CICLO
Sangue e Nervo: O Cinema de William Friedkin


Numa conversa com o compositor Bernard Herrmann aquando da pós-produção de THE EXORCIST, um descarado William Friedkin ter-se-á virado para o compositor e dito: “Quero que me escrevas uma banda sonora melhor do que a que fizeste para o CITIZEN KANE.” Herrmann, pela mesma moeda, terá respondido: “Então, porque é que não fazes um filme melhor que o CITIZEN KANE?”
Reconhecido pelo público como um mestre do terror e do thriller policial e, no meio cinematográfico, pela sua personalidade tão ousada quanto tempestiva, William Friedkin implantara-se na história do cinema norte-americano como um dos nomes mais celebrados da Nova Hollywood e, provavelmente, a figura desta “escola” que mais facilmente podemos categorizar de enfant terrible: é inevitável falar-se de THE EXORCIST, do seu sangrento impacto no cinema de terror, e das reações físicas que muitos tiveram à data de estreia.
Mas Friedkin é, obviamente, muito mais que isso: iniciando a sua carreira no documentário de televisão com THE PEOPLE VS. PAUL CRAMP, sobre um afro-americano condenado injustamente à cadeira elétrica por roubo, as primeiras ficções começaram inicialmente com a adaptação de peças teatrais como THE BIRTHDAY PARTY e THE BOYS IN THE BAND, para finalmente colidirem num argumento original que proporcionou a Friedkin o seu primeiro grande sucesso crítico e comercial, THE FRENCH CONNECTION, vencedor de 5 Oscars da Academia de Hollywood, e onde o frenético trabalho de câmara na mão (nomeadamente na icónica cena de perseguição, que veio a autorreferenciar em TO LIVE AND DIE IN L.A.) cimentou a sua linguagem no thriller de ação. Fora também aqui que Friedkin revelou alguns dos elementos fundamentais da sua iconografia: o suspense, a obsessão, a moralidade (e a falta dela), elementos que colidiriam de modo mais radical em THE EXORCIST, ou SORCERER, aclamado pela crítica e caracterizado pelo perfecionista Friedkin como o único filme do qual não alteraria nenhum plano; ainda assim, num frente a frente nas bilheteiras com STAR WARS, de George Lucas, SORCERER acabou por ficar pelo caminho e Friedkin, apesar de continuar a realizar regularmente até 2018, não voltaria a atingir o sucesso comercial dessas primeiras produções. Resguardou, ainda assim, o gosto pelo choque, a pulsão amoral, a ambição, regressado em plena forma nos mais recentes KILLER JOE ou BUG. Estas últimas produções não serão esquecidas na retrospetiva que a Cinemateca agora apresenta em homenagem póstuma ao realizador, mas que estava a ser preparada há algum tempo e que contaria com a sua presença. Serão 11 filmes de William Friedkin, para ver ou rever, enquanto não estreia por cá o seu derradeiro filme, THE CAINE MUTINY COURT-MARTIAL, apresentado no recente festival de Veneza apenas um mês após a sua morte.
 
 
02/10/2023, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Sangue e Nervo: O Cinema de William Friedkin

The French Connection
Os Incorruptíveis Contra a Droga
de William Friedkin
Estados Unidos, 1971 - 103 min
 
02/10/2023, 19h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Sangue e Nervo: O Cinema de William Friedkin

Sorcerer
O Comboio do Medo
de William Friedkin
Estados Unidos, 1977 - 121 min
02/10/2023, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Sangue e Nervo: O Cinema de William Friedkin

Cruising
A Caça
de William Friedkin
Estados Unidos, 1980 - 102 min
03/10/2023, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Sangue e Nervo: O Cinema de William Friedkin

The Exorcist
O Exorcista
de William Friedkin
Estados Unidos, 1973 - 131 min
03/10/2023, 19h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Sangue e Nervo: O Cinema de William Friedkin

Conversation With Fritz Lang
de William Friedkin
Estados Unidos, 1975 - 50 min
02/10/2023, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Sangue e Nervo: O Cinema de William Friedkin
The French Connection
Os Incorruptíveis Contra a Droga
de William Friedkin
com Gene Hackman, Fernando Rey, Roy Scheider
Estados Unidos, 1971 - 103 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Todo o nervo de Friedkin num dos mais célebres filmes da década de setenta (premiado com cinco Oscars). Um filme policial urbano e violento, sobre o tráfico de heroína em Nova Iorque. As cenas de perseguição automóvel ficaram famosas e Gene Hackman compôs aqui uma das mais memoráveis personagens da sua carreira: o detetive Popeye Doyle. Os anos setenta também eram assim. A exibir em cópia digital.

