CICLO
O Último dos Loucos - Homenagem a Peter Von Bagh


Realizador de várias dezenas de filmes, crítico, autor de inúmeros livros, responsável pela programação da Cinemateca Finlandesa e durante vários anos diretor da mesma, editor da revista Filmihullu (traduzindo à letra, “Loucos por Cinema”), cofundador, com os irmãos Kaurismaki do mítico Midnight Sun Film Festival e, mais recentemente, diretor artístico do festival Il Cinema Ritrovato em Bolonha. Estas são apenas algumas das muitas atividades que ilustram o trabalho multifacetado de Peter von Bagh (1943-2014) e a dimensão gigantesca de toda uma obra e de uma vida organizadas em torno do cinema e da cinefilia.
Como escreveu recentemente Olaf Möller, profundo conhecedor do seu cinema, que em conjunto com Antti Alanen dedicou a Von Bagh a monografia Citizen Peter (2013), e que colaborou com a Cinemateca na organização e no desenho desta retrospetiva: “Peter von Bagh estava obcecado com uma ideia de montagem – de justaposições que criassem sentido. Por outro lado, também estava interessado na ideia do cinema como máquina do tempo – como uma arte que preserva memórias, ressuscita os mortos, oferece segundas oportunidades mesmo que não as mereçamos. Nesse sentido, trabalhou quase exclusivamente com materiais de arquivo, integrando-os frequentemente com entrevistas que filmou, e enquanto os seus primeiros filmes assentam essencialmente em imagens em movimento e canções, na fase final da sua carreira divertia-se a adicionar a esse todo, pinturas e fotografias. Os principais ingredientes dos seus filmes mantiveram-se inalterados – o que fez que trabalhasse com os mesmos materiais várias vezes, usando a mesma cena montada de formas ligeiramente diferentes em vários trabalhos, produzindo sempre um novo efeito.”
Não obstante uma manutenção de procedimentos ao longo de muitos anos, o cinema de von Bagh é muito diverso, como poderemos perceber através desta retrospetiva, uma das mais completas dedicadas ao seu cinema. Se na sua filmografia só se conta uma atípica experiência inicial na longa-metragem de ficção (KREVI, 1971), no universo de um cinema documental que trabalha sobretudo com imagens de arquivo a riqueza é enorme, desenvolvendo mecanismos de montagem e modos de aproximação entre materiais de diferentes proveniências que se apuram de filme para filme, como tão bem demonstram títulos como HELSINKI, IKUISESTI (2008), MUISTEJA (2013) ou o seu derradeiro filme SOSIALISMI (2014). Opus magnum no contexto da obra do realizador, em que este ultrapassa o universo da “história da Finlândia”, à qual dedicou tantos filmes, como a famosa “série” em que analisa períodos-chave da mesma – de que fazem parte VUOSI 1952 (1980) e 1939 (1993), mas também MUISTO (1987) e VIIMEINEN KESÄ 1944 (1992) – SOSIALISMI aborda uma questão chave na história de um século, que coincidiu com um século de cinema, ao mesmo tempo que revela o sentido de ritmo que atravessa toda a obra de um realizador cuja outra grande paixão era a música.
A história e a memória, nas suas dimensões mais singulares ou universais, mas também a música popular finlandesa ou o tango, enquanto chaves para o inconsciente coletivo de uma nação, são assim alguns dos motivos que atravessam toda uma obra cinematográfica com uma inegável dimensão política paralela a uma paixão pelo cinema, como tão bem demonstra “SODANKULÄ IKUISESTI (2010), documento sobre um século de cinema visto por muitos dos convidados do famoso Midnight Sun Film Festival, que exibimos a encerrar o programa.
Esta retrospectiva rima, em finlandês, com o Ciclo “Tuevo Tulio – Os ‘Melodramas Profundos e Absurdos’“ (ver entrada respetiva).

 

A sessão de abertura, com SOSIALISMI, tem lugar na sala M. Félix Ribeiro, às 21h30 de 13 de julho (ver entrada respetiva).
 

