CICLO
Jean-Luc Godard, para Sempre


Uma revista francesa (Les Inrockuptibles) não teve pruridos: no seu número seguinte à morte de Jean-Luc Godard, sucedida em setembro passado, a manchete dizia, simplesmente, “Dieu est mort”, “Deus morreu”. Que importa o exagero, se o exagero é só uma forma de fazer justiça à importância, das pessoas ou das coisas. E Godard foi, de facto, a pessoa mais importante, o autor das coisas mais importantes, de todo o cinema da segunda metade do século XX em diante. Importa o seu trabalho, e importa o olhar (divino, dir-se-ia, usando vocabulário dos Inrocks) que ele, através do trabalho mas também além dele, lançava sobre o cinema, sobre o mundo, sobre a nossa História, sobre a “nossa música”. Há um capítulo que se fecha na história do cinema com a morte de Godard, que é também o da presença – como ele notou – da geração que viveu “o meio do século XX”, “o meio do cinema”. O que isto quer dizer está estampado na obra dele, um radical “transporte” entre a mais sofisticada modernidade (tecnológica, inclusive) e a memória de um cinema “inicial”, tanto em termos puramente cinéfilos e afetivos como no que diz respeito a uma prática, artesanal e realista, em permanente reflexão sobre ela própria e sobre o seu lugar num mundo sempre em mudança demasiado rápida. A homenagem que lhe prestamos porá isso em evidência, julgamos, ao trazer exemplos de todas as fases da obra do autor, desde os alvores da nouvelle vague ao filme – quase – derradeiro que foi LE LIVRE D’IMAGE. É um passeio por alguns recantos menos visitados do legado de Godard, um vislumbre da riqueza inesgotável desse legado, que ficará connosco – para sempre.
 
 
14/01/2023, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Jean-Luc Godard, para Sempre

À Vendredi, Robinson
de Mitra Farahani
França, Irão, Líbano, Suíça, 2022 - 96 min
 
16/01/2023, 22h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Jean-Luc Godard, para Sempre

Scénario du Film Passion | Passion
duração total da projeção: 142 min
17/01/2023, 19h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Jean-Luc Godard, para Sempre

Je Vous Salue Marie
Eu vos Saúdo Maria
de Jean-Luc Godard
França, 1984 - 110 min
18/01/2023, 19h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Jean-Luc Godard, para Sempre

Lettre à Freddy Buache | Soft and Hard (A Soft Conversation Between Two Friends on a Hard Subject) | Liberté et Patrie
duração total da projeção: 80 min
19/01/2023, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Jean-Luc Godard, para Sempre

King Lear
de Jean-Luc Godard
França, Suíça, 1987 - 90 min
14/01/2023, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Jean-Luc Godard, para Sempre
À Vendredi, Robinson
de Mitra Farahani
com Ebrahim Golestan, Jean-Luc Godard
França, Irão, Líbano, Suíça, 2022 - 96 min
legendado eletronicamente em português | M/12
A cineasta iraniana Mitra Farahani teve a ideia de pôr dois grandes vultos a corresponderem-se: Ebrahim Golestan, cineasta e escritor iraniano (que tem atualmente cem anos de idade), e Jean-Luc Godard. Nem Golestan nem Godard se conheciam pessoalmente, e continuaram sem se conhecer – todo o filme decorre em comunicação à distância, via internet, com os dois a trocarem mensagens, vídeos, textos, como um grande jogo ou uma grande charada. Meditação sobre a vida, e especialmente sobre o fim da vida (algumas conversas de Godard, agora que sabemos a forma como morreu, são bastante impressionantes), sobre a criação, assente na inextinguível curiosidade intelectual e poética dos seus protagonistas, À VENDREDI, ROBINSON é um maravilhoso filme de “crepúsculo”. Primeira apresentação na Cinemateca.

