O cinema de Delphine Seyrig nos anos 1970 e 80, realizado no âmbito do coletivo feminino que então integrou, é alvo de uma retrospetiva completa em outubro na Cinemateca que igualmente contempla títulos representativos do seu mais conhecido trabalho de atriz, em dois núcleos de sete sessões programados em colaboração com a 21ª Festa do Cinema Francês, o Institut Français Portugal e o Centre Audiovisuel Simone de Beauvoir. As sessões da retrospetiva “Delphine Seyrig, Insubmusa” decorrem na Cinemateca entre 9 e 21 de outubro, revelando a intensidade artística e a energia da militância feminista de Seyrig.
 
No cinema e no teatro, Delphine Seyrig (1932-1990) é reconhecida como a atriz excecional que foi entre finais das décadas de 1950 e 80: da sua estreia nova-iorquina em Pull My Daisy de Robert Frank e Alfred Leslie, à revelação em França nos anos 1960 com L’année dernière à Marienbad e Muriel ou le temps d’un retour de Alain Resnais, aos filmes com William Klein, François Truffaut, Joseph Losey ou Luis Buñuel ou ao trabalho de grande cumplicidade com Marguerite Duras e Chantal Akerman, primeiras das várias realizadoras com quem filmou.
 
É-lhe menos reconhecida a inteligência das escolhas do percurso de atriz, a variação dos papeis que compôs, a forma como foi simultaneamente desconstruindo a imagem de diva de voz sensual nos filmes de outros e, a partir dos anos 1970, nos filmes que ela própria realizou com Les Insoubmuses, ao lado de Carole Roussopoulos, Ioana Wieder e Nadja Ringart, servindo-se do vídeo como uma arma em prol das causas políticas e feministas da época. Sois belle et tais-toi!, Maso et miso vont en bateau e S.C.U.M. Manifesto 1967, três títulos de especial causticidade e sentido de humor, deixam clara a  relevância e originalidade deste trabalho, tal como Les trois portugaises, que divulga em 1973/74, em França, o caso português da perseguição das escritoras Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa. O cinema que assinou com o coletivo das “musas insubmissas” testemunha uma época e configura uma surpresa que atinge a raridade da Delphine Seyrig.