Em setembro ainda é verão, mas a escola está aí. Junta-se a liberdade das férias, sem horários e obrigações, ao tempo da socialização. Setembro representa bem a condição da infância: o estado natureza a dançar com as muitas regras e saberes da sociedade: dois passos em frente, um atrás e por aí fora. O programa do mês tem muito a ver com essa dança e jogo de forças: a massa livre e informe da infância e o molde da cultura. Todos os filmes são protagonizados por crianças, e por uma criança grande, o “baby face” Harry Langdon, portanto não saímos do tema. Em parceria com o festival Operafest, começamos com O RAPAZ DOS CABELOS VERDES, um clássico dos anos 40 de Joseph Losey, que todos os pais deviam mostrar aos filhos e os avós aos netos. Uma história tocante, contada de forma original, e um manifesto antiguerra. Segue-se O MENINO SELVAGEM de François Truffaut, retrato dum rapaz real encontrado em estado selvagem numa floresta francesa no final do século XVIII e do sofrido processo de educação. Os miúdos da semana seguinte não são selvagens, mas são “miúdos à solta”. Falamos de BEPPIE, uma miúda desconcertante, também real, retratada no documentário homónimo pelo vizinho Johan van der Keuken, e René, o miúdo imaginado por Jacques Rozier no filme O REGRESSO ÀS AULAS, que chega à escola a nado, pelo ribeiro que atravessa a aldeia. O último protagonista é a tal criança grande, Harry Langdon, que mantém intacta a candura e o desconcerto da infância. ATLETA À FORÇA é a primeira longa-metragem de Frank Capra, e o atleta involuntário é o lingrinhas Langdon, que nesta comédia da era do mudo acompanhada ao piano, atravessa a Primeira Guerra Mundial com uma fisga e gás de queijo. Na oficina do final do mês vamos fazer um exercício de imaginação através do som e das bandas sonoras dum conjunto de filmes, porque os sons também contam histórias. E já agora desafiamos a miudagem a descobrir QUANTAS HISTÓRIAS CABEM NO SOM dos filmes que vamos ver em setembro.