CICLO
In Memoriam James Caan


James Caan (1940-2022) é um dos fundamentais nomes de ligação entre a velha e a nova Hollywood. Ganhou notoriedade como o benjamim do trio hawksiano, em EL DORADO, intrometendo-se “na fotografia” entre John Wayne e Robert Mitchum, mas entraria na galeria dos imortais graças à sua colaboração com Francis Ford Coppola, primeiro como um perturbado jogador de futebol americano em THE RAIN PEOPLE e, depois, de maneira inesquecível, encarnando a personagem mais viva, calorosa e furiosa de THE GODFATHER: “Sonny” ficará, para sempre, como a sua personagem mais recordada e amada. Caan tirou os dividendos deste seu papel ao longo dos anos 70, destacando-se como gladiador futurista no clássico popular de Norman Jewison, ROLLERBALL, ainda que nem todas estas obras mais ou menos bem sucedidas tenham servido para afastar a sensação de que estaria condenado a ser um “secundário de luxo”.
THE GAMBLER, do angry man britânico Karel Reisz, e THIEF, de um Michael Mann em início de carreira, são dois títulos que revelam toda a profunda subtileza e nuance dramática que o caracterizam para lá da sua aparência física, de uma impositiva masculinidade. Esta espécie de virilidade gentil e vulnerável foi dando sinais de si durante um processo de amadurecimento com os seus altos e baixos, sobretudo no seio desse concurso de popularidade de que também é feita a indústria: depois do subapreciado HIDE IN PLAIN SIGHT, a sua única incursão na realização, a deliciosa comédia fantástica KISS ME GOODBYE, de Robert Mulligan, foi um fracasso de bilheteira e a experiência de rodagem deixou marcas num ator que parecia estar a perder o seu momentum. Foi aí que entrou, de novo, o nome de Coppola: GARDENS OF STONE é o filme da maturidade de Caan, uma versão intimista, dolorosa mas serena, do operático APOCALYPSE NOW – porventura será também o filme da maturidade de Coppola, neste particular.
Reencontrando-se como ator, ficava a faltar o êxito comercial que recolocasse o nome de Caan no firmamento hollywoodesco. Essa oportunidade veio com MISERY, adaptação de um romance de Stephen King pela mão de um realizador improvável, Rob Reiner (WHEN HARRY MET SALLY...), e com uma coprotagonista ainda mais inesperada, uma atriz então em afirmação chamada Kathy Bates. A fusão de comédia com terror acabou por resultar para todos, valendo a Bates o Oscar e propiciando o dito relançamento de carreira a Caan, que, a partir daqui, continuou a testar a sua versatilidade, com papéis algo curtos mas relevantes, em filmes tão diferentes como THE YARDS de James Gray, representando uma espécie de “patriarca” do mundo do crime, e ELF de Jon Favreau, experimentando a comédia mais absurda. No rescaldo da notícia da morte de Caan, Robert Duvall, com quem contracenou em THE RAIN PEOPLE, THE GODFATHER e THE KILLER ELITE, recordou esse seu grande amigo como um ator de múltiplos talentos e uma pessoa muito divertida, tendo sido inúmeras vezes a arma secreta de Francis Ford Coppola para tornar o ambiente de rodagem mais leve e positivo.
 
 
26/09/2022, 21h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo In Memoriam James Caan

The Godfather
O Padrinho
de Francis Ford Coppola
Estados Unidos, 1972 - 176 min
 
28/09/2022, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo In Memoriam James Caan

Red Line 7000
Traço Vermelho 7000
de Howard Hawks
Estados Unidos, 1965 - 108 min
28/09/2022, 19h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo In Memoriam James Caan

Rollerball
Os Gladiadores do Século XXI
de Norman Jewison
Estados Unidos, 1975 - 125 min
29/09/2022, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo In Memoriam James Caan

El Dorado
de Howard Hawks
Estados Unidos, 1967 - 126 min
29/09/2022, 21h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo In Memoriam James Caan

The Godfather Part II
O Padrinho – Parte II
de Francis Ford Coppola
Estados Unidos, 1974 - 177 min
26/09/2022, 21h00 | Sala M. Félix Ribeiro
In Memoriam James Caan
The Godfather
O Padrinho
de Francis Ford Coppola
com Marlon Brando, Al Pacino, James Caan, Diane Keaton
Estados Unidos, 1972 - 176 min
legendado em português | M/16
O filme definitivo sobre o crime organizado, a partir da sucessão do “padrinho” mafioso Don Corleone pelo seu filho, representando também a passagem da organização de uma situação marginal para a de uma empresa capitalista. O crime torna-se apenas o último meio da guerra económica travada pelo “padrinho”, segundo a lição de Clausewitz. Oscar para o melhor filme do ano e para Marlon Brando. Marco do cinema dos anos 70, THE GODFATHER impôs o nome de Coppola, então com 33 anos e assinalou o coroamento da “Nova Hollywood”. Entre duas interpretações monumentais, de Marlon Brando e Al Pacino, encarnando, respetivamente, o patriarca e o irmão mais novo desta família italo-americana, surge Caan interpretando o papel mais celebrado da sua carreira: “Sonny” é o irmão protetor que ferve em pouca água e que representa a feição mais impulsiva – uma virilidade (auto)destrutiva – mas também que mais fielmente incorpora o laço sentimental que une o clã Corleone.