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16/01/2023, 22h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Jean-Luc Godard, para Sempre
Scénario du Film Passion | Passion
duração total da projeção: 142 min
legendados eletronicamente em português | M/1
SCÉNARIO DU FILM PASSION
com Jean-Luc Godard
França, Suíça, 1982 - 54 min

PASSION
Paixão
de Jean-Luc Godard
com Isabelle Huppert, Hanna Schygulla, Michel Piccoli
França/Suíça, 1982 - 88 min

SCÉNARIO DU FILM PASSION é um posfácio em vídeo àquele filme, em que Godard tenta perceber como as imagens do seu filme tomaram forma: diante de um ecrã branco, Godard fala. PASSION data do começo do período em que Godard reatou com os circuitos comerciais de cinema, depois de uma longa ausência. Filme sobre o cinema e o trabalho (trata-se da história de uma filmagem que não é levada a termo), com fortíssimas relações e associações com a pintura. Os cenários pintados são de Yvon Aubinel. A apresentar em cópias digitais. 

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17/01/2023, 19h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Jean-Luc Godard, para Sempre
Je Vous Salue Marie
Eu vos Saúdo Maria
de Jean-Luc Godard
com Myriem Roussel, Thierry Rode, Juliette Binoche
França, 1984 - 110 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Uma recriação contemporânea da história da natividade, ou uma maneira alusiva de filmar a relação entre o mundo moderno e o sagrado. JE VOUS SALUE MARIE provocou mais “escândalo” que o resto da obra de Godard toda junta, mas o seu propósito era tudo menos blasfemo: uma espécie de ensaio sobre a possibilidade de reconhecimento de uma dimensão sagrada da existência humana num mundo que aparentemente voltou costas a essa dimensão. A apresentar em cópia digital. 

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18/01/2023, 19h30 | Sala Luís de Pina
Jean-Luc Godard, para Sempre
Lettre à Freddy Buache | Soft and Hard (A Soft Conversation Between Two Friends on a Hard Subject) | Liberté et Patrie
duração total da projeção: 80 min
legendados eletronicamente em português | M/12
LETTRE À FREDDY BUACHE
de Jean-Luc Godard
Suíça, 1982 - 11 min

SOFT AND HARD (A SOFT CONVERSATION BETWEEN TWO FRIENDS ON A HARD SUBJECT)
de Jean-Luc Godard, Anne-Marie Miéville
Grã-Bretanha, 1986 - 48 min

LIBERTÉ ET PATRIE
de Jean-Luc Godard, Anne-Marie Miéville
França, 2002 – 21 min

A abrir a sessão, LETTRE À FREDDY BUACHE, que foi uma encomenda da cidade de Lausanne. Tratava-se de falar de Lausanne e Godard dirige-se a Freddy Buache, fundador da Cinemateca Suíça, sediada em Lausanne, que dirigiu durante meio século: “o cinema vai morrer em breve, muito jovem”. SOFT AND HARD é também um diálogo – entre Godard e a sua companheira Anne-Marie Miéville – onde aos temas do cinema e da televisão se acrescentam os da criação artística e das relações amorosas. LIBERTÉ ET PATRIE, que também é uma colaboração Godard/Miéville, é um pequeno filme sobre a criação artística, baseado num livro de Ramuz (escritor que Godard muito apreciava) sobre o pintor suíço Aimé Pache. Primeira apresentação na Cinemateca.

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19/01/2023, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Jean-Luc Godard, para Sempre
King Lear
de Jean-Luc Godard
com Woody Allen, Freddy Buache, Leos Carax, Julie Delpy, Jean-Luc Godard
França, Suíça, 1987 - 90 min
legendado eletronicamente em português | M/12
King Lear por Jean-Luc Godard? “A picture shot in the back”. KING LEAR é um muito pouco visto Godard que ganhou a “aura” de “filme maldito” e cuja génese remonta à assinatura de um contrato entre JLG e Menahem Golan da Canon no festival de Cannes de 1985 (também faz parte da “lenda”). É preciso vê-lo para o descobrir em todas as suas nuances. “KING LEAR é uma visão de Jean-Luc Godard e no meio da mais completa irrisão oferece dos mais sublimes momentos de cinema” (Maria João Madeira). Em cameos não creditados, Woody Allen (Mr. Alien), Kate e Norman Mailer ou Quentin Tarantino.

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