CICLO
FILMar: Paisagens Literárias e Marítimas


No decorrer do processo de inventariação e identificação dos títulos que poderiam ser incluídos na lista de filmes a digitalizar no âmbito do projeto FILMar, onde o mar foi tópico prioritário mas nem sempre com a necessidade de ser centralizador ou excludente, seguiram-se diferentes critérios. Em muitos casos, criaram-se oportunidades de diálogo entre curtas e longas-metragens com a mesma assinatura, ou versando sobre o mesmo território, sublinhando-se alterações ou continuidades, através de uma cinematografia feita de intensos escapes aos ditames do regime, ou concebendo uma leitura mais ampla que perspetivava relações entre respostas a encomendas institucionais e experimentalismos e inovações de futuros autores, muitos deles em início de percurso, ou em necessidade de trabalho. A amplitude de respostas contribuiu, por isso, para um aprofundar da nossa relação com o mar, através do cinema e é isso que temos vindo a apresentar ao longo dos últimos três anos na Cinemateca e, de forma mais intensa desde fevereiro, em mais de 30 localidades em Portugal. O foco a que nos dedicamos em março – completando uma programação que encontra o FILMar noutras secções da oferta mensal (Cinemateca Júnior, retrospetiva Augusto Cabrita) – reúne um conjunto de longas-metragens que resultam de adaptações para o cinema de obras literárias , continuando um trabalho que inclui títulos já aqui apresentados e agora a circular pelo país.  Acrescentamos a cada escolha uma curta-metragem que serve de comentário real à ficção de cada longa-metragem, num exercício de leitura do cinema enquanto espelho da paisagem e da sua mutabilidade retórica. As sessões serão todas comentadas por convidados especiais, e apresentadas em novas cópias digitais, realizadas pela Cinemateca Portuguesa no âmbito do programa Cultura dos EEAGrants, operacionalizado por Património Cultural, I.P.
 
 
25/03/2024, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo FILMar: Paisagens Literárias e Marítimas

Sanatório do Outão | Aparelho Voador a Baixa Altitude
duração total da projeção: 94 min | M/12
 
26/03/2024, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo FILMar: Paisagens Literárias e Marítimas

Cabo Verde: São Vicente, Santo Antão | Os Flagelados do Vento Leste
duração total da projeção: 113 min | M/12
27/03/2024, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo FILMar: Paisagens Literárias e Marítimas

Retratos dos das Margens do Rio Lis | Histórias Selvagens
duração total da projeção: 112 min | M/12
28/03/2024, 19h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo FILMar: Paisagens Literárias e Marítimas

Impressões da Figueira da Foz | Sinais de Vida
duração total da projeção: 84 min | M/12
25/03/2024, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
FILMar: Paisagens Literárias e Marítimas
Sanatório do Outão | Aparelho Voador a Baixa Altitude
duração total da projeção: 94 min | M/12
SANATÓRIO DO OUTÃO
de Virgílio Nunes
Portugal, 1930 – 12 min

APARELHO VOADOR A BAIXA ALTITUDE
de Solveig Nordlund
com Margarida Marinho, Miguel Guilherme, Rui Morrison, Rita Só
Portugal, 2002 - 82 min | M/12

A recente selecção no Festival Internacional de Cinema de Roterdão, onde a nova cópia digital de APARELHO VOADOR A BAIXA ALTITUDE integrou a secção Cinema Regained, permite observar, com mais detalhe, a permanente atualidade do cinema de Solveig Nordlund, realizadora à qual a Cinemateca prestou justa homenagem com uma retrospetiva em 2022 (para além deste filme, o FILMar digitalizou, ainda, ATÉ AMANHÃ, MÁRIO de 1993). O foco particular no corpo da mulher como mal da sociedade, a perseguição ao livre pensamento, a resistência vista como inadequação aos ditames das maiorias auto-proclamadas eram, no final da década de 1970, quando J.G.Ballard escreveu o conto adaptado e transferido, depois, para o Portugal vencedor de distinções internacionais no final do milénio, mas esventrado como as ruínas dos edifícios que expunham as contradições do capitalismo, então como hoje, matéria de ativa e necessária reflexão. Porque o filme de Solveig Nordlund é filmado nas ruínas de Tróia, lugar de refúgio para o casal interpretado por Margarida Marinho e Miguel Guilherme, que procuram sobreviver à ditadura imposta por um regime que determina que os corpos enfermos das crianças devem ser proscritos, mostramos um documentário de 1930, sobre o Sanatório do Outão, instalado em 1900 por iniciativa real numa antiga prisão na Serra da Arrábida, e focado na cura hélio-marítima para a tuberculose, primeiro dedicado a crianças do sexo feminino e, depois, alargado a rapazes e mulheres.

consulte a FOLHA DA CINEMATECA de SETÚBAL SANATÓRIO DO OUTÃO aqui

consulte a FOLHA DA CINEMATECA de APARELHO VOADOR A BAIXA ALTITUDE aqui
26/03/2024, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
FILMar: Paisagens Literárias e Marítimas
Cabo Verde: São Vicente, Santo Antão | Os Flagelados do Vento Leste
duração total da projeção: 113 min | M/12
Sessão com apresentação
CABO VERDE: SÃO VICENTE, SANTO ANTÃO
de Raquel Soeiro de Brito
Portugal, 1961 - 9 min

