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Assunto: programação
Data: 21/10/2019
PARTITURA ORIGINAL INTERPRETADA AO VIVO PELOS SOLISTAS DA METROPOLITANA
PARTITURA ORIGINAL  INTERPRETADA AO VIVO PELOS SOLISTAS DA METROPOLITANA
A partitura original do compositor Armando Leça (1891-1977), propositadamente escrita para o filme mudo português “A Rosa do Adro” (1919) será interpretada ao vivo pelos Solistas da Metropolitana, na Cinemateca, no próximo dia 26 de outubro, às 21h30, no ano do centenário da estreia deste filme. A partitura de Armando Leça foi reconstituída por uma equipa de musicólogos da NOVA FCSH, no contexto de um projeto de investigação do Instituto de Etnomusicologia – Centro de Estudos em Música e Dança (INET-md). Esta sessão associa-se aos eventos que, por todo o mundo, assinalarão o Dia Mundial do Património Audiovisual (27 de outubro), data que celebra o aniversário da “Recomendação para a Salvaguarda do Património Audiovisual”, documento publicado originalmente pela UNESCO em 27 de outubro de 1980 e que reconheceu o cinema, pela primeira vez, como parte do património cultural da humanidade.
 
“A Rosa do Adro”, realizada por Georges Pallu em 1919, foi a primeira longa-metragem de ficção da Invicta Film. Adaptação do romance homónimo de Manuel Maria Rodrigues, “A Rosa do Adro” conta a história de um triângulo amoroso no Portugal rural do século XIX e foi interpretada por Maria Oliveira (Rosa), Carlos Santos (António) e Erico Braga (Fernando). Seria novamente adaptado ao cinema por Chianca de Garcia, em 1938. 
 
Além de “A Rosa do Adro”, os filmes “Os Fidalgos da Casa Mourisca” (1920) e “Amor de Perdição” (1921) tiveram igualmente partituras originais compostas por Armando Leça, as quais serão também interpretadas ao vivo por solistas da Orquestra Metropolitana de Lisboa em sessões que assinalarão os respetivos centenários das estreias destas obras da Invicta Film em 2020 e 2021.
 
A partitura de Armando Leça para o filme "A Rosa do Adro" apresenta-se como uma "estilização de cantos e bailados" do Douro-Litoral, inserindo-se assim no projeto iniciado pela Invicta Film de construção de um cinema "tipicamente português". O trabalho de reconstituição da partitura desenvolvido pelo INET-md foi efetuado a partir da única fonte localizada, uma cópia manuscrita realizada em 1919 por José Gomes da Silva, músico da banda da GNR, e que se encontra conservada no arquivo de música escrita da RDP.  Esta partitura, dividida em cinco partes, corresponde à versão original de "A Rosa do Adro", que contava com cerca de 2.000 metros de filme. Depois de transcrita e editada, a partitura foi adaptada à única cópia existente do filme, dividida em quatro partes e significativamente mais curta (1.728 metros).
 
O trabalho de digitalização do filme, reconstituição da partitura e sua interpretação ao vivo é o resultado de uma parceria institucional entre a Cinemateca, o Instituto de Etnomusicologia – Centro de Música e Dança da NOVA FCSH e a Orquestra Metropolitana de Lisboa.
 
A projeção de “A Rosa do Adro” assinala, ainda, o início do projeto de digitalização e edição em DVD dos filmes mudos produzidos pela Invicta Film, a mais importante e mais prolixa companhia cinematográfica portuguesa do período do cinema mudo. Além de “A Rosa do Adro”, “Os Fidalgos da Casa Mourisca” (1920) e “Amor de Perdição” (1921), serão ainda digitalizados e editados em DVD com novas partituras encomendadas a Filipe Raposo e Nicholas McNair, compositores especializados no acompanhamento de cinema mudo, os filmes “Frei Bonifácio” (1918), “Barbanegra” (1920), “O Destino” (1922), “O Primo Basílio” (1923), “Cláudia” (1923) e “Lucros... ilícitos” (1923), todos realizados por Georges Pallu — além de “Mulheres da Beira” (Rino Lupo, 1922), que já foi editado em DVD pela Cinemateca com uma partitura original de Nicholas McNair. Todos os filmes ficarão igualmente disponíveis em cópias digitais de alta definição em formato DCP, com os respetivos acompanhamentos musicais, para empréstimos para sessões não-comerciais em Portugal e no estrangeiro. Este projeto tem a sua conclusão prevista para 2023. 
Programa musical detalhado:
 
Armando Leça (1891-1977) – Música para o filme “A Rosa do Adro”, de Georges Pallu (1919)
 
    I. Modalidade Regional
    II. Modinhas de Roda
    III. Lirismo
    IV. Religiosidade e Dolência
    V. Cantares e Bailados
 
Transcrição e edição: Bárbara Carvalho
Revisão: Manuel Deniz Silva
Adaptação da partitura à cópia existente do filme: Bárbara Carvalho e Manuel Deniz Silva
 
Solistas da Metropolitana:
José Pereira, Joana Dias (violinos)
Joana Nunes (viola)
Catarina Gonçalves (violoncelo)
Vladimir Kouznetsov (contrabaixo)
Francisco Sassetti (piano)
 
A Rosa do Adro
de Georges Pallu
com Maria de Oliveira, Erico Braga, Carlos Santos, Etelvina Serra, Duarte Silva
Portugal, 1919 - 76 min
Mudo, intertítulos em francês traduzidos eletronicamente em português | M/6
Cópia DCP 2K (nova digitalização a partir de um interpositivo de imagem conservado pela Cinemateca)
 
Aquela que pode ser considerada a primeira longa-metragem de ficção do cinema português (no sentido que foi atribuído à expressão a partir de inícios ou meados da década de dez do século XX) marcou também o salto para esta dimensão da produção da Invicta e da própria obra de Georges Pallu, que ali fizera já no ano anterior o mais curto FREI BONIFÁCIO, a seguir a um arranque de carreira em França também com metragens muito inferiores. Ao contrário do precedente, não foi porém um salto de pouca relevância ou de mero âmbito técnico ou de produção. Avançando agora enfaticamente com o famoso lema “Romance português – filme português – cenas portuguesas – artistas portugueses” (o slogan publicitário criado por Raul de Caldevilla, cuja realidade convivia então ironicamente com o recurso a um realizador e a técnicos estrangeiros), este é um filme assinalável a muitos níveis, a propósito do qual João Bénard da Costa escreveu que “as próprias incongruências da história acentuam (…) o caráter onírico e singular que torna a ROSA DO ADRO (…) num dos filmes mais interessantes da Invicta e de Pallu”. O filme é adaptado do romance homónimo oitocentista de Manuel de Maria Rodrigues (transpondo a história original dos inícios do século XIX para os inícios do século XX), e foi ainda João Bénard da Costa que nele salientou aquilo que hoje em dia pode ser visto como “um certo lado inocentemente perverso ou perversamente inocente que caracteriza o enlace triangular” das personagens principais.