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02/10/2023, 19h30 | Sala Luís de Pina
Sangue e Nervo: O Cinema de William Friedkin
Sorcerer
O Comboio do Medo
de William Friedkin
com Roy Scheider, Bruno Cremer, Francisco Rabal, Amidou, Ramon Bieri
Estados Unidos, 1977 - 121 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Este Friedkin, anos setenta, é a adaptação americana do romance francês Le Salaire de la Peur (Georges Arnaud, 1950), invariavelmente associada à sua primeira adaptação ao cinema, em 1953, por Henri-Georges Clouzot, por mais que Friedkin sempre tenha recusado SORCERER como um remake do icónico LE SALAIRE DE LA PEUR. É também, entre os que realizou, um favorito de Friedkin, e um thriller cuja “aura de culto” emergiu nos últimos anos e foi ampliado pelo recente restauro digital do filme. No seu fulcro narrativo está o encontro de quatro personagens acossadas algures na América Latina, encarregues do transporte de nitroglicerina em plena selva, ao volante de velhos camiões face a uma eventual catástrofe petrolífera que tentam impedir. “O ‘feiticeiro’ é um lagarto maléfico e neste caso o lagarto maléfico é o destino” (Friedkin). A apresentar em cópia digital.

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02/10/2023, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Sangue e Nervo: O Cinema de William Friedkin
Cruising
A Caça
de William Friedkin
com Al Pacino, Paul Sorvino, Karen Allen, Richard Cox, Don Scardino
Estados Unidos, 1980 - 102 min
legendado eletronicamente em português | M/16
“Al Pacino is cruising for a killer”, apregoava o cartaz do Friedkin de um quente verão nova-iorquino que na sua filmografia “abriu” com alguma polémica os anos oitenta, vagamente baseado no romance homónimo do jornalista do The New York Times Gerald Walker sobre o caso de um serial killer que perseguia homossexuais preferencialmente vestidos de cabedal. O título joga com o duplo sentido de “cruising” que no original tanto pode descrever o trabalho de patrulha policial como o engate sexual. Recebido com protestos por comunidades ativistas homossexuais (logo durante as filmagens), atacado por uma implícita mensagem homofóbica, pouco estimado pela crítica e pelo público quando saiu, CRUISING foi conquistando um lugar de título a redescobrir. Recentemente, INTERIOR.LEATHER BAR (James Franco, Travis Mathews, 2013) tentou recriar 40 minutos de “imagens perdidas” de CRUISING, alegadamente deixadas de parte na montagem por conteúdo sexual “demasiado explícito”. Uma incursão na subcultura nova-iorquina, com Al Pacino no papel de um detetive que nela mergulha à paisana para defrontar, entre outros, os seus próprios demónios. A apresentar em cópia digital.

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03/10/2023, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Sangue e Nervo: O Cinema de William Friedkin
The Exorcist
O Exorcista
de William Friedkin
com Linda Blair, Ellen Burstyn, Max von Sydow, Lee J. Cobb
Estados Unidos, 1973 - 131 min
legendado em português | M/16
Grande êxito comercial dos anos setenta, um filme em que tudo foi calculado para escandalizar e meter medo. Uma adolescente torna-se agressiva, passa a dizer obscenidades e adquire uma força física descomunal. A sua mãe pensa que ela sofre de perturbações mentais. Mais tarde, em desespero de causa, pedirá ajuda a um padre exorcista. Excelentes trucagens e Oscar de melhor argumento. Lee J. Cobb faz o papel do polícia que investiga uma morte suspeita, atribuída à jovem. Cerca de trinta anos depois da estreia de THE EXORCIST, Friedkin montaria a versão a apresentar, um director’s cut com mais onze minutos.

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03/10/2023, 19h30 | Sala Luís de Pina
Sangue e Nervo: O Cinema de William Friedkin
Conversation With Fritz Lang
de William Friedkin
com William Friedkin, Fritz Lang
Estados Unidos, 1975 - 50 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Lendária entrevista de William Friedkin em pico de forma (realizara de rajada THE FRENCH CONNECTION e THE EXORCIST, e encaminhava-se para SORCERER) a um Fritz Lang aposentado, no penúltimo ano da sua vida (e na última das suas aparições em imagem filmada). Primeira apresentação na Cinemateca.

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