Para abrir o verão, uma sessão dupla FILMar, que atravessa os vários espaços da Cinemateca e junta, em diálogo cruzado e comparado, nove filmes, a partir de uma carta branca ao realizador Jorge Jácome, autor de SUPER NATURAL, ante-estreado na nossa sala em maio, e atualmente em exibição. Os filmes de Jorge Jácome trabalham sobre o material – o espaço físico – enquanto depósito de dimensões imateriais que o condicionam – o discurso, o tempo, a passagem por ele –, sendo, por isso, exemplos de como o modo de fazer cinema responde a necessidades do contexto onde é produzido. Sendo filmes sobre a memória, desafiam a ideia de universalidade que o cinema deve compor. Por outro lado, propõem um modo de agir sobre o poder da imagem – de sedução, de manipulação do real e do presente –, que em tudo permite imaginar espetadores desafiados pelo tempo e a sua própria memória sobre as imagens. Esta é uma leitura contemporânea sobre o cinema enquanto arquivo emocional, tendo como fronteira de reflexão a sua frágil condição de recontextualizador de imagens do passado. A sessão é dupla, mas pode ser vista separadamente, mas antes e entre elas, no foyer das nossas salas, criamos uma outra experiência com MOOOOOON (2019), apresentado enquanto espelho com o mar, num filme--imagem feito para pensar o espaço para fora do ecrã, onde a inquietude e a surpresa ativam a nossa condição de espetadores de cinema, passando a ser observadores de um real mediado.