes. Já com produção do Instituto Nacional do Cinema da Guiné, NO PINTCHA (1979) foi realizado pelo italiano Sergio Spina durante o 3º Congresso da Independência para a Unidade e o Desenvolvimento. É outro olhar, sobre o país em construção e o legado de quinhentos anos de colonialismo. A exibir em cópias digitais. MAPUTO é uma primeira apresentação na Cinemateca.
 
consulte a FOLHA da CINEMATECA aqui



 
11/10/2024, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Independências nos Arquivos Italianos
Queimada!
de Gillo Pontecorvo
com Marlon Brando, Evaristo Márquez, Renato Salvatori, Dana Ghia
Itália, 1969 - 129 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Realizado por Gillo Pontecorvo após A BATALHA DE ARGEL, este filme de ficção histórica, cuja ação se passa em meados do século XIX, é protagonizado por Marlon Brando. Sobre ambos, Edward Said (autor de O Orientalismo) afirmou terem criado um padrão estético e político inigualado. Brando considerou a interpretação como agente britânico com a missão de pôr fim à administração colonial portuguesa de Queimada, nas Antilhas, promovendo a revolta dos escravos que trabalham nas plantações de cana do açúcar, uma das melhores da sua carreira. A ação de Sir William Walker, bem-sucedida porque este logra convencer o carismático José Dolores (Evaristo Márquez) - um pastor analfabeto descoberto por Pontecorvo, e escolhido em detrimento de Sidney Poitier, que o produtor Alberto Grimaldi queria convidar – a liderar a revolta, culmina num novo regime de exploração por uma companhia britânica. No guião original, Queimada era uma ilha espanhola. A pressão franquista determinou a alteração, pois Portugal tinha menor peso internacional quanto a receitas de bilheteira. A exibir em cópia digital. Primeira apresentação na Cinemateca.

consulte a FOLHA da CINEMATECA aqui