CICLO
Clássicos do Cinema Coreano


A República da Coreia, mais comummente designada como Coreia do Sul, é reconhecida internacionalmente, desde os anos noventa, como um grande país de cinema. São muitos os filmes sul-coreanos realizados a partir daquele período a terem obtido prémios ou terem sido notados nos grandes festivais internacionais. Nomes como Kim Ki-duk, Hong San-soo, Bong Joon-ho ou Park Chan-wook fizeram-se conhecer e reconhecer internacionalmente como cineastas originais e de grande envergadura e os seus filmes são distribuídos internacionalmente. Desde então, em festivais genéricos ou específicos, a presença do cinema sul-coreano é frequente e marcante. Paralelamente, o Festival de Busan, fundado em 1996, em plena onda do reconhecimento internacional do cinema sul-coreano de autor, tornou-se um dos mais importantes da Ásia. A Cinemateca, naturalmente, não ficou indiferente a esta importante cinematografia e nos últimos onze anos organizou nada menos de quatro retrospetivas dedicadas ao cinema sul-coreano contemporâneo: em março de 1999 (treze filmes), outubro de 2001 (três filmes), setembro (vinte filmes) e dezembro de 2006 (cinco títulos), além de um ciclo de sete filmes intitulado “Hong Sang-soo e o Cinema Coreano Contemporâneo” (2011), autor a que voltámos entre dezembro de 2019 e janeiro de 2020 para uma retrospetiva integral (que, por coincidência, “completamos” este mês com a apresentação do seu mais recente filme em ante-estreia, intitulada “As Variações de Hong Sang-soo”).
No entanto, nunca nos tínhamos debruçado sobre o cinema coreano do período clássico e é preciso indicar que apesar da presença de certos filmes em festivais internacionais nos anos sessenta, alguns dos quais premiados, a produção coreana anterior aos anos noventa é, por assim dizer, desconhecida além das fronteiras do país. Os onze filmes que compõem este ciclo foram realizados entre 1948 e 1993, ou seja, entre a fundação da República da Coreia, com a divisão da península em dois estados antagónicos, nascidos da Guerra Fria, até o início do período de plena democratização, num país cuja longa ditadura militar investira muito na educação, contrariamente à maioria dos regimes deste tipo. Este ciclo permite-nos vislumbrar o itinerário seguido pelo cinema durante os mais de quarenta anos que medeiam entre a fundação do Estado sul-coreano e o reconhecimento internacional do cinema do país. Antes da linguagem difusa e oblíqua que caracteriza o cinema dos grandes nomes do cinema sul-coreano contemporâneo, o cinema do país seguiu outros percursos formais, que poderemos descobrir nesta retrospetiva.
Mais do que em outros países, a produção cinematográfica sul-coreana parece ter sido condicionada pelas circunstâncias políticas peculiares em que o país (ou antes o Estado) se formou e se estabeleceu. Em finais dos anos cinquenta, poucos anos depois do fim da guerra que deixara o país destroçado, a produção atingiu uma centena de filmes por ano, entre os quais muitos melodramas, género apreciado pelo público. Em 1961 MABU/“O COCHEIRO”, de Kang Dae-jin recebe o Urso de Prata no Festival de Berlim e torna-se o primeiro filme coreano a chamar a atenção da crítica internacional. Não muito tempo depois, o governo limita a entrada de filmes estrangeiros no país, o que é frustrante para os espectadores mas é benéfico para a produção, apesar do sistema de censura, pois os cineastas coreanos tinham de filmar muito para satisfazer o grande apetite do público por filmes. Isto explica o facto de alguns realizadores terem realizado dezenas de filmes. O período que vai até o início dos anos setenta é considerado uma idade de ouro no cinema coreano, ao passo que aquele que vai dali até o início dos anos 80 é considerado menos interessante, devido aos rigores do regime político. Este, no entanto, mantém um critério de proteção à produção nacional: todas as salas de cinema têm de projetar filmes coreanos durante um determinado número de dias por ano. A partir dos anos oitenta, os critérios de censura afrouxam, novos regulamentos facilitam o trabalho dos produtores independentes e o número de filmes importados aumenta, o que permite aos futuros cineastas e ao público adquirir maior familiaridade com a produção internacional de qualidade. Nos anos noventa, a República da Coreia, uma sociedade próspera e cuja população tem um excelente nível de instrução, torna-se uma democracia plena e o seu cinema de autor ganha rapidamente reconhecimento internacional.
Se excetuarmos o período da Guerra da Coreia (1950-53), durante o qual poucos filmes foram realizados (e, segundo consta, todos foram perdidos) e os anos setenta, quando o código de censura era dos mais estritos do mundo, poderemos acompanhar cronologicamente neste ciclo a produção coreana através de marcos cinematográficos importantes, com alguns dos filmes considerados entre os melhores da produção do país. Esta retrospetiva será inaugurada com HANYEO/“A CRIADA” (Kim Ki-Young, 1960), grande clássico da produção coreana, da qual é considerado um dos pontos culminantes. A seguir, o ciclo desenrolar-se-á em ordem cronológica, apresentando um filme de  1948 feito com a linguagem do cinema mudo (GEOMSA-WA YEOSEONSAENG/“O PROCURADOR E A PROFESSORA”), um filme situado durante a recém-terminada guerra que dividiu o país (PIAGOL), uma comédia dramática (SHIJIBGANEON NAL/“O DIA DO CASAMENTO), diversos dramas (OBALTAN/“BALA SEM DESTINO”; SEONG CHUN-HYANG; SARANGBANG SONNIMGWA EOMEONI/“A MÃE E O HÓSPEDE”; YEOLNYEOMUN /“VOTO DE CASTIDADE”), um filme sobre a juventude (CHOU/“CHUVA VERDE), um drama com fundo de música tradicional coreana (SOPYONJE) e um thriller (CHOIHUI JEUNGIN/“A ÚLTIMA TESTEMUNHA”). Através dos diversos géneros que ilustram, todos são exemplos importantes e de alta qualidade de um vasto continente cinematográfico que permanece pouco conhecido. À exceção de SOPYONJE (apresentado em março de 1999, no primeiro ciclo de cinema coreano programado na Cinemateca) todos os filmes apresentados são inéditos na Cinemateca e serão apresentados em cópias digitais.
 
