Em outubro, a Cinemateca continua na senda do cinema português, com nova retrospetiva de um autor com origens fortemente ligadas ao espírito de Abril de 74. O senhor que se segue a Fernando Matos Silva e Monique Rutler é José Nascimento, realizador multifacetado que, ao longo de uma carreira com mais de cinco décadas, sempre navegou as ambiguidades do real. Dono de uma das filmografias mais ecléticas do cinema português, a sua obra inclui filmes de época, policiais noirs, dramas realistas, filmes-ensaio, comédias musicais, aventuras infantojuvenis, filmes-ópera, documentários etnográficos, videoclipes, filmes-performance, cinema militante e várias outras formas híbridas. Em outubro será possível conhecer melhor a sua vasta e diversa produção.
Outubro na Cinemateca é também o mês das habituais retrospetivas conjuntas com o Doclisboa. Este ano, a retrospetiva de autor é dedicada ao mestre do cinema independente mexicano Paul Leduc, num programa que dá continuidade à linhagem artística e política de anteriores colaborações recentes entre o Doclisboa e a Cinemateca Portuguesa dedicados à América Latina, como foi o caso das retrospetivas Luis Ospina, em 2018, e Carlos Reichenbach, em 2022.
Continuando a garimpar nos arquivos dedicados ao cinema feito após as independências dos países africanos, em outubro fazemos um desvio a um dos focos que tem acompanhado as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril na Cinemateca. Falamos dos ciclos “Do Cinema de Estado ao Cinema Fora do Estado”, organizados em colaboração com Maria do Carmo Piçarra. Desta feita, a investigadora e historiadora de cinema propõe um conjunto de títulos de filmes feitos nas ex-colónias portuguesas, logo após as respetivas declarações de independência, vindos de arquivos italianos e que a programadora define como «obras de referência que perderam visibilidade quando a importância do cinema político diminuiu».
No último grande ciclo de outubro, viajamos até à Bulgária para uma retrospetiva que incidirá no período entre 1945 e 1989, considerado como o período dourado do cinema búlgaro, que coincidiu com a vigência do regime soviético no país. Oportunidade para descobrir um conjunto de obras bastante significativas deste período que chegou a ter alguma visibilidade na distribuição comercial no Portugal do pós-25 de Abril. Na Cinemateca, é a segunda vez que voltamos a olhar para este território depois da “Semana do Cinema Búlgaro”, organizada no longínquo ano de 1983.
Ao longo do mês, continuamos com o programa QUE FAREI EU COM ESTA ESPADA? (com sugestões dos eixos Comunidade e Futuro), chegamos ao final da mastodôntica retrospetiva Raúl Ruiz, apresentamos em ante-estreia o mais recente filme de Margarida Gil (MÃOS NO FOGO, estreado na última edição do festival de Berlim) e celebramos o Dia Mundial do Património Audiovisual que se celebra a 27 de outubro com um documentário sobre as cinematecas enquanto guardiãs da história das imagens em movimento em todo o mundo (FILM: THE LIVING RECORD OF OUR MEMORY, de Inés Toharia) e a apresentação em antestreia nacional da versão restaurada de um grande clássico do cinema: PEEPING TOM, de Michael Powell.