CICLO
Double Bill


JOCHUKKO e MOONFLEET são duas produções de 1955, realizadas no Japão (Nikkatsu), por Tomotaka Tasaka, e nos EUA (MGM), por Fritz Lang. Desde logo distantes nas características técnicas – o preto e branco formato de imagem quadrado de JOCHUKKO a contrastar com o Eastmancolor CinemaScope de MOONFLEET – são aproximáveis como contos de perda. As outras duplas de março tecem-se na visibilidade e na invisibilidade, aproximando CITY LIGHTS de Chaplin e ON DANGEROUS GROUND de Nicholas Ray, dois “clássicos” absolutos das décadas de 1930 e 50; LOU N’A PAS DIT NON de Anne-Marie Miéville e CANYON PASSAGE de Jacques Tourneur, num raccord menos translúcido; THE MAGNIFICENT AMBSERSONS e BLIND HUSBANDS de Orson Welles e Erich von Stroheim, dois cineastas de começos fulgurantes, com queda para uma certa “maldição”. BLIND HUSBANDS é apresentado numa nova e recente versão (digital de alta definição) que recupera material desaparecido e tem sido anunciada como “a versão original de 1919” (por oposição à versão americana de 1924 em que tem sido visto): um verdadeiro acontecimento.
 
 
04/03/2023, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill

Jochukko | Moonfleet
duração total da projeção: 229 min | M/12
 
11/03/2023, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill

City Lights | On Dangerous Ground
duração total da projeção: 169 min | M/12
18/03/2023, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill

Lou n’a Pas Dit Non | Canyon Passage
duração total da projeção: 170 min | M/12
25/03/2023, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill

The Magnificent Ambersons | Blind Husbands
duração total da projeção: 188 min | M/12
04/03/2023, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
Jochukko | Moonfleet
duração total da projeção: 229 min | M/12
A projeção decorre com um intervalo de 20 minutos entre os dois filmes
JOCHUKKO
O Menino da Ama
de Tomotaka Tasaka
com Sachiko Hidari, Shûji Sano, Yukiko Todoroki, Chieko Higashiyama, Teruo Inaba, Jô Shishido
Japão, 1955 – 142 min / legendado em português

MOONFLEET
O Tesouro de Barba Ruiva
de Fritz Lang
com Stewart Granger, Jon Whiteley, Joan Greenwood, George Sanders, Viveca Lindfors
Estados Unidos, 1955 – 87 min / legendado em português

Baseado num romance de Shigeko Yuki, O MENINO DA AMA conta a pungente história da ligação de Hatsu, uma jovem ama, e do pequeno Katsumi: Hatsu deixa a família e a sua terra, rural e longínqua, para saldar uma dívida de gratidão, indo trabalhar em Tóquio, junto dos Kajiki. A experiência na capital japonesa, em casa de uma família burguesa, raia a deceção, deixando florescer uma relação de grande cumplicidade com o filho mais novinho que terá de aprender o que é uma despedida. Sucede algo de parecido ao miúdo de MOONFLEET, num território de aventura e piratas: o universo de Stevenson, entre Treasure Island e Kidnapped, não teve melhor versão no cinema do que esta obra-prima de Fritz Lang, que adapta o livro de outro escritor, J. Meade Falkner. Segue a estranha história de um garoto, órfão, que se liga de amizade com um contrabandista numa viagem rumo à descoberta do fabuloso diamante do Barba-Ruiva, escondido na cisterna de uma fortaleza. O MENINO DA AMA foi estreado em Portugal com um desfasamento de 66 anos, numa singular iniciativa de distribuição da The Stone and the Plot com Miguel Patrício, em 2021, integrando um lote de três títulos japoneses de 1955 até então inéditos fora do Japão. É um grande filme, uma obra de extrema sensibilidade, numa primeira apresentação na Cinemateca (em digital).

consulte a FOLHA DA CINEMATECA de JOCHUKKO, aqui

consulte a FOLHA DA CINEMATECA de MOONFLEE, aqui
11/03/2023, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
City Lights | On Dangerous Ground
duração total da projeção: 169 min | M/12
A projeção decorre com um intervalo de 20 minutos entre os dois filmes
CITY LIGHTS
Luzes da Cidade
de Charles Chaplin
com Charles Chaplin, Virginia Cherril, Harry Myers, Hank Mann
Estados Unidos, 1931 – 87 min
mudo (com banda musical), intertítulos em inglês legendados eletronicamente em português

ON DANGEROUS GROUND
Cega Paixão
de Nicholas Ray
com Robert Ryan, Ida Lupino, Ward Bond
Estados Unidos, 1952 – 82 min / legendado em português

Em pleno triunfo do cinema sonoro, Chaplin teve a ousadia de realizar um filme mudo com acompanhamento musical gravado com as imagens. Mas foi pela sua hábil mistura de burlesco e melodrama que CITY LIGHTS se tornou dos mais célebres e admirados dos seus filmes. A última imagem, um grande plano do rosto de Chaplin, atravessado por emoções contraditórias depois do reencontro com a rapariga, é das mais célebres e inesquecíveis de toda a história do cinema. ON DANGEROUS GROUND é um perturbante Nicholas Ray, que tem o seu centro no encontro entre um polícia violento e uma jovem cega, que vive numa casa isolada, casulo protetor para ela e o seu irmão adolescente, que será objeto de uma brutal caça ao homem. E é antes de mais, como se tem notado, um filme sobre o conflito entre o ver, o não ver, e o acreditar. CITY LIGHTS é apresentado em cópia digital.

