O Festival Internacional de Cinema de Roterdão selecionou, para a secção Cinema Regained, dedicada a filmes de património, a nova cópia digital de APARELHO VOADOR A BAIXA ALTITUDE, filme de Solveig Nordlung, feita pela Cinemateca Portuguesa no âmbito do projeto FILMar, com o apoio do programa EEAGrants 2020-2024.
A estreia contará com a presença da realizadora, e decorrerá no dia 26 de janeiro, seguido de um encontro com o público e imprensa. Haverá uma segunda sessão a 1 de fevereiro, daquele que é um dos mais singulares filmes portugueses, e um dos raros a aventurar-se no território da ficção científica.
Estreado em 2002, no Festival Internacional de cinema de Gotemburgo, APARELHO VOADOR A BAIXA ALTITUDE é inspirado no conto
Low Flying Aircraft do escritor inglês J.G. Ballard, publicado originalmente em 1975. Solveig Nordlund desenvolve aquilo que o programador Ricardo Vieira Lisboa definiu, no
catálogo editado pela Cinemateca, como “um objeto de reflexão sobre os nossos dias”.
Mais do que uma adaptação, APARELHO VOADOR A BAIXA ALTITUDE é uma reinterpretação do texto original de Ballard. Parece interessar à realizadora a forma como a ficção científica pode refletir sobre a construção da ideia de monstro (o outro, o diferente, eles), sobre a autodeterminação das mulheres, sobre a eugenia genética, entre muitas outras questões.
Seguimos um casal, André e Judite Foster, pela paisagem distópica de um futuro próximo em que a população mundial tem vindo a diminuir drasticamente. Todas as novas gravidezes sofrem de uma influência desconhecida que sujeita os bebés a mutações. Estes seres mutantes – chamados de zotes -, são imediatamente visados e eliminados pelas autoridades. Judite está agora grávida pela sexta vez, embora nenhum dos seus filhos anteriores tenha sobrevivido. Mas, desta vez, Judite não quer seguir o protocolo do Estado para casos como este e, por isso, foge com o marido para se esconder num hotel degradado perto do mar, onde Gould, um médico especialista, talvez os possa ajudar.
Como explica Nordlund numa entrevista na altura da estreia em 2002 ao jornal Diário de Notícias: "Na história de Ballard, tudo é descrito do ponto de vista do marido (...). Centrei a história na mulher, nos seus medos e desejos", acrescentando que "quando fiz o filme, pensei muito nos pais que querem criar os filhos como cópias de si próprios e não vêem a beleza da diferença".