Na próxima semana a Cinemateca acolhe mais uma série de sessões-conferência da rubrica Histórias do Cinema. Em novembro, as atenções vão estar concentradas no trabalho da Art Theatre Guild (ATG), produtora fundamental do cinema feito no Japão a partir de meados dos anos 1960, contraponto aos estúdios tradicionais (os todo-poderosos Toho, Shochiku, Daiei, Nikkatsu, Toei e Shintoho).
Apresentadas pelo investigador e programador Miguel Patrício, provavelmente um dos maiores especialistas de cinema japonês da atualidade (um dos responsáveis, com a The Stone and The Plot, pelos ciclos Mestres Japoneses Desconhecidos), as sessões-conferência irão trazer à Cinemateca uma perspetiva alternativa do cinema feito no Japão, diferente do trabalho de nomes como Kurosawa, Ozu, Mizoguchi ou Naruse, para nos focarmos apenas nos principais realizadores do país e nos mais conhecidos no Ocidente.
Fundada em novembro de 1961, a ATG iniciou o seu trabalho como distribuidora de filmes estrangeiros no Japão, exibidos em pequenas salas fora do circuito mais comercial, com o objetivo de levar ao público títulos de ‘arte e ensaio’, tendo um papel fundamental em trazer pela primeira vez para o país alguns filmes de cinema de autor. No final da década foi a vez de passar à produção, em parceria com produtoras independentes. Foi destas parcerias que saíram dois dos primeiros filmes da ATG: NINGEN JOHATSU (1967), de Shohei Imamura, e KOSHIKEI / O ENFORCAMENTO (1968), de Nagisa Oshima (filme que será exibido na primeira sessão, a 25 de novembro).
Foi o ponto de partida para uma nova geração de cineastas, com pouco espaço para dar asas à sua criatividade nos grandes estúdios, que aí começaram a assinar alguns dos títulos mais desafiadores e radicais do cinema japonês, tanto a nível temático como formal, sobretudo no final dos anos 1960 e início dos anos 1970. «A ATG tornou-se uma facilitadora das ambições estéticas da geração da nuberu bagu (nova vaga japonesa), representando também o último bastião do seu projeto cinematográfico - se quisermos, um último banzai, antes que este começasse a perder fôlego na segunda metade dos anos 70, mesmo tendo a ATG continuado a sua atividade como produtora ao longo da década de 80, sob outros pressupostos e com outra geração mais nova de cineastas assumindo as rédeas», explica Miguel Patrício.
Para o investigador «este capítulo da rubrica “Histórias do Cinema”, que também poderia ser cunhado de “ATG: das paredes do estúdio ao asfalto das ruas”, indaga a possibilidade de haver neste corpus uma verdadeira assinatura de produção que ultrapassa a visão de cada cineasta individual.» Embarquemos nesta aventura, com cinco filmes e outras tantas discussões em torno de uma autêntica perspetiva alternativa do cinema japonês.
Calendário das sessões
25/11/2024, 18h00 | Sala M. Félix Ribeiro
KOSHIKEI
O Enforcamento
Nagisa Oshima, 1968
26/11/2024, 18h00 | Sala M. Félix Ribeiro
SHINJU: TEN NO AMIJIMA
“Duplo Suicídio em Amijima”
Masahiro Shinoda, 1969
27/11/2024, 18h00 | Sala M. Félix Ribeiro
SHO O SUTEYO MACHI E DEYOU
“Deitem Fora os Vossos Livros, Vão para as Ruas”
Shuji Terayama, 1971
28/11/2024, 18h00 | Sala M. Félix Ribeiro
MUJO
“Mujo: Esta Vida Transiente”
Akio Jissoji, 1970
29/11/2024, 18h00 | Sala M. Félix Ribeiro
DEN-EN NI SHISU
“Pastoral: Morrer no Campo”
Shuji Terayama, 1974