Nos últimos anos a dupla de artistas e cineastas italo-francesa, Bêka e Lemoine, tem viajado ao redor do mundo para explorar a cidade enquanto ecossistema edificado e habitado por uma espécie que estes designam de Homo Urbanus. Esta espécie – que somos todos nós – não só habita, mas adapta-se, apropria-se e essencialmente deixa-se definir pelo ambiente por ela construído, numa relação de mútua influência entre pessoas e lugares que afeta o estado físico, psicológico e emocional das primeiras.
Desde o seu filme de estreia, KOOLHAAS HOUSELIFE – onde acompanham uma trabalhadora doméstica que cuida da famosa Maison à Bordeux, da OMA – ficou delineado o modus operandi da dupla: um trabalho atento, íntimo e minucioso que encara a arquitetura enquanto contexto das rotinas de quem vive nos, dos, e para os espaços, fazendo desse vínculo a força que os eleva a lugares.
Quando este processo é aplicado através de uma estética que cruza tradições de longa data – desde a fotografia de rua ao cinema de não-ficção –, e se dá a ver por meios híbridos – que recusam a sua categorização, habitando um espaço situado entre o cinema e a video-art, a sala e o espaço expositivo – nasce uma prática, que, pelo seu caráter altamente subjetivo, oferece uma perspetiva artística sobre a arquitetura, que rompe com os habituais códigos de representação da mesma, colocando as pessoas em primeiro plano numa verdadeira poética do quotidiano.
Pela sua natureza inovadora, o trabalho de Bêka & Lemoine tem vindo a conquistar um reconhecimento crescente, refletido na aquisição integral da sua obra por parte do MoMA, em 2016, e na presença em instituições e eventos de referência, como a Bienal de Arquitetura de Veneza (2008, 2010, 2014) e a Bienal de São Paulo (2019).
Este ciclo insere-se no contexto da exposição Homo Urbanus. A Citymatographic Odyssey by Bêka & Lemoine, patente no MAC/CCB, que constitui a maior apresentação até à data deste amplo projeto e sublinha o seu caráter interdisciplinar. Ao longo dos três filmes apresentados na Cinemateca – tal como noutros tantos que já se viram no pequeno auditório do CCB – somos convidados a viajar pelo mundo e a imergir na rotina quotidiana de alguns dos mais importantes arquitetos contemporâneos: TOKYO RIDE acompanha Ryue Nishizawa em Tóquio, BIG EARS LISTEN WITH FEET segue Boonserm Premthada em Banguecoque, e THE SENSE OF TUNING transporta-nos para Mumbai com Bijoy Jain.
Com sensibilidade e intuição, Bêka & Lemoine fazem dos relatos e dos lugares díspares a matéria do seu trabalho, construindo, ao longo das suas diversas obras, um corpo coeso que pode ser entendido como um espaço urbano global. Todos os filmes apresentados são primeiras exibições na Cinemateca.