CICLO
Filmar a Catástrofe


As cinco sessões que compõem este Ciclo – o qual decorre complementarmente ao colóquio intitulado “A Catástrofe e a Cidade” que terá lugar no Museu da Cidade de Lisboa, no dia 25 de outubro – apresentam diferentes perspetivas através das quais o olhar cinematográfico abordou a catástrofe.
Longe de retratar exaustivamente as diferentes maneiras pelas quais a catástrofe, natural ou humana, se tornou objeto de análise e de representação na história do cinema, os seis filmes escolhidos oferecem ao público alguns dos exemplos mais significativos da cinematografia de catástrofe. Permitem igualmente mostrar como a atração da catástrofe está presente no cinema desde o início, acompanhando o seu desenvolvimento até aos nossos dias.
Mas por que constitui a catástrofe uma presença tão relevante na história do cinema? Filmar ou imaginar o impacto das forças da natureza nas construções humanas torna visíveis os pesadelos que cada cultura vai ocultando e os riscos que cada geração tenta sublimar ou afastar no dia a dia. Este processo é também evidente no caso em que as catástrofes representadas têm uma origem humana. Ao filmar a catástrofe, o realizador torna-se uma espécie de medium que traz à superfície sensível do ecrã os fantasmas do próprio público. Objetivados, estes fantasmas acabam por se tornar lembretes da fragilidade na qual se apoia um progresso aparentemente incondicionado ou, ao invés, válvulas de escape das tensões psicológicas que este mesmo progresso acumula. Neste último caso, é justamente porque é imaginada no cinema que a catástrofe se pode pretender afastada da vida real.
O Ciclo propõe assim, para começar, o género documentário, através de LA SOUFRIÈRE (1978) de Werner Herzog. O realizador corre para Guadalupe para filmar uma erupção vulcânica e a maneira como os habitantes da ilha se preparam para a viver. Uma catástrofe natural é o objeto de um dos filmes com que se inicia o género do filme catástrofe, DELUGE (1934), de Felix E. Feist. O pesadelo da catástrofe nuclear está no centro de THE WAR GAME (1966), de Peter Watkins, e do filme soviético PISMA MYORTVOGO CHELOVEKA/"Cartas de um Homem Morto” (1986), de Konstantin Lopushanski, que nos permite observar o mesmo pesadelo, embora do outro lado da Cortina de Ferro. Em PARIS QUI DORT (1925), René Clair faz-nos entrar numa Paris de onde os habitantes se imobilizaram e/ou desapareceram de repente, mostrando o rosto de uma catástrofe silenciosa no seu meio mais característico, a cidade. Por fim, em SOYLENT GREEN (1973), de Richard Fleischer, o protagonista é o pesadelo da catástrofe climática, talvez o mais perturbador e premente dos nossos dias.
 
 
18/10/2021, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Filmar a Catástrofe

La Soufrière | The War Game
duração total da projeção: 80 min | M/12
 
19/10/2021, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Filmar a Catástrofe

Paris qui Dort
de René Clair
França, 1923 - 59 min
20/10/2021, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Filmar a Catástrofe

Deluge
de Felix E. Feist
Estados Unidos, 1933 - 70 min
20/10/2021, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Filmar a Catástrofe

Pisma Myortvogo Cheloveka
“As Cartas de um Homem Morto”
de Kostantin Lopushamskiy
URSS, 1986 - 87 min
21/10/2021, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Filmar a Catástrofe

Soylent Green
À Beira do Fim
de Richard Fleischer
Estados Unidos, 1973 - 97 min
18/10/2021, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Filmar a Catástrofe

Em colaboração com Museu da Cidade/Universidade Nova de Lisboa/IFILNOVA
La Soufrière | The War Game
duração total da projeção: 80 min | M/12
sessão apresentada por Maria Filomena Molder, Gianfranco Ferraro e Nélio Conceição
LA SOUFRIÈRE
de Werner Herzog
Alemanha, 1977 – 31 min / legendado eletronicamente em português

THE WAR GAME
de Peter Watkins
com Michael Aspel, Peter Graham
Reino Unido, 1965 – 49 min / legendado eletronicamente em português

Em 1976 Werner Herzog desloca-se com a sua equipa a Guadalupe para filmar o vulcão La Soufrière, que ameaça entrar em erupção. Ao saber que, depois de todos terem sido evacuados, um homem se havia recusado a partir, decidiu ir até lá documentar a sua história. LA SOUFRIÈRE, que tem como subtítulo WARTEN AUF EINE UNAUSWEICHLICHE KATASTROPHE/”À Espera de uma Catástrofe Inevitável”, regista assim um cenário apocalíptico e desértico, que se aproxima da ficção científica. Como em muitos outros dos seus filmes, sobressai um lugar e personagens em situações extremas, quando a natureza parece incontrolável face a uma cidade abandonada e entregue ao seu destino. Primeira exibição na Cinemateca. Em THE WAR GAME, segundo telefilme realizado por Watkins para a BBC, tratava-se de alertar para a ameaça devastadora da guerra nuclear e dos seus efeitos, mas também para a hipocrisia e desonestidade subjacentes aos discursos oficiais sobre o tema. Tratando o assunto como um “documentário ficcionado”, como se um ataque nuclear tivesse mesmo sacudido a Grã-Bretanha, o resultado saiu tão perturbante que a BBC, considerando o filme demasiado “assustador” para ser servido ao conforto doméstico dos telespectadores, renunciou à sua exibição televisiva, lançando o filme para o circuito das salas. Com um sucesso que chegou aos EUA, onde THE WAR GAME ganhou um Óscar para melhor documentário de longa-metragem. LA SOUFRIÈRE, a exibir em cópia digital, é uma primeira apresentação na Cinemateca.