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28/09/2022, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
In Memoriam James Caan
Red Line 7000
Traço Vermelho 7000
de Howard Hawks
com James Caan, Laura Devon, Gail Hire, Charlene Holt
Estados Unidos, 1965 - 108 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Howard Hawks regressa ao mundo das corridas automobilísticas, mais de 30 anos após THE CROWD ROARS. Cruzamento de várias histórias sobre corredores e automóveis, onde James Caan ensaia para a sua presença em EL DORADO. É talvez o mais “mal amado” filme de Hawks, mas também originou alguns dos mais inspirados textos críticos: “O que há é um total despojamento, um cinema inseparável do que filma, uma mise en scène indissociável do que mostra e que escapa a qualquer prise se o que mostra não é compreendido”, notou Jean-Louis Comolli no texto Cherchez l’Hawks, publicado nos Cahiers du cinéma à época da estreia do filme.

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28/09/2022, 19h30 | Sala Luís de Pina
In Memoriam James Caan
Rollerball
Os Gladiadores do Século XXI
de Norman Jewison
com James Caan, John Houseman, Ralph Richardson, Maud Adams
Estados Unidos, 1975 - 125 min
legendado eletronicamente em português | M/12
O ano é 2018, altura em que as nações foram “abolidas”, a fome desapareceu e se criou uma civilização de “prazer” gerida por tecnocratas em substituição dos políticos. Nesse mundo, os conflitos são resolvidos num “jogo” que entusiasma todo o planeta, o “rollerball”, com duas equipas sobre patins enfrentando-se como gladiadores antigos e que culmina num autêntico massacre fazendo do campeão um “semideus”. Sob influência de Stanley Kubrick e Federico Fellini, o realizador canadiano Norman Jewison, dois anos depois do sucesso popular de JESUS CHRIST SUPERSTAR, pegou num argumento de William Harrison e transformou James Caan, interpretando um “jogador” na fase final da carreira que desafia o sistema, num misto de herói e de mártir desse novo circo romano.

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29/09/2022, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
In Memoriam James Caan
El Dorado
de Howard Hawks
com John Wayne, Robert Mitchum, James Caan
Estados Unidos, 1967 - 126 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Ao fazer este filme, Howard Hawks tinha 79 anos e EL DORADO é um belíssimo filme de fim de carreira. Trata-se de uma variação de outro western, RIO BRAVO, feito pelo mesmo realizador cerca de oito anos antes. Hawks pega na mesma situação – a esquadra de uma pequena localidade que é alvo de cerco e ataque por um grupo de pistoleiros que quer libertar os chefes –, mas introduz algumas variantes que reforçam o humor (os heróis estropiados) e conta com um par perfeito e extremamente contrastante: John Wayne e Robert Mitchum. Braço direito da personagem de John Wayne, James Caan é Mississipi, um cowboy com talento para a poesia e pouco amor às armas: “porque é que James Caan nunca mais foi tão bom?”, perguntava-se João Bénard da Costa aquando da primeira passagem do filme na Cinemateca.

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29/09/2022, 21h00 | Sala M. Félix Ribeiro
In Memoriam James Caan
The Godfather Part II
O Padrinho – Parte II
de Francis Ford Coppola
com Al Pacino, Robert De Niro, Robert Duvall, Diane Keaton, James Caan
Estados Unidos, 1974 - 177 min
legendado eletronicamente em português | M/16
Segunda parte da saga do mafioso Michael Corleone, a sua conquista do poder e esforços para legalização da atividade da organização, contada em paralelo com a iniciação de seu pai, Don Vito Corleone, nos anos 20. Vencedor dos Oscars de melhor filme, realização e interpretação (Robert De Niro), entre outros. “A ousadia da Parte II é que amplia o escopo e aprofunda o sentido do primeiro filme. Visualmente, é mais complexo e belo do que a primeira parte, tal como é tematicamente mais rico. (...) Trata-se de uma visão épica sobre a corrupção na América”, escreveu Pauline Kael, uma das críticas mais influentes da chamada Nova Hollywood. James Caan conta com uma breve mas significativa aparição, num flashback de uma refeição familiar em que se marca decisivamente o destino – e a solidão martirizada, num plano final magnífico – de Michael Corleone.

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