CICLO
Dirk Bogarde – Ator das Sombras


Assinalou-se em março o centenário do nascimento de Dirk Bogarde, um dos atores mais marcantes do cinema britânico do período pós-II Guerra. Guerra que, aliás, teve um efeito determinante sobre ele: com vinte e poucos anos, e como oficial do exército britânico, foi dos primeiros a entrar no campo alemão de Bergen-Belsen, experiência que o marcou e sobre a qual escreveu na sua autobiografia (“percebi que estava a entrar no Inferno de Dante (…) a coisa mais horrorosa que vi em toda a minha vida”). Talvez por isso, pelo contacto direto com o pior da humanidade, talvez por outra razão, Dirk Bogarde conservou sempre um lado sombrio, uma ambiguidade indefinível, que Joseph Losey, de todos os realizadores com quem Bogarde colaborou, terá sido quem mais trabalhou – a começar por THE SERVANT, que ofereceu ao ator um dos seus papéis mais assustadores. Mas “assustador” porquê, se ele não faz “nada de especial”? Esta pergunta, ou a falta de resposta para ela, é a essência da persona cinematográfica de Dirk Bogarde.
Que foi, independentemente disso, um ator muito versátil, à vontade em vários géneros. Se o seu carácter sombrio foi imediatamente apercebido (THE BLUE LAMP, que mostramos no Ciclo, e é prévio ao período de maior popularidade do ator, fá-lo interpretar o papel de um gangster violento), isso não o impediu de, graças à série iniciada com THE DOCTOR’S IN THE HOUSE, se ter tornado, num primeiro momento, uma vedeta popularíssima da comédia britânica. Os aspetos mais sérios da sua personalidade foram sendo trabalhados em surdina, e a partir dos anos 1960 impuseram-se definitivamente, até nas escolhas que Bogarde foi fazendo. Os filmes com Losey, a MORTE EM VENEZA com Visconti, a passagem pelo universo de Fassbinder em DESPAIR. Ou um filme como VICTIM, que lida com a criminalização da homossexualidade na lei britânica (e que diretamente toca Bogarde, que nunca publicamente assumiu a sua orientação sexual, em grande parte pelas consequências que daí adviriam, naquela época).
Nos seus últimos anos, dedicou-se a outro talento (a escrita: publicou dezenas de livros, relatos de memórias, romances, ensaios, poesia) e retirou-se do cinema, sem dramas, à entrada dos anos 90, em DADDY NOSTALGIE de Bertrand Tavernier. Recordamo-lo, neste Ciclo, em dez paragens por momentos que se contam entre os mais importantes da sua carreira, e que testemunham a sua relação, duma vida inteira, com o perigo nas sombras (como diz o título português de ILL MET BY MOONLIGHT, de Powell e Pressburger).
 
 
14/10/2021, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Dirk Bogarde – Ator das Sombras

Darling
Darling
de John Schlesinger
Reino Unido, 1965 - 121 min
 
15/10/2021, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Dirk Bogarde – Ator das Sombras

Despair - Eine Reise ins Licht
A Segunda Dimensão
de Rainer W. Fassbinder
RFA, 1977 - 120 min
19/10/2021, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Dirk Bogarde – Ator das Sombras

King & Country
de Joseph Losey
Reino Unido, 1964 - 86 min
14/10/2021, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Dirk Bogarde – Ator das Sombras
Darling
Darling
de John Schlesinger
com Julie Christie, Laurence Harvey, Dirk Bogarde
Reino Unido, 1965 - 121 min
legendado em português | M/12
Um dos filmes mais célebres de John Schlesinger, recompensado com três Oscars da Academia: argumento (Frederic Raphael), guarda-roupa e melhor atriz (Julie Christie). Plenamente imbuído de um certo espírito libertário associado aos sixties, DARLING conta a história da ascensão da “plebeia” Julie Christie, que, de amante em amante, acabará por casar com um aristocrata italiano.

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15/10/2021, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Dirk Bogarde – Ator das Sombras
Despair - Eine Reise ins Licht
A Segunda Dimensão
de Rainer W. Fassbinder
com Dirk Bogarde, Andréa Férreol, Volker Spengler
RFA, 1977 - 120 min
legendado eletronicamente em português | M/12
DESPAIR - EINE REISE INS LICHT foi o primeiro dos três filmes que Fassbinder fez em inglês e marca a sua primeira tentativa de fazer uma “produção internacional de prestígio”: uma vedeta internacional no papel principal e valores de produção mais ricos do que os dos filmes que fizera até então. Situada na Alemanha dos anos 30, a história adapta um romance de Nabokov e trata de uma tentativa de mudança de identidade: o proprietário de uma fábrica, à beira da falência, decide matar um mendigo e assumir a sua identidade, mas escolhe, curiosamente, um homem com quem tinha muito poucas semelhanças físicas.

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19/10/2021, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Dirk Bogarde – Ator das Sombras
King & Country
de Joseph Losey
com Dirk Bogarde, Tom Courtenay, Leo McKern
Reino Unido, 1964 - 86 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Realizado logo a seguir a THE SERVANT, KING & COUNTRY volta a associar Joseph Losey e Dirk Bogarde, mas agora num ambiente muito diferente. Baseado numa história verídica sucedida durante a I Grande Guerra, o filme pôe Bogarde na pele do advogado de defesa de um soldado britânico acusado de deserção. Crítica das instituições militares, libelo anti-militarista e pró-pacifista, foi um filme polémico em vários quadrantes (em Portugal, por exemplo, nem sequer estreou) e é um dos mais poderosos filmes de Losey. Tom Courtenay, que interpreta o soldado desertor, ganhou o prémio de melhor ator no Festival de Veneza de 1964. Primeira apresentação na Cinemateca.

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