 
14/07/2015, 22h00 | Sala Luís de Pina
Ciclo O Último dos Loucos - Homenagem a Peter Von Bagh

POCKPICKET ELI KATKELMIA HELSINKILAISEN PORVARUSNUOREN ELÄMÄSTÄ | KREIVI
duração total da sessão: 111 minutos | M/12
 
15/07/2015, 22h00 | Sala Luís de Pina
Ciclo O Último dos Loucos - Homenagem a Peter Von Bagh

MUISTEJA – PIENI ELOKUVA 50 – LUVIN OULUSTA
“Lembrança - Um Pequeno Filme sobre Oulu em 1950”
de Peter von Bagh
Finlândia, 2013 - 69 min
16/07/2015, 22h00 | Sala Luís de Pina
Ciclo O Último dos Loucos - Homenagem a Peter Von Bagh

PÄIVÄ KARL MARXIN HAUDALLA | AJAN DRAMA | ASEMA
duração total da sessão: 62 min | M/12
18/07/2015, 18h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo O Último dos Loucos - Homenagem a Peter Von Bagh

HELSINKI, IKUISESTI
“Para Sempre Helsínquia”
de Peter von Bagh
Finlândia, 2008 - 74 min
20/07/2015, 22h00 | Sala Luís de Pina
Ciclo O Último dos Loucos - Homenagem a Peter Von Bagh

MUISTO – ITSENÄISEN SUOMEN ENSIMMÄSTEN VUOSIEN KERTOMUS
“Memória – A História dos Primeiros Anos da Finlândia”
de Peter von Bagh
Finlândia, 1987 - 119 min
14/07/2015, 22h00 | Sala Luís de Pina
O Último dos Loucos - Homenagem a Peter Von Bagh
POCKPICKET ELI KATKELMIA HELSINKILAISEN PORVARUSNUOREN ELÄMÄSTÄ | KREIVI
duração total da sessão: 111 minutos | M/12

POCKPICKET ELI KATKELMIA HELSINKILAISEN PORVARUSNUOREN ELÄMÄSTÄ
“Pockpicket – Recordações da Juventude Burguesa de Helsinquia”
de Peter von Bagh, Pertti Maisala
com Sulevi Peltola, Eija Pokkinen, Elina Salo
Finlândia, 1968 – 18 min / legendado em inglês e eletronicamente e português
KREIVI
“O Conde”
de Peter von Bagh
com Pertti Ylermi Lindgren, Irma Martinkauppi, Titta Karakorpi
Finlândia, 1971 – 93 min / legendado eletronicamente em português

Como o nome indicia, POCKPICKET é Robert Bresson às avessas. Uma homenagem e uma sátira em que o protagonista em vez de roubar o dinheiro das carteiras de quem o tem enche os bolsos dos mais necessitados. Mas quem são eles? Uma hilariante experiência politicamente revolucionária, simultaneamente inspirada por Spede Pasanen, um ícone da comédia finlandesa, e por Pasolini. KREIVI, ou “O CONDE”, é um retrato de um vigarista interpretado pelo próprio, Pertti Ylermi Lindgren, um homem que esteve noivo de 76 mulheres, sem casar com nenhuma, vivendo às suas custas. Na longa-metragem de estreia de Peter von Bagh, encontramos sequências documentais e reconstituições de episódios supostamente reais da vida de Lindgren, numa obra de juventude cheia de humor. Descrito por Olaf Möller como "uma comédia brechtiana" ou "pura anarquia", a polémica que rodeou a estreia de KREIVI poderá ter contribuído para afastar decisivamente von Bagh do universo da ficção.
 

15/07/2015, 22h00 | Sala Luís de Pina
O Último dos Loucos - Homenagem a Peter Von Bagh
MUISTEJA – PIENI ELOKUVA 50 – LUVIN OULUSTA
“Lembrança - Um Pequeno Filme sobre Oulu em 1950”
de Peter von Bagh
com Erja Manto, Eero Saarinen, Peter von Bagh
Finlândia, 2013 - 69 min
legendado em inglês e eletronicamente em português | M/12

Peter von Vagh conduz-nos numa visita a Oulu, a terra em que cresceu, antes de retornar a Helsínquia, a cidade em que nasceu e que mais tarde escolheu para viver. Um filme-ensaio que recorre a materiais de arquivo de várias naturezas, como excertos de filmes, imagens fixas, pinturas e outras obras de arte. MUISTEJA apresenta-nos uma visão caleidoscópica da cidade e do seu espírito, ao mesmo tempo que revela memórias da juventude do realizador. Com traços assumidamente autobiográficos, este é um filme belíssimo que cruza a singularidade com uma “história” mais universal.
 