consulte a FOLHA DA CINEMATECA de CITY LIGHTS, aqui

consulte a FOLHA DA CINEMATECA de ON DANGEROUS GROUND, aqui
18/03/2023, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
Lou n’a Pas Dit Non | Canyon Passage
duração total da projeção: 170 min | M/12
A projeção decorre com um intervalo de 20 minutos entre os dois filmes
LOU N’A PAS DIT NON
de Anne-Marie Miéville
com Marie Bunel, Manuel Blanc, Caroline Micla, Geneviève Pasquier, Métilde Weyergans
França, Suíça, 1994 – 78 min / legendado em inglês e eletronicamente em português

CANYON PASSAGE
Amor Selvagem
de Jacques Tourneur
com Dana Andrews, Susan Hayward, Brian Donlevy, Ward Bond
Estados Unidos, 1946 – 92 min / legendado em português

LOU N’A PAS DIT NON, segunda longa-metragem de Anne-Marie Miéville, inspira-se, em parte, na correspondência entre Lou Salomé e Rainer Maria Rilke, refletindo histórias de casais, ou uma história do casal. Lou e Pierre reencontram-se certa noite a que assistem, juntos, a um bailado numa longa e magnífica sequência (composta a partir da coreografia de Jean-Claude Gallotta, Docteur Labus, outra “fonte” do filme). A narrativa difusa acompanha o tempo da preparação da curta-metragem de Lou, que filma uma escultura representado Vénus e Marte no Louvre. A sua matéria e sensorialidade fluem dos “mistérios da carne e dos da mente” que Freddy Buache associou à dança desenfreada do pas de deux e à imobilidade das estátuas do filme numa carta enviada à realizadora em 1998. Na sessão, segue-se o belo western de Jacques Tourneur, com Dana Andrews e Susan Hayworth, que celebra a ideia de comunidade a partir de uma história de interesses e paixões rivais entre pioneiros no Oregon com realismo e poesia. “Tourneur aplica ao western as mesmas regras que usou na abordagem dos filmes de terror: um desvio da estrada principal do género para percorrer insólitos e estranhos atalhos que têm a ver com a memória e a sugestão, que transfigura no olhar do espectador as imagens realistas que a câmara capta” (Manuel Cintra Ferreira). LOU N’A PAS DIT NON foi mostrado uma única vez na Cinemateca, em 1998, permanecendo algo raro em projeção.

consulte a FOLHA DA CINEMATECA de LOU N'A PAS DIT NON, aqui

consulte a FOLHA DA CINEMATECA de CANYON PASSAGE, aqui
25/03/2023, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
The Magnificent Ambersons | Blind Husbands
duração total da projeção: 188 min | M/12
A projeção decorre com um intervalo de 20 minutos entre os dois filmes
THE MAGNIFICENT AMBERSONS
O Quarto Mandamento
de Orson Welles
com Joseph Cotten, Dolores Costello, Anne Baxter, Tim Holt, Agnes Moorehead, Orson Welles
Estados Unidos, 1942 – 88 min / legendado em português

BLIND HUSBANDS
O Abismo
de Erich von Stroheim
com Erich von Stroheim, Sam de Grasse, Gibson Gowland, Francelia Billington
Estados Unidos, 1919 – 100 min, mudo (com banda musical) / legendado eletronicamente em português

O segundo filme de Welles foi mutilado pelo estúdio, que contratou outrem para acrescentar um happy end. História de uma poderosa família e da sua decadência, em que a casa (com o seu pórtico, as suas escadas, cozinha, salões) é um elemento central. Para muitos, apesar da “ausência do last cut”, THE MAGNIFICENT AMBERSONS é uma obra de um poder tão ímpar como CITIZEN KANE. É o filme do famoso pós-genérico em que o cineasta e narrador, a voz do filme, apresenta em off os atores concluindo com “And my name is Orson Welles”. Nesta sessão, antecede BLIND HUSBANDS, obra seminal de Erich von Stroheim. O seu primeiro filme como realizador, argumentista e intérprete principal lançou a sua personagem amoral, aqui no papel de um sedutor sem escrúpulos que veste a farda do exército austríaco e é vítima das próprias manobras. Antes de mais, esta primeira obra-prima de Stroheim é um retrato exacerbado das paixões humanas, um dos traços perenes do seu cinema. Um grande clássico do período mudo, a apresentar na versão digital recentemente restaurada como a mais próxima do original de 1919, a partir de uma cópia de época, do argumento e do guião originais pelo Arquivo Austríaco e pelo MoMA. É aí que se pormenoriza como esta nova cópia digital (cotejada com a versão americana de 1924 que circulou nas últimas décadas) “permite uma nova apreciação da singularidade da visão de Stroheim, recuperando uns sete minutos de filme (a maioria dos quais planos longos) e reconstruindo o seu aturado esquema cromático de tintagens e viragens”.

consulte a FOLHA DA CINEMATECA de THE MAGNIFICENT AMBERSONS, aqui

consulte a FOLHA DA CINEMATECA de BLIND HUSBANDS, aqui