 
23/01/2021, 15h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Clássicos do Cinema Coreano

SESSÃO CANCELADA

Sopyonje
“Sopyonje”
de Im Kwon-taek
República da Coreia, 1993 - 113 min
 
23/01/2021, 15h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Clássicos do Cinema Coreano

Em colaboração com a Embaixada da República da Coreia, por ocasião do 60º aniversário do estabelecimento de relações diplomáticas com Portugal
SESSÃO CANCELADA

Sopyonje
“Sopyonje”
de Im Kwon-taek
com Oh Jung-hae, Kim Myung-gon, Kim Kyu-chul
República da Coreia, 1993 - 113 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Nascido em 1936, Im Kwon-taek realizou mais de cem filmes. SOPYONJE foi um gigantesco êxito de bilheteira, atraindo mais de um milhão de espectadores só na área urbana de Seul. O filme conta a história de um grupo de intérpretes de pansori, género musical clássico coreano, com um cantor ou cantora e um percussionista, música que destila um sentimento de tristeza. O grupo sai pelas estradas e é confrontado ao choque entre o velho e o novo, entre a música que interpretam e o mundo contemporâneo. Comparando o filme aos de Chen Kaige, Manuel Cintra Ferreira observou na sua “folha”, quando o filme foi apresentado na Cinemateca, que este, “admiravelmente encenado, procura responder ao desgaste e perda de valores de um país num tempo em que a globalização parece ameaçar e destruir muitas heranças. Mas toda a construção do filme é uma resposta a esta perda de valores”.