CICLO
Duplos e Gémeos


A ideia deste ciclo é percorrer filmes cuja narrativa explore o tema do “duplo”, fazendo com que o ator principal represente dois papéis diferentes ou, de certa forma, duas vezes o mesmo papel. Este tema foi ilustrado no cinema através de diversas formas narrativas: filmes em que a personagem principal se desdobra noutra, em casos de dupla personalidade, de que a história do Dr. Jekyll e Mr. Hyde é o exemplo mais célebre; filmes em que o protagonista assume a personalidade alheia numa impostura assumida, antes de ser desmascarado ou revelar a verdade; filmes em que o protagonista julga ver num interlocutor um duplo ou uma reencarnação de um amor passado; ou filmes em que o/a protagonista tem um/a gémeo/a, cuja personalidade costuma ser muito diferente da sua e nos quais, muitas vezes, um dos gémeos mata o outro e assume, enquanto pode, o papel dos dois. O tema, nas suas diversas variantes, é tão antigo como o cinema, foi abordado nas cinematografias mais variadas (a alemã dos anos 1920, a de Bollywood dos anos 1970) e pode ser encontrado em filmes com altas ambições artísticas, assim como em melodramas descabelados, filmes de terror, de aventura, comédias e até em parábolas políticas, como poderemos constatar ao longo do ciclo. Cineastas tão diferentes como Friedrich W. Murnau (o perdido DER JANUSKOPF), Sacha Guitry (LA VIE D’UN HONNÊTE HOMME), Terence Fisher (THE TWO FACES OF DR. JEKYLL), Julien Duvivier (THE IMPOSTOR), Robert Mulligan (THE OTHER) ou Jean Renoir (LE TESTAMENT DU DOCTEUR CORDELIER) abordaram o tema, que também está no cerne de um dos filmes mais célebres de Alfred Hitchcock, VERTIGO. Pelo que têm de óbvio, este ciclo evita deliberadamente as diversas versões do tema do Dr. Jekyll, que suscitou dezenas de filmes que justificariam um programa exclusivamente dedicado às variantes do romance de Robert Louis Stevenson. Começamos com um grande clássico do cinema mexicano, LA OTRA, e prosseguimos com a mais célebre dupla cómica da história do cinema, Laurel and Hardy / Bucha e Estica, com três filmes em que se desdobram em variações de si mesmos. Podemos também ver ou rever um dos filmes protagonizados por Bette Davis sobre o tema das gémeas, DEAD RINGER, antes de percorrermos uma série de títulos relativamente pouco vistos do período clássico (que genericamente pertencem à categoria do filme negro), até chegarmos a produções mais próximas de nós, totalmente díspares, incluindo um filme de artes marciais. Desde que Georges Méliès descobriu, em finais do século XIX, que há “efeitos especiais” no cinema, sabemos que há coisas que “só no cinema” podem existir. Uma delas é ver um ator a dialogar consigo mesmo, em dois papéis diferentes, fenómeno cinematográfico de que este ciclo é uma pequena amostra.
 
 
07/10/2020, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Duplos e Gémeos

Double Impact
Van Damme – Duplo Impacto
de Sheldon Lettich
Estados Unidos, 1991 - 108 min
 
09/10/2020, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Duplos e Gémeos

Le Grand Jeu
A Última Cartada
de Jacques Feyder
França, 1934 - 114 min
13/10/2020, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Duplos e Gémeos

The Other
O Outro
de Robert Mulligan
Estados Unidos, 1972 - 99 min
14/10/2020, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Duplos e Gémeos

The Dark Mirror
O Espelho da Alma
de Robert Siodmak
Estados Unidos, 1946 - 85 min
16/10/2020, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Duplos e Gémeos

Dead Ringers
Irmãos Inseparáveis
de David Cronenberg
Canadá, 1988 - 115 min
07/10/2020, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Duplos e Gémeos
Double Impact
Van Damme – Duplo Impacto
de Sheldon Lettich
com Jean-Claude Van Damme, Geoffrey Lewis, Alonna Shaw
Estados Unidos, 1991 - 108 min
legendado eletronicamente em português | M/12
O êxito internacional dos filmes de kung-fu em inícios dos anos 1970 engendrou um novo filão, os “filmes de ação” recheados de artes marciais, que constituíram um dos géneros mais populares dos anos 1980, com musculosas vedetas que eram o equivalente moderno dos Hércules e Macistes do cinema dos anos 1950 e 60: Sylvester Stallone, Arnold Schwarzenegger e, mais tarde, Jean-Claude Van Damme, cerca de 15 anos mais novo. Com a intenção de variar a sua imagem, Van Damme (que participou na escrita do argumento) decidiu fazer um filme em que tivesse dois papéis diferentes e o resultado foi DOUBLE IMPACT: dois gémeos são separados em bebés, um é criado em Hong Kong e o outro em França (“estranhamente, ambos falam inglês com o mesmo sotaque belga”, observou, não sem perfídia, um comentarista da Sight & Sound). 25 anos depois, os dois acabam por se encontrar e, embora não se apreciem e sejam muito diferentes, unem-se para vingar a morte dos pais e recuperarem dinheiro que lhes era devido. Ambientado inteiramente em Hong Kong, DOUBLE IMPACT é um típico filme “de ação”, com elementos de artes marciais, mas não se limita a uma sucessão de cenas de efeito e pancadaria, também tem uma narrativa bem construída. Primeira apresentação na Cinemateca.

