CICLO
1917 no Ecrã II


Abordamos este mês a segunda etapa do Ciclo “1917 no Ecrã”, cuja programação foi baseada no seguinte princípio: mostrar filmes de diversas épocas e países, que tenham alguma relação com a revolução bolchevista de Outubro de 1917 e a guerra civil que se lhe seguiu e durou cerca de cinco anos. Como sucede com todos os acontecimentos históricos recuperados pelo cinema, a Revolução de Outubro teve grande parte da sua imagem, do seu mito, forjado pelo cinema, mas isto não se fez de maneira homogénea: houve filmes que forjaram este mito através da representação dos seus acontecimentos e outros que o recuperaram para fins totalmente diversos, casos respetivamente de OUTUBRO, de Sergei Eisenstein, e REDS, de Warren Beatty, que estão programados no mesmo dia, quase num “double bill”, de maneira a cotejar as duas visões. Na União Soviética, os mitos e os modos de representação da revolução e da guerra civil evoluíram ao longo do tempo, à medida que estes acontecimentos se afastavam e novas gerações, que não os tinham vivido, chegavam à idade adulta e à realização de filmes. Podemos observar esta evolução em oito filmes soviéticos realizados nos anos trinta, cinquenta e sessenta. Os primeiros, quando a revolução ainda era um acontecimento recente e vivo (“O HOMEM DA ESPINGARDA” e “OS MARINHEIROS DO KRONSTADT”); dos anos cinquenta, O QUADRAGÉSIMO PRIMEIRO, que retoma um tema abordado pelo cinema soviético no período mudo, mas também dois filmes que propõem uma nova leitura de conhecidos elementos da representação da revolução, “PAVEL KORCHAGIN” e “O VENTO”; e também filmes realizados nos anos sessenta, mas proibidos durante vinte anos, como O COMISSÁRIO e “O COMEÇO DE UMA NOVA ERA”, além de uma obra de Artavazd Pelechian. Os sete filmes não soviéticos que escolhemos abordam de modo bastante diverso os acontecimentos históricos que descrevem: além de REDS, em que a revolução é um pano de fundo para os amores dos protagonistas, propomos dois outros clássicos do período mudo, que têm este mesmo enfoque: THE VOLGA BOATMAN, de Cecil B. DeMille, e DIE LIEBE DER JEANNE NEY, de Georg Wilhelm Pabst. Propomos ainda um filme realizado na Itália de Mussolini por Goffredo Alessandrini, o díptico formado por ADDIO KIRA e NOI VIVI, cujo tom oscila entre o melodrama e a propaganda política, e também programamos dois filmes alemães que são abertamente de propaganda, mas vêm de polos políticos opostos: WEISSE SKLAVEN, realizado no período nazi, e DAS LIED DER MATROSEN, uma produção da Alemanha do Leste. Da Finlândia, DOVERIE / LUOTTAMUS, uma coprodução com a União Soviética, fortemente marcada pela estética soviética da representação da revolução. E a fechar esta segunda etapa de “1917 no Ecrã”, a segunda passagem de “AS EXTRAORDINÁRIAS AVENTURAS DE MR. WEST NO PAÍS DOS BOLCHEVISTAS”, que inaugurou o Ciclo em setembro, porque este também é, parcialmente, um Ciclo sobre o grande cinema clássico soviético, que nasceu da Revolução de Outubro. Dos 17 filmes apresentados, 11 são inéditos na Cinemateca.
 
