É verdade que António Pinheiro gozava de enorme reputação no mundo teatral, como actor e encenador consagrado há mais de vinte anos, sendo professor de Estética e Plástica Teatral e, mais recentemente, de Arte de Representar. O sindicalismo que reformulou e consolidou para os seus pares e o pouco ou nenhum reconhecimento dos mesmos; o estado a que chegava por estes anos a situação do Teatro Nacional D. Maria II a que se dedicara de corpo e alma como director de cena; ainda a falta de reconhecimento no impulso que dera como encenador dos primeiros trabalhos da ainda jovem Companhia Rey Colaço Robles Monteiro, são alguns motivos que levam António Pinheiro a entusiasmar-se pelo cinema. Alguma imprensa ventilava mesmo o seu abandono do Teatro em favor do Cinema, sugerindo que a este se dedicaria em exclusivo.
Não abandonou o Teatro, mas Pinheiro faria no total 10 filmes para a Invicta como actor, realizando dois deles e assumindo em vários a função de director de actores. Sendo este o primeiro – e viria a ser o único – em que Pinheiro encarna o protagonista, entende-se que o cartaz de promoção do filme apostasse todas as fichas na sua figura, representando o avarento banqueiro Carlos Gold. A produtora Invicta Film, financeiramente depauperada, não foi salva por este filme, antes pelo contrário. Citando João Bénard da Costa: “É, sem favor, o pior dos filmes da Invicta”. Uma injeção financeira permitiu a renovação de equipamento, bem como a contratação, para o filme anterior, da jovem Francine Mussey. Mas apesar disso, não há “Francine que o salve”. Diz ainda Bénard da Costa que “a montagem é tão má [nas perseguições] que, em vez de paralela, parece ser concorrente, como se o banqueiro estivesse a fazer de propósito para ser apanhado”.
Os últimos filmes foram feitos no ano seguinte e a empresa, condenada, seria dissolvida em 1931. Por entre a documentação que resistiu aos anos, o cartaz sobrevive como obra mais bem conseguida que o filme que lhe diz respeito.
Luís Gameiro
Tipologia documental: Cartaz
Impressão: Gráfica do Bolhão, Porto
Dim. 135x90 cm
BIBLIOGRAFIA:
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- SAMARA, Maria Alice / BAPTISTA, Tiago,
Os Cartazes na Primeira República, Tinta-da-China, Lisboa, 2010.
- STEVENS, Isabel, “Revolution in Design”, in Sight & Sound, nº 2, fevereiro 2014.
SITIOGRAFIA:
www.fffmovieposters.com , Janeiro 2022.
www.postercollector.co.uk, Janeiro 2022.