25/06/2019, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Revisitar os Grandes Géneros: O Esplendor do Melodrama
V Chest Tchasov Vetchera Posle Voïny
“Às Seis da Tarde, Depois da Guerra”
de Ivan Pyriev
com Mariana Ladynina, Evgueny Samoilov, Ivan Liubeznov
URSS, 1944 - 93 min
legendado eletronicamente em português | M/12
No período do estalinismo triunfante, Ivan Pyriev (1901-1968) foi o “rei” do cinema de entretenimento na URSS e é considerado o inventor da comédia musical soviética, passando-se muitos dos seus filmes no campo, em kholkozes. Pyriev exerceu importantes funções burocráticas, que lhe deixaram má fama, mas o seu trabalho de realizador foi reavaliado nos últimos tempos. Enorme sucesso comercial (26 milhões de espectadores em 1944), V CHEST TCHASOV VETCHERA POSLE VOÏNY é a sua obra mais célebre. Filme de guerra musical, filmado num extravagante Sovcolor, conta a história de um soldado e de uma educadora de infância que prometem encontrar-se às seis da tarde, no dia do armistício. Mas o soldado fica sem uma perna e prefere passar por morto a forçar a amada a casar com um mutilado. Parece a história de AN AFFAIR TO REMEMBER, mas não é. Foi exibido pela última vez na Cinemateca em 2005.
 
25/06/2019, 18h00 | Sala Luís de Pina
Histórias do Cinema – Mário Jorge Torres: O Melodrama do Trágico ao Operático
Vaghe Stelle dell’Orsa…
de Luchino Visconti
com Jean Sorel, Claudia Cardinale, Marie Bell
Itália, França, 1965 - 100 min
legendado eletronicamente em português | M/12
VAGHE STELLE DEL’ORSA… é uma das obras menos conhecidas do autor de IL GATTOPARDO, talvez por não ser muito característica do seu estilo, pois Visconti quis que este filme fosse mais fechado e mais seco, mais “moderno” do que os que viria a fazer no seu período final, a partir de OS MALDITOS. A respeito da programação de um filme de Luchino Visconti num Ciclo sobre melodramas, note-se que, para ele, a palavra melodrama não era associada a um dramalhão, mas considerada no seu sentido etimológico, que é o sentido corrente da palavra em Itália, o de um drama com música. Filmado a preto e branco, o que começava a ser raro nos anos sessenta, o filme, cujo título cita o início de um célebre poema de Giacomo Leopardi (“Belas estrelas da Ursa”), conta a paixão incestuosa de um jovem pela irmã, que se encontram na mansão paterna, quando ela regressa, acompanhada pelo marido, para se confrontar com um passado intolerável (a mãe denunciara o pai que morrera num campo de concentração).
 
25/06/2019, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
In Memoriam Bibi Andersson
The Kremlin Letter
A Carta do Kremlin
de John Huston
com Bibi Andersson, Richard Boone, Nigel Green, Dean Jagger, Lila Kedrova
Estados Unidos, 1970 - 120 min
legendado eletronicamente em português | M/12
John Huston entrou na década de setenta com um thriller de espionagem que é também uma história de “Guerra-Fria”. Escreveu o argumento com Gladys Hill, sua colaboradora de longa data, numa adaptação fiel do romance de Noel Behn e filmou-o na Finlândia, reconstituindo em Helsínquia a atmosfera de Moscovo. Pouco estimado em termos de receção geral à época da sua estreia, THE KREMLIN LETTER teve, no entanto, fãs acérrimos. Jean-Pierre Melville foi um deles, defendendo-o como um filme magistral. O seu realismo formal e a crueldade da visão de Huston são hoje notados como elementos fulcrais do poder do filme. Na Cinemateca, foi mostrado uma única vez, na retrospetiva John Huston de 2009.
 
25/06/2019, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Revisitar os Grandes Géneros: O Esplendor do Melodrama
Mother India
de Mehboob Khan
com Nargis, Sumil Dutt, Rajendra Kunar
Índia, 1957 - 172 min
legendado em inglês e eletronicamente em português | M/12
A Índia foi durante muitos anos o maior produtor mundial de filmes, sendo origem de uma filmografia vastíssima que teve o seu primeiro “boom” logo na década inicial do sonoro, quando integrou as antiquíssimas tradições de canto e dança que, em última análise, recuavam ao teatro sânscrito. Embora, no Ocidente, tenha começado por penetrar melhor algum do cinema indiano que (com alguns equívocos nessa perceção) seguia uma matriz mais “ocidental” (caso da grande obra de Satyajit Ray), pouco a pouco os ecrãs abriram-se também ao conhecimento do modelo por excelência que suportou essa mega-indústria, o qual, na sua imensa variedade regional e linguística, correspondeu sempre a uma forma básica, altamente convencionada, de melodrama no seu sentido original, com números cantados e dançados. Dessa outra matriz, que teve óbvio apogeu qualitativo nos maiores cineastas da década de cinquenta, MOTHER INDIA é um dos arquétipos e um dos maiores êxitos absolutos. Mehboob Khan (1908-64) era autor de uma outra famosíssima obra, AAN (entre nós PRESTÍGIO REAL), o célebre filme que à época rompeu o bloqueio português à produção indiana e que aqui foi distribuído numa versão amputada em 40 minutos. MOTHER INDIA narra a história de Radha (interpretada pela célebre Nargis), uma mulher cujo casamento foi pago mediante um empréstimo de um usurário e cujos juros acabam por fazê-la perder grande parte da colheita da sua família. Entretanto, com os braços amputados por um acidente quando trabalhava a terra em condições desumanas, o marido de Radha, sentindo-se um estorvo inútil, acaba por deixá-la com os seus três filhos, no que apenas antecipa uma imparável sucessão de desastres que a levam a perder tudo (chegando a matar um dos filhos, tornado líder de um gangue criminoso) ao mesmo tempo que se ergue como heroína de uma comunidade e de uma terra destruída por causas naturais, Uma obra imensa, plena de referências à mitologia hindu, cuja última exibição na Cinemateca ocorreu em 2007.