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Assunto: Programação
Data: 09/09/2024
Monique Rutler, uma realizadora de armas
Monique Rutler, uma realizadora de armas
Em setembro a Cinemateca dedica uma retrospetiva ao cinema de Monique Rutler, autora de uma curta mas acutilante obra, dedicada a causas sociais e políticas, com especial enfoque nos dramas da condição feminina, nas fragilidades da terceira idade ou nas potencialidades transformadoras do ensino.

Nascida em França, mas desde muito nova a viver em Portugal, Monique Rutler foi uma das pioneiras do ensino de cinema em Portugal, tendo sido aluna das primeiras turmas de cinema do país , o que fez dela um dos nomes fundamentais da geração de cineastas portuguesas da década de 1970, ao lado de Solveig Nordlund, Noémia Delgado, Ana Hatherly, Margarida Cordeiro e Margarida Gil.

Este percurso cruza-se com um momento chave da História recente do país, o 25 de Abril de 1974, que leva Rutler a entrar no cinema pelo lado mais revolucionário, participando em trabalhos das cooperativas Cinequipa e a Cinequanon, onde ganha tarimba na realização e montagem de dezenas de filmes e programas televisivos de cariz político. É o caso de O ABORTO NÃO É UM CRIME, filme que geraria uma das mais acesas polémicas nacionais, em 1976, que levaria a jornalista Maria Antónia Palla ao banco dos réus e acabou por ser a rampa de lançamento para a campanha que levaria à realização do primeiro referendo sobre a despenalização da interrupção voluntária da gravidez. Um dos pontos altos desta retrospetiva, para ver no dia 17, às 19h, em nova cópia digital onde se apresenta o “final alternativo” da versão para cinema, produzida em 1977, com a presença dos irmãos Fernando e João Matos Silva .

 
Além de uma vasta produção televisiva, realizada entre o final dos anos 1970 e o início dos anos 1980, assinou três longas-metragens que tiveram distribuição comercial nas salas portuguesas: VELHOS SÃO OS TRAPOS (dia 19, às 19h), obra inclassificável, algures entre o filme de denúncia, o levantamento sociológico e o cinema direto; JOGO DE MÃO (dia 18, às 19h), o mais internacional dos seus filmes, apresentado na seleção oficial do Festival de Veneza e aplaudido por Nagisa Oshima, júri dessa edição do certame; e SOLO DE VIOLINO (dia 16, às 19h), considerado por Paulo Rocha como um “poderoso melodrama populista” onde Monique Rutler “quebra distraidamente a loiça da família lusa, sem cuidar de bom gosto e de bom senso.”

Monique Rutler teve também um imenso trabalho na área de montagem. Além de ter trabalhado em filmes de Manoel de Oliveira (o magistral FRANCISCA, que poderá ser visto neste ciclo), José Fonseca e Costa, Fernando Matos Silva, António de Macedo ou José Nascimento, foi uma das responsáveis pelo trabalho hercúleo de dar forma ao filme AS ARMAS E O POVO, filme de Abril por excelência.

A acompanhar a retrospetiva MONIQUE RUTLER – “ISTO VAI MUDAR!”, que terá lugar na segunda metade de setembro, a Cinemateca apresenta uma “carta branca virtual”, com 11 filmes de 11 realizadoras destacadas por Monique Rutler, e publicará um catálogo onde se propõe a uma reavaliação da obra da realizadora através de ensaios  originais, inéditos, republicações, novas entrevistas e de um vasto número de testemunhos de diversos colaboradores.