Tal como o Jay Gatsby de F. Scott Fitzgerald, que protagonizou em 1974, Robert Redford tinha o tipo de sorriso raro que possui "a quality of eternal reassurance". Charles Robert Redford Jr., que morreu em setembro com 89 anos, destacou-se irremediavelmente pela sua beleza (não protagonizou THE GRADUATE porque nunca ninguém levaria um homem tão bonito a sério no papel que seria de Dustin Hoffman), mas também pela sua versatilidade enquanto ator, muitas vezes em papéis que refletiam as suas políticas liberais e que expandiam (contrariando ou usando com mestria) o estereótipo de louro californiano a que poderia ter sido relegado. Para Sydney Pollack, com quem trabalhou em sete filmes, Redford era uma metáfora personificada da América: "a golden boy with a darkness within". Como ator, ficou conhecido pelas suas personagens românticas (Paul Bratter em BAREFOOT IN THE PARK, com Jane Fonda; Hubbell Gardiner em THE WAY WE WERE, com Barbra Streisand; ou Denys Finch Hatton em OUT OF AFRICA, com Meryl Streep) e pelos seus filmes de consciência política (THE CANDIDATE, ALL THE PRESIDENT’S MEN ou THREE DAYS OF THE CONDOR), bem como pela sua marca indelével na história dos buddy movies americanos (BUTCH CASSIDY AND THE SUNDANCE KID ou THE STING, ambos com o amigo de longa data Paul Newman).
Robert Redford desenvolveu ainda uma sólida carreira enquanto cineasta. Pegou no que aprendeu no seio dos estúdios de Hollywood, mas contou histórias à sua maneira em filmes com pendor político ou sobre questões de justiça social, com foco em temas como o luto ou o idealismo e com a natureza como palco frequente. Quando ganhou o Oscar honorário, em 2002, Barbra Streisand apresentou-o como alguém apaixonado por contar histórias que refletem as forças e as vulnerabilidades do espírito americano. Sempre com uma sensibilidade especial para o trabalho dos atores, realizou ao todo nove filmes, entre eles ORDINARY PEOPLE (a sua estreia atrás da câmara, em 1980, com o qual ganhou os Oscares de Melhor Realizador e de Melhor Filme desse ano), A RIVER RUNS THROUGHT IT (1992), QUIZ SHOW (1994) ou THE CONSPIRATOR (2010).
No final dos anos 1970, juntou os seus ideais ao peso do seu nome com um objetivo simples: providenciar uma plataforma para artistas independentes emergentes. Num papel já de mentor, Robert Redford cofunda o Sundance Institute e, poucos anos mais tarde, o festival de cinema de Sundance (originalmente com o nome Utah/US Film Festival), cujo impacto é inestimável em termos do apoio dado à produção, distribuição e exibição de cinema independente americano. São inúmeros os filmes que saíram de Sundance para reconhecimento internacional, catapultando as carreiras dos seus realizadores: CLERKS de Kevin Smith, FRUITVALE STATION de Ryan Coogler, GET OUT de Jordan Peele, HARD EIGHT de Paul Thomas Anderson, RESERVOIR DOGS de Quentin Tarantino, SEX, LIES, AND VIDEOTAPE de Steven Soderbergh, ou WHIPLASH de Damien Chazelle, para mencionar só alguns. Um legado que se acrescenta a uma carreira emblemática.