Continuamos a percorrer a paisagem clássica, original e originária, do faroeste, pontuando o primeiro momento de luto dedicado ao western com obras-primas tardias e crepusculares de John Ford, a saber: THE SEARCHERS, THE MAN WHO SHOT LIBERTY VALANCE e CHEYENNE AUTUMN. Para mais, ativam o modo de despedida ao género, relativamente a alguns dos principais condimentos que o tornaram tão popular nos anos precedentes em Hollywood, os filmes série B densamente desencantados, estoicos e de propensão cósmica de Budd Boetticher com Randolph Scott (tanto RIDE LONESOME quanto COMANCHE STATION). Neste particular, destacam-se ainda: MAN OF THE WEST de Anthony Mann, versando sobre um certo “fim de um mundo”; NO NAME ON THE BULLET de Jack Arnold, grande western paranoico hoje algo esquecido e o gélido DAY OF THE OUTLAW de André De Toth, o mais “dreyeriano” dos “filmes de cowboys”. Para mais, RIO BRAVO de Howard Hawks ou o subestimado GUNMAN’S WALK de Phil Karlson participam nitidamente nesta fase amadurecida do género, em que as palavras e os sentimentos doem mais do que as balas e o whiskey caindo em estômago vazio.
Como quem põe o dedo na ferida, adensam-se aqui questões como a representação do “outro” (THE SEARCHERS, claro, mas, acima de tudo, a provocadora obra de Gordon Douglas, RIO CONCHOS, em que soldados renegados a combater pelo Sul se conluiam com os nativos apaches contra os intentos do Norte unionista: afinal, quem é o inimigo?) ou o papel das mulheres (Angie Dickinson em RIO BRAVO e Barbara Stanwyck em FORTY GUNS são rápidas e mortais seguindo a lei da bala ou do coração). Mas talvez todo o spleen se possa sintetizar no gesto final de John Wayne em THE SEARCHERS, de homenagem ao falecido Harry Carey, o primeiro alter ego de John Ford, no período do mudo, quando o western ainda era um género (que se arrogava) inocente.