OS FLAGELADOS DO VENTO LESTE
de António Faria
com Carlos Alhinho, Arciolinda Almeida, Adriano Gonçalves Bana
Portugal, 1989 - 104 min

A partir do romance de Manuel Lopes (1960), o filme de António Faria observa, com argúcia e pungente detalhe, as dificuldades de uma comunidade na ilha de Cabo Verde, assolada pela seca e desesperada pela manutenção de condições básicas de vida. A esperança de que a realidade possa ser diferente no litoral é, no romance e no filme, expectativa trabalhada a partir da confiança entre indivíduos com vontades e ambições distintas, e onde o empenho pessoal e comprometido com uma ética social e laboral parece destinada ao fracasso. A paisagem é personagem central num filme que trabalha a narrativa para lá da metáfora, expondo as consequências das escolhas e do que se assume como impossibilidade. A completar a sessão, um filme-documento de Raquel Soeiro de Brito, que revelámos numa especialíssima sessão em 2023, feito como material de trabalho para o Centro de Estudos Geográficos no mesmo território do filme de António Faria, e essencial para registar a contradição da abundância da paisagem com a realidade das condições de trabalho.

consulte a FOLHA DA CINEMATECA aqui
27/03/2024, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
FILMar: Paisagens Literárias e Marítimas
Retratos dos das Margens do Rio Lis | Histórias Selvagens
duração total da projeção: 112 min | M/12
RETRATOS DOS DAS MARGENS DO RIO LIS
de António Campos
Portugal, 1965 - 10 min

HISTÓRIAS SELVAGENS
de António Campos
com Carlos Bartolomeu, Márcia Breia, Júlio Cardoso, Cremilda Gil, João Lagarto, Glicínia Quartin
Portugal, 1978 - 102 min

O FILMar deu particular destaque ao cinema de António Campos, celebrando o seu centenário em 2022 num conjunto de sessões pelo país e, neste mês de março, dedicando-lhe uma retrospetiva em colaboração com o MiMo – Museu da Imagem em Movimento, em Leiria, de onde era natural, e o Cinema Ideal, em Lisboa. Nesta sessão escolhemos a adaptação que o realizador fez dos contos de António Passos Coelho (1963), e a partir dos quais o etnográfico e a ficção se confundem num exercício narrativo onde atores profissionais e comunidade se transformam em personagens que são extensões da paisagem do rio Mondego. Uma vez mais, a realidade que parece interessar a António Campos ultrapassa as fronteiras do tempo, antes apostando numa fusão entre corpos e geografia, numa dependência que surge como ancestral. A narrativa que se vai desenvolvendo, é observada com atenta minúcia por um realizador que fez do país um laboratório social, para o qual o cinema é convocado como lente de ampliação. A completar a sessão, um outro filme de Campos, sobre as gentes de um outro rio que conheceu bem, o Lis, prolongando uma teia de relações entre natureza e ação humana que estruturou o seu cinema, à margem das estéticas e das escolas que haveriam de ajudar a refazer a nossa relação com o cinema, nas décadas de 1960 e 1970.

consulte a FOLHA DA CINEMATECA de RETRATOS DOS DAS MARGENS DO RIO LIS aqui
 
consulte a FOLHA DA CINEMATECA de HISTÓRIAS SELVAGENS aqui
28/03/2024, 19h30 | Sala Luís de Pina
FILMar: Paisagens Literárias e Marítimas
Impressões da Figueira da Foz | Sinais de Vida
duração total da projeção: 84 min | M/12
Sessão com apresentação
IMPRESSÕES DA FIGUEIRA DA FOZ
de Manuel Toledo
Portugal, 1932 - 8 min

SINAIS DE VIDA
de Luís Filipe Rocha
com Luís Miguel Cintra, Clara Joana, Costa Ferreira
Portugal, 1984 - 76 min

Antes de SINAIS DE FOGO, que Luís Filipe Rocha assinou a partir do romance de Jorge de Sena, houve este SINAIS DE VIDA, documentário sobre as motivações, a perspetiva e as questões de um autor que atravessou o século XX português intrigado com as fronteiras da identidade individual e coletiva, e a possibilidade de resgate que a literatura poderia propor. O documentário aponta as influências, observa as ligações e propõe uma leitura sobre a relação entre memória e pensamento de um autor que formou, pela crítica, escrita e ética, o modo de ver e exigir nacionais. A completar a sessão, um filme sobre a Figueira da Foz, cenário de SINAIS DE FOGO, no período equivalente ao do romance, a década de 1930, a partir do qual a memória de Jorge de Sena ajudou a construir uma outra leitura de um Portugal a iniciar a mais longa ditadura europeia ao mesmo tempo que procurava a modernização e o lazer.

consulte a FOLHA DA CINEMATECA de IMPRESSÕES DA FIGUEIRA DA FOZ aqui

consulte a FOLHA DA CINEMATECA de SINAIS DE VIDA aqui