Entre todos os nomes chegados ao cinema americano na década de 1970, o de Jerry Schatzberg é daqueles que a História trata com maior discrição. E no entanto, o seus primeiros filmes integram plenamente o movimento de renovação que tomou conta de Hollywood nessa década, e não apenas isso, terão tido mesmo um papel percursor: a estrutura e o modo de narrar de PUZZLE OF A DOWNFALL CHILD,  o tipo de realismo, físico e psicológico, de THE PANIC IN NEEDLE PARK, integram já, na perfeição, a sensibilidade daquilo a que se veio a chamar a “nova Hollywood”, mesmo se na altura em que estrearam ainda não houvesse nenhum nome, nem esse, para a designar.
Há mais de vinte anos que Schatzberg (hoje com 96 anos) não estreia nenhum filme, e a sua obra, feita de uma grande diversidade a todos os níveis (géneros, métodos), permanece eventualmente por ver e avaliar com o rigor que merece – sobretudo os filmes que se sucederam ao trio inicial formado por PUZZLE OF A DOWNFALL CHILD, THE PANIC IN NEEDLE PARK e SCARECROW, que serão também os filmes que mais transportam o lastro da atividade a que Schatzberg se dedicou, a fotografia (tem uma extensa carreira como fotógrafo de moda, de que diretamente nasceu PUZZLE, e foi ele quem tirou várias das mais célebres fotografias de Bob Dylan, como a da capa de Blonde on Blonde). Mas em todos os filmes Schatzberg variou e renovou géneros e ambientes tradicionais, exponenciou a chegada ao cinema de rostos e vozes novas (Al Pacino entre os atores, Joan Didion e John Gregory Dunne como argumentistas), deu vida nova a outros (Morgan Freeman), e traçou um olhar multifacetado sobre as franjas da sociedade americana. É uma obra que merece ser mostrada, e vamos fazê-lo quase na íntegra, com o privilégio da presença de Schatzberg, que estará em Lisboa para acompanhar a retrospetiva. À exceção de THE PANIC IN NEEDLE PARK, todos os filmes a exibir são primeiras apresentações na Cinemateca.