CICLO
Quatro Vistas de Otar Iosseliani


“Nunca pensei em fazer um filme político, porque não me considero um perito na matéria. A única coisa que sei é que estou sempre do lado do mais fraco e que detesto os oportunistas e os parasitas. Quanto à seriedade, a nossa profissão é suficientemente dura e fastidiosa para nos impedir de a encarar com ligeireza. Os filmes de que gosto são o resultado de reflexões extremamente sérias, sobretudo quando parecem filmes leves e divertidos.” Foi em abril de 1999 que Otar Iosseliani (1934-2023) assim disse, respondendo a Martine Martignac, sua produtora da época, a propósito de ADIEU, PLANCHER DES VACHES.
Expressão marinheira pela alegria de largar terra firme, Adeus, terra firme é um bom dito para referir a obra viajante de Otar Iosseliani, firmada genericamente a partir da Geórgia e de França, quando o exílio se impôs aos problemas agudos com a censura soviética. A primeira fase situou-se na passagem dos anos 1950-1960 dos seus filmes de escola, na VGIK de Moscovo, até 1975, data de PASTORAL; a segunda teve início no começo da década de 1980, a partir de 7 PIÈCES POUR CINÉMA NOIR ET BLANC e sobretudo LES FAVORIS DE LA LUNE, a longa-metragem que marcou o princípio do reconhecimento alargado da sua obra em meados da década.
“O mais secreto dos cineastas da geração de 60 da URSS” – como a Cinemateca o apresentou em 2006 sublinhando a energia criativa da sua filmografia em curso – propôs uma visão do mundo cuja solidez foi assentando num hedonismo subversivo, na circulação, na travessia de territórios, épocas, registos, numa gravidade de temperamento pessimista que encontrava o reverso do júbilo e da sensação de leveza em filmes atentos ao quotidiano contemporâneo, ao pormenor, à possibilidade de absurdo. Em parte deles, Iosseliani foi um realizador-ator da estirpe de Buster Keaton, Jacques Tati ou João César Monteiro, de quem foi próximo. Um corpo em acordo com o cinema que praticava, a partir de um método rigoroso, na preferência pela linguagem narrativa não verbal, as marcas do plano geral, da fluidez da mise-en-scène, elegância de estilo, liberdade de espírito.
A Cinemateca apresentou uma retrospetiva da sua obra em 2006, altura em que o cineasta esteve em Lisboa e da qual data o catálogo Otar Iosseliani, O Mundo visto da Geórgia / a Geórgia Vista do Mundo. Iosseliani voltou à Cinemateca em 2015 para apresentar LES FAVORIS DE LA LUNE numa sessão programada no contexto do LEFFEST 2015.

Dois dos quatro títulos agora programados “in memoriam” cruzam os eixos Liberdade e Comunidade do programa “50 Anos de Abril: Que Farei Eu com Esta Espada?”: CHANTRAPAS e PASTORALI (notas acessíveis no ciclo “50 Anos de Abril: Que Farei Eu com Esta Espada?”).

 
 
07/02/2024, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Quatro Vistas de Otar Iosseliani

Les Favoris de la Lune
Os Favoritos da Lua
de Otar Iosseliani
França, 1984 - 105 min
 
26/02/2024, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Quatro Vistas de Otar Iosseliani

Chant d’Hiver
de Otar Iosseliani
França, Geórgia, 2015 - 117 min
29/02/2024, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Quatro Vistas de Otar Iosseliani

Chant d’Hiver
de Otar Iosseliani
França, Geórgia, 2015 - 117 min
07/02/2024, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Quatro Vistas de Otar Iosseliani
Les Favoris de la Lune
Os Favoritos da Lua
de Otar Iosseliani
com Katja Rupé, Alix de Montaigu, Pascal Aubier, Hans Peter Cióos, Maite Nahyr
França, 1984 - 105 min
legendado em português | M/12
A primeira longa-metragem da fase francesa da obra de Iosseliani, nascida na Geórgia antes do exílio do cineasta, propõe um puzzle burlesco de movimentos de uma série de personagens a que não é alheia uma crítica corrosiva dos costumes. Uma espécie de jogo do acaso e encontros acidentais das pessoas mais díspares: vagabundos que fazem explodir uma estátua, um ladrão que “educa” o filho, um serralheiro traído pela mulher, um armeiro. “Iosseliani encena um mundo de espelhos e reflexos, onde a ‘verdade’ não está na mão de ninguém e onde andam todos ao mesmo: ao poder, ao dinheiro, etc. Uma das facetas da obra de Iosseliani desde LES FAVORIS DE LA LUNE tem sido esta crónica [contemporânea] das pequenas ou grandes intrujices e falsidades do mundo ocidental; o segredo da sua eficácia está aí, no facto de ser muito mais uma ‘crónica’ do que uma ‘denúncia’.” (Luís Miguel Oliveira, 2015)

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26/02/2024, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Quatro Vistas de Otar Iosseliani
Chant d’Hiver
de Otar Iosseliani
com Amiran Amiranashvili, Enrico Ghezzi, Mathieu Amalric
França, Geórgia, 2015 - 117 min
legendado em inglês e eletronicamente em português | M/12
“A guerra é sempre inútil, não muda nada. Guerra entre vizinhos, entre partidos políticos, entre Estados, guerra para conquistar territórios – não tem utilidade nenhuma. Os cineastas têm feito pouco da guerra, troçado dela, logo na Primeira Guerra Mundial, logo com Chaplin.” (Otar Iosseliani a propósito da guerra como motivo recorrente dos seus filmes, na entrevista de Locarno 2015, a Nick Pinkerton, Film Comment) CHANT D’HIVER põe em cena uma história que ronda tempos, episódios, personagens diversos aproximando-se da comédia humana fantasista e musical em fase com o conjunto da obra de Iosseliani. Diz a sinopse que há semelhanças perturbadoras, concluindo que “no meio de todo este caos há uma espécie de sonhos, histórias de amor, amizades firmes que talvez nos permitam esperar que amanhã será melhor que hoje”. Prémio especial do júri João Bénard da Costa no LEFFEST’15, não estreou comercialmente em Portugal. É o Iosseliani que faltava apresentar na Cinemateca.

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29/02/2024, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Quatro Vistas de Otar Iosseliani
Chant d’Hiver
de Otar Iosseliani
com Amiran Amiranashvili, Enrico Ghezzi, Mathieu Amalric
França, Geórgia, 2015 - 117 min
legendado em inglês e eletronicamente em português | M/12
“A guerra é sempre inútil, não muda nada. Guerra entre vizinhos, entre partidos políticos, entre Estados, guerra para conquistar territórios – não tem utilidade nenhuma. Os cineastas têm feito pouco da guerra, troçado dela, logo na Primeira Guerra Mundial, logo com Chaplin.” (Otar Iosseliani a propósito da guerra como motivo recorrente dos seus filmes, na entrevista de Locarno 2015, a Nick Pinkerton, Film Comment) CHANT D’HIVER põe em cena uma história que ronda tempos, episódios, personagens diversos aproximando-se da comédia humana fantasista e musical em fase com o conjunto da obra de Iosseliani. Diz a sinopse que há semelhanças perturbadoras, concluindo que “no meio de todo este caos há uma espécie de sonhos, histórias de amor, amizades firmes que talvez nos permitam esperar que amanhã será melhor que hoje”. Prémio especial do júri João Bénard da Costa no LEFFEST’15, não estreou comercialmente em Portugal. É o Iosseliani que faltava apresentar na Cinemateca.

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