16/07/2015, 22h00 | Sala Luís de Pina
O Último dos Loucos - Homenagem a Peter Von Bagh
PÄIVÄ KARL MARXIN HAUDALLA | AJAN DRAMA | ASEMA
duração total da sessão: 62 min | M/12

PÄIVÄ KARL MARXIN HAUDALLA
“Um Dia no Túmulo de Karl Marx”
Finlândia, 1983 – 16 min / legendado em inglês e eletronicamente em português
AJAN DRAMA
“Drama do Tempo”
Finlândia, 1986 – 15 min / legendado em inglês e eletronicamente em português
ASEMA
“A Estação”
de Peter von Bagh
Finlândia, 1989 – 31 min / legendado eletronicamente em português

Cem anos depois da morte de Karl Marx, Peter von Bagh resolveu passar o dia junto ao seu túmulo no cemitério londrino. Nesse dia 14 de março de 1983 o realizador conseguiu falar com pessoas de cerca de vinte países diferentes sobre Marx e o seu legado, o que revela a sua importância em plena década de oitenta. AJAN DRAMA é um breve ensaio cinematográfico de fundo filosófico, desencadeado por uma crise de reféns que acabou em sangue. Em ASEMA, observações quotidianas do dia a dia da estação central de Helsínquia (construída por Eliel Saarinen) cruzam-se com motivos importantes do cinema finlandês, num percurso nada linear, que de algum modo antecipa o admirável HELSINKI, IKUISESTI. Uma sessão que ilustra bem a dimensão política de toda a obra de Peter von Bagh.
 

18/07/2015, 18h30 | Sala Luís de Pina
O Último dos Loucos - Homenagem a Peter Von Bagh
HELSINKI, IKUISESTI
“Para Sempre Helsínquia”
de Peter von Bagh
Finlândia, 2008 - 74 min
legendado em inglês e eletronicamente em português | M/12

Recorrendo mais uma vez a imagens já existentes, o filme de Peter von Bagh, também conhecido como "HELSINKI FOREVER", é um retrato de Helsínquia e da sua história assente na montagem de excertos de inúmeros filmes finlandeses que cobrem cerca de cem anos. Um trabalho arqueológico que faz ressuscitar outros filmes, mas também as sombras e as forças de outros tempos. Jonathan Rosenbaum escolheu HELSINKI, IKUISESTI como um dos dez melhores filmes da primeira década do século XX. O único filme de von Bagh já mostrado na Cinemateca.

20/07/2015, 22h00 | Sala Luís de Pina
O Último dos Loucos - Homenagem a Peter Von Bagh
MUISTO – ITSENÄISEN SUOMEN ENSIMMÄSTEN VUOSIEN KERTOMUS
“Memória – A História dos Primeiros Anos da Finlândia”
de Peter von Bagh
Finlândia, 1987 - 119 min
legendado eletronicamente em inglês | M/12

Um filme quase invisível sobre o período mais remoto abordado pela "série" mais conhecida de Peter von Bagh, que se revela fundamental, tanto em termos cinematográficos como no que diz respeito à história da Finlândia. Os títulos mais conhecidos da “série” são “O ANO DE 1939”, “O ÚLTIMO VERÃO 1944” e “O ANO DE 1952”, aproximando-se dos acontecimentos da Segunda Guerra Mundial. MUISTO, ou "MEMÓRIA", aborda os traumáticos anos de 1917 e 1918, em que se definia o difícil caminho da Finlândia em direção à independência e a sangrenta guerra civil. Baseando-se quase exclusivamente em testemunhos, uma das particularidades de MUISTO reside precisamente na ausência de narração.