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19/10/2021, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Filmar a Catástrofe

Em colaboração com Museu da Cidade/Universidade Nova de Lisboa/IFILNOVA
Paris qui Dort
de René Clair
com Henri Rollan, Albert Préjean, Martinelli
França, 1923 - 59 min
mudo, intertítulos em inglês, traduzidos eletronicamente em português | M/12
com acompanhamento ao piano por Filipe Raposo

sessão apresentada por Maria Filomena Molder
PARIS QUI DORT, o primeiro filme de René Clair, é uma pequena fábula de ficção científica sobre um raio que adormece toda a cidade de Paris, menos aqueles que por coincidência se encontravam na Torre Eiffel e que escaparam aos seus efeitos. Ao descerem, terão a surpresa de ver a cidade adormecida. Filmado nas ruas de Paris, no tom leve e irónico que caracteriza os melhores filmes de Clair, o filme anuncia a veia de ENTR’ACTE, embora seja menos próximo da vanguarda do que esse filme. A exibir em cópia digital.

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20/10/2021, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Filmar a Catástrofe

Em colaboração com Museu da Cidade/Universidade Nova de Lisboa/IFILNOVA
Deluge
de Felix E. Feist
com Peggy Shannon, Sidney Blackmer, Lois Wilson, Matt Moore, Fred Kohler
Estados Unidos, 1933 - 70 min
legendado eletronicamente em português | M/12
sessão apresentada por Alexandra Dias Fortes
Produção da RKO, DELUGE é um filme apocalíptico que durante muitos anos esteve desaparecido, deixado espaço a outros grandes clássicos seus contemporâneos na área dos “american disaster movies” como SAN FRANCISCO (W. S. Van Dyke, 1936), mas suplantando-o ao nível dos efeitos especiais. Baseado num romance com o mesmo nome de S. Fowler Wright, acompanha um pequeno grupo de sobreviventes de uma série de desastres naturais que surgem em todo o mundo e devastam a civilização humana, incluindo um tsunami que destrói uma cidade Nova Iorque reconstruída em magníficos cenários miniatura. Um título raro e impressivo a descobrir em primeira apresentação na Cinemateca. A exibir em cópia digital.

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20/10/2021, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Filmar a Catástrofe

Em colaboração com Museu da Cidade/Universidade Nova de Lisboa/IFILNOVA
Pisma Myortvogo Cheloveka
“As Cartas de um Homem Morto”
de Kostantin Lopushamskiy
com Rolan Bykov, Iosif Ryklin, Viktor Mikhaylov, Aleksandr Sabinin, Nora Gryakalova
URSS, 1986 - 87 min
legendado eletronicamente em português | M/12
sessão apresentada por Gianfranco Ferraro
Este é um dos mais importantes filmes de Kostantin Lopushamskiy, cineasta que assinou recentemente o seu último filme. PISMA MYORTVOGO CHELOVEKA centra-se na Guerra Fria e num erro informático segundo o qual a União Soviética lança o seu arsenal nuclear sobre os países da NATO, que retaliam automaticamente, provocando o apocalipse nuclear. Lopushamskiy filma a história de alguns sobreviventes desse cenário de destruição total: humanos que vegetam em porões húmidos sob o inverno devastador. O protagonista (Rolan Bykov), desapontado com a ciência, escreve cartas ao seu filho esperando um futuro melhor. Prémio Especial do Júri no Festival Internacional de Cinema de Tróia em 1986, em primeira exibição na Cinemateca.

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21/10/2021, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Filmar a Catástrofe

Em colaboração com Museu da Cidade/Universidade Nova de Lisboa/IFILNOVA
Soylent Green
À Beira do Fim
de Richard Fleischer
com Charlton Heston, Edward G. Robinson, Leigh Taylor-Young, Chuck Connors, Joseph Cotton
Estados Unidos, 1973 - 97 min
legendado eletronicamente em português | M/12
sessão apresentada por Nuno Fonseca
Em SOYLENT GREEN, o ano é 2022. A superpopulação toma conta da cidade de Nova Iorque, com os seus 40 milhões de habitantes, mais de metade deles no desemprego, e com a alimentação reduzida a uma espécie de bolacha sintética (“soylent green”), uma “bomba” prestes a explodir. Charlton Heston é um polícia encarregado de investigar a morte de um ex-dirigente da empresa Soylent, e vai descobrir uma sinistra verdade. O último filme do grande Edward G. Robinson.

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