CICLO
Jean-Marie Straub – Nunca Reconciliado


Contemporâneo de Jean-Luc Godard e autor de uma vastíssima obra assinada em colaboração com a sua companheira Danièle Huillet (1936-2006), Jean-Marie Straub (1933-2022) é outro dos homenageados do mês de janeiro. De Straub a solo e da dupla Straub-Huillet será apresentado um conjunto de filmes que vão desde a fase inicial (NICHT VERSÖHNT ODER ES HILFT NUR GEWALT WO GEWALT HERRSCHT) ao título final (LA FRANCE CONTRE LES ROBOTS). Um conjunto que testemunha a enorme, radical e solitária coerência de uma obra que se tornou num magnífico continente isolado na História do Cinema, e que a Cinemateca visitou por duas ocasiões, a primeira em 1998 (na presença de Danièle Huillet e de Jean-Marie Straub), a última em 2018, além de, mais uma vez, lhe ter dedicado uma memorável edição da rubrica Histórias do Cinema, conduzida por Alberto Seixas Santos em 2012.
Straub e Huillet, casal inseparável que acabou por formar um único ser bicéfalo, refletiram e trabalharam em cada um dos seus filmes sobre a própria matéria cinematográfica: o que é um enquadramento, um plano fixo, um movimento de câmara, uma intervenção musical, um som, um corte. Nenhum dos seus filmes foi feito a partir de um argumento original, todos partem de um texto literário ou musical, que não “adaptam”, com o qual se confrontam e dialogam.  Concebidos e executados com o mais extremo rigor (os ensaios com os atores podiam durar meses) e dirigindo-se à lucidez e à perceção consciente do espectador, o cinema de Straub-Huillet nada tem de monolítico, é de grande variedade e grande intensidade formal. A reflexão e a prática sobre a própria matéria cinematográfica – este é um cinema literalmente materialista – e a presença essencial dos “temas” da resistência, da dissidência e da revolução, são também duas constantes que atravessam essa obra do princípio até ao fim. Nos últimos anos, Jean-Marie Straub retirou-se na Suíça, tendo habitado na mesma cidade e na mesma rua onde viveu Godard. Continuou a trabalhar até ao fim, graças às facilidades da tecnologia digital, realizando uma série de trabalhos breves, em que continua a confrontar-se com textos preexistentes, de Montaigne, Brecht ou, no caso do seu derradeiro filme, de Georges Bernanos.
 
Esta homenagem a Jean-Marie Straub é feita com a estimada colaboração do Centre National de la Cinématographie (CNC), atual detentor dos direitos do conjunto de filmes de Straub-Huillet produzidos entre 1965 e 1995.
 
13/01/2023, 19h00 | Sala Luís de Pina
Ciclo Jean-Marie Straub – Nunca Reconciliado

Die Antigone des Sophokles Nach der Hölderlinschen Übertragung für die Bühne Bearbeitet von Brecht 1948 (Suhrkamp Verlag)
“A ‘Antígona’ de Sófocles, na tradução de Hölderlin, tal como foi adaptada à cena por Brecht em 1948 (edições Suhrkamp)”
de Jean-Marie Straub, Danièle Huillet
Alemanha, 1991-92 - 99 min
 
16/01/2023, 19h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Jean-Marie Straub – Nunca Reconciliado

Von Heute auf Morgen
“De Hoje Para Amanhã”
de Jean-Marie Straub, Danièle Huillet
Alemanha, França, 1996 - 62 min
 
21/01/2023, 19h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Jean-Marie Straub – Nunca Reconciliado

Dalla Nube alla Resistenza
de Jean-Marie Straub, Danièle Huillet
Alemanha, 1978-79 - 105 min
23/01/2023, 19h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Jean-Marie Straub – Nunca Reconciliado

Le Genou d’Artémide | Quei Loro Incontri
duração total da projeção: 94 min
26/01/2023, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Jean-Marie Straub – Nunca Reconciliado

Où Gît Votre Sourire Enfoui?
Onde Jaz o Teu Sorriso?
de Pedro Costa
Portugal, França, 2001 - 102 min
13/01/2023, 19h00 | Sala Luís de Pina
Jean-Marie Straub – Nunca Reconciliado
Die Antigone des Sophokles Nach der Hölderlinschen Übertragung für die Bühne Bearbeitet von Brecht 1948 (Suhrkamp Verlag)
“A ‘Antígona’ de Sófocles, na tradução de Hölderlin, tal como foi adaptada à cena por Brecht em 1948 (edições Suhrkamp)”
de Jean-Marie Straub, Danièle Huillet
com Astrid Ofner, Werner Rehms, Ursula Ofner
Alemanha, 1991-92 - 99 min
legendado em português | M/12
Como diz o longo título completo do filme, ANTIGONE parte do texto de Sófocles, na tradução de Hölderlin, que por sua vez foi adaptada ao palco por Brecht. Filmado ao ar livre, num teatro antigo na Sicília, o filme é hierático, como um ritual. Filme sobre a palavra, tanto mais forte que “nenhuma tragédia convém mais a Straub-Huillet do que Antígona, que vai ao limite extremo da selvajaria”, assinalou Laurence Giavarini nos Cahiers du Cinéma.