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09/10/2020, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Duplos e Gémeos
Le Grand Jeu
A Última Cartada
de Jacques Feyder
com Marie Bell, Pierre-Richard Willm, Charles Vanel, Françoise Rosay
França, 1934 - 114 min
legendado eletronicamente em português | M/12
O belga Jacques Feyder teve uma importante carreira durante o período mudo, em França (o magnífico L’ATLANTIDE) e em Hollywood, onde realizou o último filme mudo de Greta Garbo e a versão alemã do seu primeiro filme sonoro (THE KISS e ANNA CHRISTIE, respectivamente). Sem estar esquecido, Feyder não é, hoje em dia, objeto do prestígio que merece. Em LE GRAND JEU, que reúne uma equipa de prestígio (música de Hans Eisler, cenários de Lazare Meerson) e cujo argumento escreveu com Charles Spaak, Feyder ilustra o tema da geminação através da obsessão amorosa do protagonista. Este, um advogado parisiense coberto de dívidas devido aos caprichos da amante, alista-se na Legião Estrangeira. Num bordel na África do Norte, conhece uma prostituta quase idêntica à sua amante parisiense (a personagem é representada pela mesma atriz, porém dobrada por outra, de modo a sublinhar a diferença). Como a mulher tem falhas de memória, o homem tenta convencê-la de que ela é a outra. Um filme extremamente subtil, que não é apresentado na Cinemateca desde 1993.

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13/10/2020, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Duplos e Gémeos
The Other
O Outro
de Robert Mulligan
com Chris Udvarnoky, Martin Udvarnoky, Uta Hagen, Diana Muldaur
Estados Unidos, 1972 - 99 min
legendado eletronicamente em português | M/12
THE OTHER é um dos filmes mais notáveis de Robert Mulligan e teve grande impacto à época. O tema do filme é a violência psicológica. Adaptado de um romance de Tom Tryon, é a história de duas crianças gémeas que vivem com a avó, durante os anos 1930. As duas crianças entregam-se a jogos cheios de maldade, com consequências mortíferas para terceiros. É um filme estranho e perturbante, em que Mulligan trata o tema do mal e das suas duplicidades. Não é apresentado na Cinemateca desde 2009.

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14/10/2020, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Duplos e Gémeos
The Dark Mirror
O Espelho da Alma
de Robert Siodmak
com Olivia de Havilland, Thomas Mitchell, Lew Ayres
Estados Unidos, 1946 - 85 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Um clássico do filme “de gémeos”, realizado no período em que a vulgarização das teorias da psicanálise teve muito eco no cinema americano, particularmente no filme negro, embora THE DARK MIRROR não pertença realmente a este género, pois não tem as características estéticas (intensos jogos de sombra e luz) e narrativas (motivações obscuras dos personagens) do género. A história começa com o inquérito sobre o homicídio de um homem e todas as suspeitas recaem sobre a mulher que ele ia pedir em casamento na noite em que foi morto. Mas ela tem uma irmã gémea e a polícia não tem meios de provar qual das duas esteve na casa do homem. A maior originalidade do argumento consiste no facto do inquérito criminal não ser feito pela polícia e sim por um psicanalista, que depois de uma série de entrevistas e exames das duas irmãs em separado adquire a certeza sobre qual das duas é a culpada e a manipuladora. O filme não é mostrado na Cinemateca desde 2006. A apresentar em cópia digital.

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16/10/2020, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Duplos e Gémeos
Dead Ringers
Irmãos Inseparáveis
de David Cronenberg
com Jeremy Irons, Geneviève Bujold, Heidi von Palleske
Canadá, 1988 - 115 min
legendado eletronicamente em português | M/16
Baseado num romance de Bari Wood, DEAD RINGERS marca uma mudança no cinema de Cronenberg, como especificou o realizador, porque “é um drama realista, ao passo que os meus outros filmes são considerados filmes de terror ou ficção científica. Em todos os filmes com gémeos que conheço, um dos dois é a encarnação do mal, ao passo que o outro é um indivíduo banal. Não é o caso no meu filme”. De facto, em DEAD RINGERS os gémeos não são idênticos apenas por fora, também o são por dentro. Ambos são ginecologistas e aproveitam-se do facto de serem idênticos para manipularem as suas pacientes. A fusão entre os irmãos é de tal ordem que quando um deles cai numa forma de toxicodependência e tem alucinações o segundo toma as mesmas drogas, para saírem juntos do pesadelo. No desenlace, um pede para ser “libertado” do outro. O desempenho de Jeremy Irons no duplo papel foi especialmente elogiado, pelo facto de os irmãos não terem um comportamento contrastante, como é regra nos filmes com gémeos, o que torna a fusão entre ambos ainda mais impressionante. Não é mostrado na Cinemateca desde 2010. A apresentar em versão digital.

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