No próximo dia 22 de julho, na aldeia da Curalha, em sessão especial dedicada à população da localidade onde a obra foi rodada, exibe-se o filme O ACTO DA PRIMAVERA, de Manoel de Oliveira, de 1963.
Partindo de uma iniciativa local, a sessão é pensada e organizada em colaboração com a Associação de Desenvolvimento Local de Curalha – CASTRUM, e conta com o apoio da Junta de Freguesia de Curalha, do Município de Chaves e da distribuidora LuxBox.
ACTO DA PRIMAVERA regista uma antiga representação popular do Auto da Paixão de Cristo pelos habitantes da Curalha, aldeia do concelho de Chaves. O projeto surgiu durante a preparação do documentário O PÃO, entre 1958 e 1959, quando o realizador percorria a região em busca de moinhos de vento que servissem de cenário para esse filme. Surpreendido por três cruzes de madeira erguidas junto à estrada, foi-lhe dito que eram cenário da referida festa popular.
Acontecendo todos os anos pela Primavera, a representação do Auto envolvia a participação ativa dos habitantes da aldeia, que interpretavam os personagens bíblicos relacionados. Os ensaios e as encenações aconteciam ao ar livre, nas ruas e campos da aldeia, e a tradição tinha um papel significativo na vida da comunidade.
Interessado em fixar esta representação através do cinema, Oliveira volta à aldeia um ano depois, tendo decidido, pelas suas próprias palavras, “por uma forma de compromisso entre o documentário e a ficção, através do qual pudesse transmitir melhor a força deste espetáculo e todo o calor humano que dele irradiava, e que tanto me tinham impressionado”. Indo para além do simples registo, o realizador explora as dimensões metafóricas e simbólicas do ato religioso, abordando questões mais profundas sobre a condição humana.
A cópia exibida resulta de um trabalho de digitalização realizado pela Cinemateca Portuguesa, sendo a imagem digitalizada a partir do negativo de câmara original de 35mm e o som a partir da banda ótica de um positivo de som de 35mm, produzido aquando da preservação do filme pela Cinemateca em 2008.
No próprio dia, previamente à exibição do filme, a Cinemateca Portuguesa e a Associação CASTRUM organizam um roteiro guiado pelos locais originais de rodagem, reaproximando a história do cinema ao território de hoje.
Este programa está integrado na ação de difusão cultural no âmbito do Plano de Digitalização do Cinema Português da Cinemateca Portuguesa, que visa descentralizar o acesso ao património cinematográfico português, estimulando iniciativas locais de exibição e reflexão sobre cinema.