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Assunto: Exibição
Data: 18/12/2023
APARELHO VOADOR A BAIXA ALTITUDE, no Festival de Roterdão, em nova cópia digital, pela Cinemateca Portuguesa
APARELHO VOADOR A BAIXA ALTITUDE, no Festival de Roterdão, em nova cópia digital, pela Cinemateca Portuguesa
A Cinemateca Portuguesa tem o prazer de anunciar que o filme APARELHO VOADOR A BAIXA ALTITUDE, de Solveig Nordlund, foi selecionado para a próxima edição do Festival Internacional de Cinema de Roterdão, onde integrará a secção Cinema Regained. O festival decorrerá entre 24 de janeiro e 4 de fevereiro 2024, em Roterdão.
 
Estreado em 2002, o filme da realizadora sueca há várias décadas um dos nomes mais importantes do cinema português, será apresentado numa nova cópia digital 4k, produzida no âmbito do projeto FILMar, com o apoio do programa EEAGrants 2020-2024.
 
O filme adapta o conto Low-Flying Aircraft, do escritor inglês J.G. Ballard, publicado originalmente em 1975 e reunido, um ano depois, na coletânea Low-Flying Aircraft and Other Stories, onde a população mundial está em risco de desaparecimento, perante o crescente alarme social provocado pelo aumento de nascimentos de bebés com deformações genéticas. Adaptado por Solveig Nordlung, em colaboração com Jeanne Waltz e Colin Tucker, o filme desenvolve-se propondo um universo distópico, mas identificável, que “navega entre banalidades quase risíveis e ruínas quase familiares, apontando para a elevada probabilidade de estarmos a criar os alicerces de um mundo muito parecido com o que ali se ficciona”, como escreveu Regina Guimarães (2010).
 
O filme é “um objeto de reflexão sobre os nossos dias” (Ricardo Vieira Lisboa, 2018), interpretado por Margarida Marinho que, na altura da estreia, foi nomeada para o Globo de Ouro SIC/Caras para melhor atriz, e por Miguel Guilherme e Rita Só. No elenco de atores secundários encontramos, ainda, Isabel de Castro, Rui Morrisson e Canto e Castro. A história gira em torno de um casal que, após inúmeras tentativas falhadas de ter filhos, decide fugir para longe e vai para um hotel que está deserto, exceto para o punhado de excêntricos que lá vivem. Ambientado nas ruínas do complexo hoteleiro da Torralta, em Tróia, a aterradora distopia de Ballard encontra, na leitura proposta por Solveig Nordlund, uma dimensão feminista, onde o direito à reprodução surge como elemento central para enfrentar políticas de repressão.
 
Previdente fábula sobre a sociedade contemporânea, APARELHO VOADOR EM BAIXA ALTITUDE estreou em 2002 numa produção da Filmes do Tejo, de Maria João Mayer e François de Artemare, tendo sido selecionado para o Brussels International Festival of Fantasy (Bélgica), Goteborg Film Festival (Suécia), Festival International du Cinèma au Féminin de Bordeaux (França), Cairo International Film Festival (Egito) e Utopiales de Nantes (França).
 
A nova cópia digital permitirá redescobrir, e colocar em diálogo com o cinema atual, um filme que observa e especula sobre as relações humanas, as estratégias de sobrevivência e a os valores éticos e morais a que estaremos dispostos a abdicar. Numa crítica ao filme, no jornal Expresso, Jorge Leitão Ramos falava de “uma história de egoísmo, pois os sobreviventes só querem manter-se vivos – nas tintas que o futuro tenha qualquer hipótese”, sublinhando tratar-se, também de “uma história de esperança, pois sempre haverá quem resista e trace as estradas por onde esse futuro há de passar”.
 
O filme regressará às salas nacionais, com o apoio do projeto FILMar, estando a estreia da nova cópia marcada para o dia 7 de fevereiro, no Batalha Centro de Cinema, no Porto, dia em que o filme se apresentará, também na Cinemateca de Oslo, parceira da Cinemateca Portuguesa no desenvolvimento do programa de digitalização e difusão do património fílmico. Estão já previstas outras sessões, a anunciar no final de janeiro.
 
Depois de AS ILHAS ENCANTADAS, de Carlos Vilardebó (1965), selecionado para o Festival Lumière – e que chegará às salas nacionais a 1 de fevereiro de 2024 –, este é o segundo filme digitalizado pela Cinemateca Portuguesa, no âmbito do projeto FILMar, a ser selecionado para um festival internacional. Esta seleção sublinha a importância da descoberta do cinema português como parte integrante de um património mais vasto, e em diálogo estreito com as principais questões contemporâneas, mas também o reconhecimento da qualidade do trabalho de preservação, restauro e digitalização que a Cinemateca tem vindo a desenvolver nos últimos anos.
 
O projeto FILMar é desenvolvido pela Cinemateca Portuguesa, no âmbito do Mecanismo Financeiro Europeu EEAGrants 2020-2024, operacionalizado pela Direção-geral do Património Cultural enquanto Operador de Programa. Em articulação com o Norsk Film Institut, em Oslo, tem por objetivo a identificação, digitalização e difusão do património fílmico relacionado com o mar.
 
Em 2022 a Cinemateca Portuguesa dedicou uma retrospetiva ao trabalho da realizadora Solveig Nordlund, sobre o qual foi editado um catálogo. Radicada em Portugal desde a década de 1970, Solveig Nordlund (Estocolomo, 1943) começou a realizar participou do movimento pioneiro de um novo cinema português, através do trabalho coletivo nas cooperativas Cinequipa e Grupo Zero. Para além de vários documentários, assinou as ficções NEM PÁSSARO NEM PEIXE (1977), DINA E DJANGO (1981), ATÉ AMANHÃ, MÁRIO (1993) – também digitalizado no âmbito do projeto FILMar –, COMÉDIA INFANTIL (1997), A FILHA (2003) e A MORTE DE CARLOS GARDEL (2011). O seu último filme, de 2023, é um documentário de curta-duração intitulado MARGARETA PETRÉ ARTISTA EM NORDINGRA. Para além de realizadora, Solveig Nordlund encenou vários espetáculos, produzidos pelo Centro Cultural de Belém, Artistas Unidos, Companhia de Teatro de Almada e Teatro Nacional D. Maria II.