CICLO
Raul de Caldevilla


Por ocasião da exposição “Raul de Caldevilla – Vida e Obra”, realizada na Sociedade Nacional de Belas Artes, homenageamos em três sessões a personalidade de Raul Caldevilla (1877-1951), uma das figuras mais importantes e originais dos primórdios do cinema português. Filho de espanhóis, nascido no Porto, Caldevilla foi uma personalidade multifacetada, que exerceu diversos ofícios, inclusive no cinema, domínio em que foi realizador, argumentista, publicitário, produtor e distribuidor. Depois de estudos numa escola de comércio, Caldevilla foi nomeado agente consular em Espanha e posteriormente na Argentina, onde parece ter obtido algum êxito na venda de vinhos portugueses. De regresso a Portugal, fundou a primeira agência publicitária do país, o que faz dele o pioneiro absoluto da publicidade em Portugal, de início em jornais do Porto. E foi através da publicidade que Caldevilla chegou ao cinema, ao fazer os folhetos publicitários da Invicta Filmes, uma das primeiras produtoras de cinema ambiciosas a terem sido fundadas em Portugal. Em 1916, Caldevilla funda a Caldevilla Film e, depois de visitar alguns centros de produção de cinema na Europa, contrata dois realizadores em França, Georges Pallu e Maurice Mariaud, além de alguns técnicos, que se instalam no Porto. Em 1917, Caldevilla realiza um brilhante filme publicitário, que se tornou um clássico do cinema mudo português: UM CHÁ NAS NUVENS. A Caldevilla Film, além de diversos documentos sobre paisagens e regiões portuguesas, produzirá títulos como A ROSA DO ADRO, BARBANEGRA, OS FIDALGOS DA CASA MOURISCA e AMOR DE PERDIÇÃO, de Georges Pallu, AMOR FATAL, OS FAROLEIROS e AS PUPILAS DO SENHOR REITOR, ambos de Maurice Mariaud. Caldevilla também escreveu o argumento de FADO (Maurice Mariaud, 1923), o primeiro filme em que entra este género musical e no qual é reproduzido o célebre quadro epónimo de José Malhoa. Estes são inegavelmente filmes feitos com ambição de qualidade e a vontade de colocar a produção portuguesa no mercado internacional, o que não aconteceria. A Caldevilla Film também distribuiria obras de outras produtoras, como O RAID LISBOA-RIO DE JANEIRO, sobre a viagem de Gago Coutinho e Sacadura Cabral. Mas a carreira cinematográfica de Raul Caldevilla durou apenas sete anos: iniciada com UM CHÁ NAS JUVENS, teve fim em 1924, depois da estreia de FADO, pondo fim a todo um ciclo da história do cinema português. Diversas facetas da personalidade de Raul Caldevilla serão mostradas ao longo destes três programas. Todas as sessões têm acompanhamento ao piano.
 
23/01/2018, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Raul de Caldevilla

Um Chá nas Nuvens/Escalada à Torre dos Clérigos | Entre-os-Rios | Os Faroleiros
duração total da projeção: 87 min | M/12
25/01/2018, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Raul de Caldevilla

O 9 d’Abril | A Rosa do Adro
duração total da projeção: 101 min | M/12
 
29/01/2018, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Raul de Caldevilla

As Pupilas do Senhor Reitor
de Maurice Mariaud
Portugal, 1923 - 141 min
 
23/01/2018, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Raul de Caldevilla

Em colaboração com a Academia Portuguesa de Cinema e com o Museu da Publicidade
Um Chá nas Nuvens/Escalada à Torre dos Clérigos | Entre-os-Rios | Os Faroleiros
duração total da projeção: 87 min | M/12
Com acompanhamento ao piano por Daniel Schvetz
UM CHÁ NAS NUVENS / ESCALADA À TORRE DOS CLÉRIGOS
de Raul de Caldevilla
Portugal, 1917 – 10 min / mudo
ENTRE-OS-RIOS
de autor não identificado
Portugal, 1922 – 5 min / mudo
OS FAROLEIROS
de Maurice Mariaud
com Maurice Mariaud, A. Castro Neves, Abgaída de Almeida
Portugal, 1922 – 72 min / mudo, com intertítulos em português

