CICLO
In Memoriam Carlos Saura


Com a morte de Carlos Saura a 10 de fevereiro deste ano (no dia seguinte iria receber o prémio Goya de Honor, pelo seu contributo para a História do cinema espanhol) encerrou-se, também, parte de uma cronologia histórica do cinema, não só do país, como da Europa. Um dos mais reconhecidos representantes do Novo Cinema Espanhol, e um dos últimos redutos das novas vagas europeias a persistir à passagem dos anos, Saura faleceu aos 91 anos em Madrid.  Iniciando a sua carreira na fotografia de rua no fim dos anos 40, foi a partir dela que informou a vertente documentarista das suas primeiras incursões no cinema. A sua primeira longa-metragem dá-se com LOS GOLFOS, de 1960, filme de pendor neorrealista, mas, a partir de 1966 com LA CAZA (obra maior do cinema espanhol que, à altura, vencedora do Urso de Prata do Festival Internacional de Cinema de Berlim, projetou o seu nome para um público mais alargado) a sua produção fílmica começa a incorrer numa abordagem mais indireta e metafórica, preocupada com a realidade sociopolítica do seu país, mas servindo-se de estratagemas simbólicos para escapar à censura do regime franquista. Este filme, que estreou nos cinemas espanhóis com acolhimento ambivalente, não só estabeleceu Saura como um cineasta provocador e profundamente engajado, como mereceu o aval da sua maior referência, Luis Buñuel (que conhecera já no Festival de Cannes de 1960), sobre o qual fará um filme em 2001, intitulado BUÑUEL Y LA MESA DEL REY SALOMON. A partir de LA CAZA, Saura procurará caminhar lado a lado de Buñuel com interrogações sobre o que definiu como uma “crise” na sociedade espanhola, com algum foco na burguesia. PEPPERMINT FRAPPÉ de 1967 foi o primeiro desses exemplos. Num cá e lá entre pessoal e social que definiu a sua produção dos anos 70, e estabeleceu as tendências simbólicas que vinham já a ser encaradas como fundamentais ao seu cinema (algumas das suas melhores obras como ANA Y LOS LOBOS e CRÍA CUERVOS aparecem nesta década), será na contínua busca de novos modos de expressão, e no afastamento progressivo da focagem politizada destas primeiras fases do seu cinema, assim como da formalidade das novas vagas europeias, que chega à década de 80 com um novo fascínio pelo corpo e pelo movimento, exemplificado pelos vários filmes que dedicou à música e à dança. Será ainda durante esta fase tardia da sua carreira cinematográfica que começa a explorar outros meios artísticos, tais como a ópera e a escrita nos anos 90, ou mesmo a partir de 2013, a direção de teatro. Destaque-se, por fim, a sua relação com Portugal, efetivada no filme FADOS de 2007, uma das maiores homenagens contemporâneas a esta forma artística no cinema. 
 
 
14/06/2023, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo In Memoriam Carlos Saura

La Caza
A Caça
de Carlos Saura 
Espanha, 1966 - 87 min
 
16/06/2023, 21h45 | Esplanada
Ciclo In Memoriam Carlos Saura

Fados
Fados
de Carlos Saura
Portugal, Espanha, 2007 - 93 minutos | M/6
17/06/2023, 21h45 | Esplanada
Ciclo In Memoriam Carlos Saura

Los Golfos
de Carlos Saura
Espanha, 1959 - 82 min
19/06/2023, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo In Memoriam Carlos Saura

Stress Es Tres-Tres
Em Três, Um É Demais
de Carlos Saura
Espanha, 1968 - 94 minutos
20/06/2023, 21h45 | Esplanada
Ciclo In Memoriam Carlos Saura

Cría Cuervos
Cria Corvos
de Carlos Saura 
Espanha, 1975 - 110 min
14/06/2023, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
In Memoriam Carlos Saura
La Caza
A Caça
de Carlos Saura 
com Ismael Merlo, Alfredo Mayo, José Maria Prada 
Espanha, 1966 - 87 min
legendado eletronicamente em português | M/12 
Produzido por Elias Querejeta, nome fundamental do cinema espanhol moderno (também produtor de Erice, anos mais tarde), LA CAZA foi o filme que mais fez pela revelação internacional de Carlos Saura. O tema, tratado com pinças para evitar a ação da censura, é a grande ferida espanhola do século XX, a Guerra Civil de 1936-39. Um grupo de veteranos falangistas reúne-se para uma caçada, e entre recordações da guerra e tiros ao coelho (os ecos de LA RÈGLE DU JEU não serão fortuitos), a tensão entre eles vai crescendo e acabar em tragédia. Uma sugestão poderosíssima dos conflitos por resolver dentro da sociedade espanhola, mas também uma expressão da sua violência latente.  