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16/01/2023, 19h30 | Sala Luís de Pina
Jean-Marie Straub – Nunca Reconciliado
Von Heute auf Morgen
“De Hoje Para Amanhã”
de Jean-Marie Straub, Danièle Huillet
com Christine Wittlesey, Richard Salter, Claudia Barainsky
Alemanha, França, 1996 - 62 min
legendado em português | M/12
VON HEUTE AUF MORGEN foi a terceira incursão de Straub-Huillet na obra de Arnold Schönberg. O filme transpõe uma ópera em um ato, a primeira no mundo escrita em estilo dodecafónico, estreada em 1930. Trata-se de uma ópera sobre o amor conjugal, que triunfa depois de uma crise entre o casal. Straub-Huillet tomaram vários partidos opostos aos de MOSES UND ARON: o filme é a preto e branco e, sobretudo, foi inteiramente feito em estúdio, o que era inédito na obra do casal. Mas mantiveram a opção de filmar em som direto e a mise-en-scène, meticulosa e calculada ao milímetro, é ditada pela música.

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21/01/2023, 19h30 | Sala Luís de Pina
Jean-Marie Straub – Nunca Reconciliado
Dalla Nube alla Resistenza
de Jean-Marie Straub, Danièle Huillet
com Olimpia Carlisi, Gino Felici, Ennio Lauricelle
Alemanha, 1978-79 - 105 min
legendado eletronicamente em português
O título da longa-metragem desta sessão, “DA NUVEM À RESISTÊNCIA” podia servir para designar a obra do par Straub-Huillet. Baseado em dois textos distintos de Cesare Pavese, o filme começa com a personagem de uma ninfa sobre uma árvore, que para Straub é a “nuvem” do título, “desde a invenção dos deuses pelos homens até à resistência, quase imediata, deste contra aqueles, até à resistência ao fascismo”. A propósito deste filme, Serge Daney observou que se Straub-Huillet sempre manifestaram “um respeito meticuloso pelos textos, é preciso notar aqui em que sentido eles sabem violentá-los”.

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23/01/2023, 19h30 | Sala Luís de Pina
Jean-Marie Straub – Nunca Reconciliado
Le Genou d’Artémide | Quei Loro Incontri
duração total da projeção: 94 min
legendados eletronicamente em português | M/12
LE GENOU D’ARTÉMIDE
de Jean-Marie Straub
com Andrea Bacci, Dario Marconcini
Itália, 2009 – 26 min

QUEI LORO INCONTRI
“Estes Encontros com Eles”
de Jean-Marie Straub, Danièle Huillet
com Enrico Achilli, Andrea Bacci, Andrea Balducci, Giovanna Daddi, Angela Durantini
Itália, França, 2006 – 68 min

Em QUEI LORO INCONTRI, Straub-Huillet voltam, mais uma vez, aos Dialoghi com Leucò, de Cesare Pavese (certamente o texto ao qual Straub voltou de maneira mais frequente ao longo da sua obra), de que aqui são abordados os cinco últimos diálogos. O filme fecha uma espécie de trilogia, depois de OPERAI, CONTADINI e LE RETOUR DU FILS PRODIGUE, com os mesmos atores, no mesmo cenário. QUEI LORO INCONTRI foi o último filme corealizado por Straub e Danièle Huillet, que faleceria a 9 de outubro de 2006. Retomando igualmente trechos dos Dialoghi con Leucò, de Cesare Pavese, LE GENOU D’ARTÉMIDE é um belíssimo trabalho de luto de Jean-Marie Straub por Danièle Huillet, feito de modo indireto. Num bosque, dois homens dizem trechos de Pavese e no epílogo, o bosque está vazio, pois a vida continua sem nós.

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26/01/2023, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Jean-Marie Straub – Nunca Reconciliado
Où Gît Votre Sourire Enfoui?
Onde Jaz o Teu Sorriso?
de Pedro Costa
com Jean-Marie Straub, Danièle Huillet
Portugal, França, 2001 - 102 min
legendado em português | M/6
com a presença de Pedro Costa
No momento da montagem da terceira versão de SICILIA! por Jean-Marie Straub e Danièle Huillet, Pedro Costa rodou uma “comédia da remontagem”. Por detrás da sua paciência au travail, terna e violenta, os dois cineastas desvelam uma certa ideia do cinema, do seu cinema, do seu casal e do casal tout court. Costa montou duas versões do filme, uma, mais curta, para ser emitida na série Cinéma, de Notre Temps e a que vamos ver.

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