A sessão começa com um célebre e brilhante filme publicitário de Raul Caldevilla, que documenta um happening publicitário: dois acrobatas escalam a Torre dos Clérigos, no Porto, onde tomam chá e comem bolachas Invicta, antes de lançarem folhetos publicitários lá do alto. ENTRE-OS-RIOS é um dos muitos documentários sobre terras e paisagens portuguesas produzidos pela Caldevilla Film. OS FAROLEIROS é um dos filmes mais ambiciosos a terem sido produzidos em Portugal neste período. Filmado em estúdio e em cenários naturais (Guincho, Cabo da Roca, Caparica) pelo recém-chegado Maurice Mariaud, que realiza e interpreta, OS FAROLEIROS, um drama com três personagens, foi durante muito tempo considerado como uma “obra-prima desaparecida”. Não é, mas é um curioso exemplo de melodrama “verista” do cinema mudo português.
 
25/01/2018, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Raul de Caldevilla

Em colaboração com a Academia Portuguesa de Cinema e com o Museu da Publicidade
O 9 d’Abril | A Rosa do Adro
duração total da projeção: 101 min | M/12
Com acompanhamento ao piano por João Paulo Esteves da Silva
O 9 D’ABRIL
de autor não identificado
Portugal, 1921 – 25 min / mudo
A ROSA DO ADRO
de Georges Pallu
com Maria de Oliveira, Erico Braga, Carlos Santos, Etelvina Serra, Duarte Silva
Portugal, 1919 – 76 min / mudo, intertítulos em francês traduzidos eletronicamente em português

A abrir a sessão, um documento sobre a homenagem prestada aos milhares de soldados portugueses mortos na batalha de Armentières, no norte de França, a 9 de abril de 1914, com a presença do Presidente Afonso Costa e do Marechal Joffre, culminando com uma cerimónia no Mosteiro da Batalha, em que estão presentes algumas das mães das vítimas. Na sua adaptação do romance de Manuel Maria Rodrigues, A ROSA DO ADRO, Pallu mantém o tom fatalista daquele e apresenta Maria de Oliveira no papel de Rosa, primeira das "atrizes efémeras" do cinema português. Entre 1919 e 1921 ela voltaria a trabalhar com Pallu, Maurice Mariaud e Augusto Lacerda. A ROSA DO ADRO foi o segundo filme realizado por Pallu para a Invicta Filmes, depois de FREI BONIFÁCIO (1918) ter aberto esse capítulo. João Bénard da Costa salientou “um certo lado inocentemente perverso ou perversamente inocente que caracteriza o romance triangular” da narrativa, como um dos aspetos mais interessantes do filme.
 
29/01/2018, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Raul de Caldevilla

Em colaboração com a Academia Portuguesa de Cinema e com o Museu da Publicidade
As Pupilas do Senhor Reitor
de Maurice Mariaud
com Maria de Oliveira, Maria Helena, Arthur Duarte, Vasco de Gondomar, Eduardo Brazão
Portugal, 1923 - 141 min
mudo, com intertítulos em português | M/12
Com acompanhamento ao piano por Filipe Raposo
Uma frutuosa incursão de Mariaud por exteriores minhotos, os muito bem utilizados cenários do romance de Júlio Dinis. Mariaud potencia a interpretação dos atores através de várias soluções de encenação em profundidade de campo e dá-nos, neste filme, a mais bucólica das três versões dos amores cruzados de Clara e Pedro, Margarida e Daniel. Os encontros ao entardecer entre os pequenos Daniel e Margarida e a cantiga ao desafio junto ao rio, entre Clara e Pedro, instalam-se já no ambiente dos quadros de José Malhoa, que Mariaud citaria explicitamente em O FADO (também de 1923).