O que esconde e o que se esconde na vida de um disc jockey de uma estação de rádio, numa família judia aparentemente exemplar, num casamento com um homem encantador, mas obsessivo, e na história de sucesso de uma empresária em afirmação no mundo dos videojogos? Uma longa e tormentosa série de abusos em que nem sempre o que é esperado e aparentemente movediço nos conduz com facilidade à verdadeira resolução moral dos factos e dos comportamentos retratados. Os casos apresentados por estes filmes – de assédio, de abusos sexuais e psicológicos, e de recorrente violação – servem de “cardápio” para aquilo que é parte da missão da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV): prestar apoio às vítimas de crimes vários que, tantas vezes em surdina, vão corroendo os alicerces da nossa sociedade. Nenhum dos títulos em questão, realizados por Clint Eastwood, George Cukor, Andrew Jarecki e Paul Verhoeven, apresenta soluções fáceis para os atos de violência neles documentados ou ficcionados, permitindo, a espaços e de maneira complexa, que acedamos à perspetiva ou “lógica” do perpetrador desses crimes. Depois de ciclos organizados aquando da celebração da primeira década e dos 25 anos da APAV, a Cinemateca Portuguesa junta-se, agora, à celebração dos 35 anos desta instituição particular de solidariedade social, promovendo um renovado debate sobre a condição da vítima em situações extremas de abuso.