A obra do cineasta Terence Davies, nome discreto, ainda que fundamental, na história do cinema britânico, falecido no ano passado, é objeto de uma retrospetiva integral na Cinemateca na primeira quinzena de setembro.
Reconhecido pela sua abordagem autobiográfica, onde a memória, a melancolia, e a História são eixos centrais, Terence Davies realizou apenas catorze títulos ao longo da sua carreira, iniciada no final da década de 70. A Trilogia que abre a sua obra, composta por um conjunto de três curtas-metragens filmadas ao longo de sete anos (1976-1983), CHILDREN, MADONNA AND CHILD e DEATH AND TRANSFIGURATION, deu-lhe grande reconhecimento, sendo hoje considerada um marco do cinema queer inglês. Uma obra tripartida, onde a vergonha e a repressão homossexual adquirem expressão através da personagem de Robert Tucker (entendido como um alter-ego do realizador) no contexto de uma Liverpool operária e católica.
Após a trilogia, realiza DISTANT VOICES, STILL LIVES, a sua primeira longa-metragem, e continua até ao fim do século com uma produção onde conjuga ficção e autobiografia, onde se destaca, ainda, THE NEON BIBLE, protagonizado por Gena Rowlands. A partir de THE HOUSE OF MIRTH, de 2000, o seu cinema expande-se ao drama histórico, a biografia e o documentário. A sua última longa-metragem, BENEDICTION, realizada no princípio desta década, é um retrato biográfico do poeta britânico Siegfried Sassoon, soldado na primeira guerra mundial que manteve várias relações homossexuais, e mais tarde se converte ao catolicismo.
Intitulado Terence Davies, o Cantor da Memória, o programa organizado pela Cinemateca irá exibir, além de toda a filmografia do realizador, dois títulos extra: o filme póstumo, finalizado pelo seu assistente, HOME! HOME!, e aquele que era o seu filme favorito, YOUNG AT HEART, protagonizado por Doris Day e Frank Sinatra.
À exceção de DISTANT VOICES, STILL LIVES, THE LONG DAY CLOSES e THE HOUSE OF MIRTH, todos os filmes são apresentados pela primeira vez na Cinemateca, sendo que todos os filmes do realizador desde 2015 são apresentados em estreia nacional.
Terence Davis, O Cantor da Memória arranca no dia 2 de setembro pelas 19h, com a exibição de THE LONG DAY CLOSES, obra-chave para a compreensão das ressonâncias autobiográficas do seu cinema.