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16/06/2023, 21h45 | Esplanada
In Memoriam Carlos Saura
Fados
Fados
de Carlos Saura
com Carlos do Carmo, Mariza, Chico Buarque
Portugal, Espanha, 2007 - 93 minutos | M/6
Única coprodução portuguesa de Saura, FADOS resulta como uma dedicatória do realizador espanhol ao fado, em linha com os seus documentários sobre uma certa etnografia do seu país, de que FLAMENCO ou IBERIA são exemplo. Com a participação de nomes maiores do fado contemporâneo, entre eles Carlos do Carmo, Camané e Mariza, FADOS impõe-se, por um lado, como um olhar distanciado sobre esta expressão musical, mas também, como um inventário poético desta arte durante os primeiros anos do século XXI, com a ambição de procurar diálogos mais alargados com outras expressões musicais como a canção brasileira ou o cante flamenco, que várias vezes abordou na sua filmografia. Primeira apresentação na Cinemateca. 

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17/06/2023, 21h45 | Esplanada
In Memoriam Carlos Saura
Los Golfos
de Carlos Saura
com Manuel Zarzo, Luis Marín, Óscar Cruz 
Espanha, 1959 - 82 min
legendado eletronicamente em português | M/16 
Na sua primeira longa-metragem, Carlos Saura recorre a um grupo de não-atores para contar uma história filmada exclusivamente fora do estúdio. De uma forte clareza política (que levou a diferentes cortes e montagens da obra por parte da censura franquista, tendo a sua estreia no país acontecido apenas em 1962), alimentada pelo neorrealismo que caracterizou as primeiras curtas do realizador e, contextualmente, pela opressão vivida sob a alçada do regime franquista, LOS GOLFOS é a história de um grupo de rapazes que planeia um assalto, para que um deles consiga concretizar o sonho de se tornar toureiro profissional. O filme marca a entrada de Saura no domínio da ficção narrativa, ainda que o seu olhar, profundamente consciente das discrepâncias sociais do seu país, nunca evite o confronto direto com a realidade.  

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19/06/2023, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
In Memoriam Carlos Saura
Stress Es Tres-Tres
Em Três, Um É Demais
de Carlos Saura
com Geraldine Chaplin, Jean Luis Gallardo, Fernando Cebrián
Espanha, 1968 - 94 minutos
legendado eletronicamente em português | M/16
Após a aclamação crítica de LA CAZA e PEPPERMINT FRAPPÉ, o realizador assinava este menos conhecido STRESS ES TRES-TRES, filme que descreveu como uma tentativa de se libertar dos constrangimentos narrativos das suas obras anteriores. Nesse sentido, o filme mostra-se mais aberto a experimentalismos formais, recuperando alguma da vertente documentarista das suas primeiras incursões no cinema, aqui, aplicada a uma ficção de ciúme, dentro de um triângulo amoroso, que se desenrola ao longo de um dia. No entanto, a fixação sexual de PEPPERMINT FRAPPÉ, assim como a interpretação de Geraldine Chaplin, companheira do realizador à altura destes filmes, ainda perpassam neste STRESS ES TRES-TRES, compondo um conto surreal à medida das obsessões do realizador. Primeira apresentação na Cinemateca.  

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20/06/2023, 21h45 | Esplanada
In Memoriam Carlos Saura
Cría Cuervos
Cria Corvos
de Carlos Saura 
com Geraldine Chaplin, Ana Torrent 
Espanha, 1975 - 110 min
legendado eletronicamente em português | M/16
Último filme de Saura realizado durante o franquismo (foi filmado durante a longa agonia do ditador), CRÍA CUERVOS marca o fim de um importante período na obra do realizador, durante o qual realizou provavelmente os seus melhores filmes. O título faz alusão a um provérbio espanhol: “Cria corvos e eles arrancar-te-ão os olhos”. A ação passa-se num casarão em Madrid, onde vivem três crianças, com o pai viúvo, uma criada e uma tia. Uma delas (Ana Torrent, a protagonista de EL ESPIRITU DE LA COLMENA), fechada num universo de sonho, julga-se responsável pela morte do pai e faz reaparecer a sua mãe morta, com quem mantém uma estranha relação. Mas este filme mórbido e belíssimo acaba com uma nota de otimismo.  

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