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Os membros da tripulação de um barco contam longas histórias passadas em terra firme, considerando-se a si mesmos como seres “que não estão nem vivos nem mortos, mas sobrevivem”. A minissérie desenrola-se num estado de suspensão temporal e narrativa e cada um dos seus quatro capítulos se desdobra em outras narrativas, numa estrutura labiríntica típica do cinema de Ruiz. Há cartas escritas com tinta invisível, fantasmas, diálogos com tumbas e tudo termina numa sala de cinema, “lugar onde a realidade morre para renascer na memória, num naufrágio necessário para que os navios da realidade continuem a flutuar”, na série “que retoma o que Ruiz fizera em LES TROIS COURONNES DU MATELOT, com meios mais austeros, porém sem nada perder da sua capacidade lúdica” (Clemente Sabourin). A exibir em cópia digital.

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Neste episódio final de COFRALANDES, o mais abstrato, Ruiz afasta-se da semelhança, ainda que paródica, do documentário de viagem dos capítulos precedentes. Alternam passagens situadas na moderna cidade que é Santiago, diversas sequências situadas numa escola de aldeia (aulas e jogos infantis) e trechos encenados situados no passado, entre os quais um diálogo entre um padre patriota e a sua irmã realista. Também são evocados, através de recortes de jornais, o golpe de Estado de 1973 e os anos Pinochet e o filme chega ao fim com uma inocente melodia tocada ao piano, que é na verdade a canção mais célebre e mais guerreira da revolução francesa, num desenlace nada críptico.

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O primeiro filme realizado em França por Ruiz, poucos meses depois do golpe de Estado de Augusto Pinochet, aborda, inevitavelmente o tema do exílio, mais precisamente a experiência dos numerosos exilados chilenos, de que ele próprio fazia parte. O filme começa com uma epígrafe de Brecht, que também conheceu o exílio: “A melhor escola para a dialética é a emigração. Os dialéticos mais penetrantes são os exilados. As mudanças forçaram-nos a exilar-se e eles só se interessam pelas mudanças. A partir de signos ínfimos deduzem os acontecimentos mais fabulosos”. O filme é composto pelas amargas lembranças de exilados chilenos, que continuam a reviver no exílio a experiência da Unidade Popular, sem esquecer nem superar os antagonismos que os opunham no Chile. O acontecimento central é o sequestro de um cantor pop chileno de visita a Paris para “reeducá-lo”, ilustrando o tom algo irónico com que Ruiz aborda o tema, “sem caricatura, mas tão ácido que o espectador é levado a rir” (Marcel Martin). A exibir em cópia digital.

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COLLOQUE DE CHIENS
de Raúl Ruiz
com Eva Simonet e a voz de Robert Darmel
França, 1977 – 22 min

MENSCH VERSTREUT UND WELT VERKEHRT
“O Corpo Disperso e o Mundo às Avessas”
de Raúl Ruiz
com Eduardo Barr, Fosi Bendek. Germán Leitzelar
República Federal da Alemanha, 1976 – 67 min

COLLOQUE DE CHIENS ilustra a variedade do cinema de Ruiz e a riqueza da sua imaginação. Uma criança é informada pela sua mãe que esta não é a sua verdadeira mãe. Uma vez adulta, vive uma série de aventuras melodramáticas (prostituição, casamento com um homem que quer redimi-la, chantagem, homicídio, prisão), que culminam numa mudança de identidade. A ação é ilustrada por fotografias, numa alusão irónica às fotonovelas e é narrada em off, sendo intercalada com imagens em movimento de cães acorrentados. Eva Simonet faz o papel da protagonista e do seu namorado salvador. Embora renha recebido um César, este é um dos filmes menos vistos de Ruiz, que surge brevemente na imagem, no papel de um bandido. Produzido pela televisão alemã, MENSCH VERSTREUT UND WELT VERKEHRT foi o segundo filme de Ruiz após exilar-se na Europa. Dois caixeiros-viajantes percorrem um país latino-americano em busca de um colega desaparecido e encontram repetidamente pessoas que vivem situações que desafiam o sentido comum. O título originalmente previsto era UTOPIA, NOTAS SOBRE UMA EXPECTATIVA, porque Ruiz queria “mostrar as minhas lembranças e as minhas expectativas para um filme utopista, situado num país latino-americano. Quando tentámos imaginar o mundo latino-americano ideal os atores descambaram para o melodrama tradicional que se encontra no cinema, mas também na televisão e nas ruas da América Latina”. Ruiz parodia e satiriza em especial a telenovela mexicana de 1972 HERMANOS CORAJE (feita a partir uma telenovela brasileira homónima), “conhecida em toda a América Latina e uma verdadeira enciclopédia do culto à volta do homem latino-americano”. Este é um dos seus trabalhos mais raramente vistos.

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