04/10/2017, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo 1917 no Ecrã II

Chelovek s Ruzhyom
“O Homem da Espingarda”
de Sergei Yutkevitch
URSS, 1938 - 90 min
04/10/2017, 22h00 | Sala Luís de Pina
Ciclo 1917 no Ecrã II

Pavel Korchagin
de Alexandr Alov, Vladimir Naumov
URSS, 1957 - 102 min
06/10/2017, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo 1917 no Ecrã II

Reds
Reds
de Warren Beatty
Estados Unidos, 1981 - 195 min
 
06/10/2017, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo 1917 no Ecrã II

Sorok Pervyi
O Quadragésimo Primeiro
de Grigori Chukhrai
URSS, 1957 - 90 min
 
06/10/2017, 22h00 | Sala Luís de Pina
Ciclo 1917 no Ecrã II

Skizbe | Nachalo Nevedomogo Veka
duração total da projeção: 83 min | M/12
04/10/2017, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
1917 no Ecrã II

Em colaboração com o Gosfilmofond – Fundo Nacional de Cinema da Federação da Rússia
Chelovek s Ruzhyom
“O Homem da Espingarda”
de Sergei Yutkevitch
com Boris Tenin, Nikolay Cherkasov, Maksim Shtraukh, Mikheil Gelovani
URSS, 1938 - 90 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Vindo da vanguarda do período mudo (foi um dos fundadores da FEKS, a “Fábrica do Ator Excêntrico”, em Leninegrado), Sergei Yutkevitch aborda em CHELOVEK S RUZHYOM o tema da Revolução de Outubro através de um prisma original: um soldado, ex-camponês leva uma carta dos seus camaradas a Lenine, em que lhe pedem que acabe rapidamente com a guerra. Lenine revela-lhe o sentido dos acontecimentos e o homem alista-se no Exército Vermelho. Estaline também é personagem do filme. O realizador observou que CHELOVEK S RUZHYOM é um filme “contemporâneo, mas não conformista, porque mostra Lenine não de uma maneira épica, mas íntima e até mesmo com humor”. Primeira exibição na Cinemateca.
 
04/10/2017, 22h00 | Sala Luís de Pina
1917 no Ecrã II

Em colaboração com o Gosfilmofond – Fundo Nacional de Cinema da Federação da Rússia
Pavel Korchagin
de Alexandr Alov, Vladimir Naumov
com Vassily Levonoy, Elza Lezhdey, Tatiana Stradina
URSS, 1957 - 102 min
legendado eletronicamente em português | M/12
PAVEL KORCHAGIN é a adaptação de um clássico da literatura realista-socialista, Assim Foi Forjado o Aço, de Nikolai Ostrovsky, publicado em 1932 em fascículos e em 1936 como um romance, com muitas alterações. O livro foi adaptado uma primeira vez por Mark Donskoi em 1942, num clássico da cinematografia soviética. O “aço” a que faz alusão o título do romance, em grande parte autobiográfico, mas também biografia de toda uma geração, é o jovem protagonista Pavel Korchagin, “um herói do nosso tempo”, que adquire consciência social e a certeza de que é preciso mudar a sociedade, o que ele faz alistando-se entre os combatentes bolchevistas. Nesta versão feita durante o “degelo” político soviético da segunda metade dos anos cinquenta, o heroísmo pessoal é menos importante e o filme causou polémica à época na União Soviética, por ser considerado pessimista. Primeira exibição na Cinemateca.
 
06/10/2017, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
1917 no Ecrã II

Em colaboração com o Gosfilmofond – Fundo Nacional de Cinema da Federação da Rússia
Reds
Reds
de Warren Beatty
com Warren Beatty, Diane Keaton, Edward Herrmann, Jerzy Kosinski, Jack Nicholson
Estados Unidos, 1981 - 195 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Segunda longa-metragem de Warren Beatty como realizador, REDS é o exemplo supremo da recuperação de um acontecimento histórico pela máquina de Hollywood. O filme adapta 10 Days that Shook the World (1919), a célebre narrativa do jornalista americano John Reed, que acompanhou os acontecimentos da Revolução de Outubro, sem esconder as suas simpatias pelos bolcheviques. No filme, a História é um simples pano de fundo e os “dez dias que abalaram o mundo” abalam sobretudo a relação do casal, que é separado pelos acontecimentos. O crítico Alain Ménil observou que “se alguma coisa comove no filme, é a própria loucura do projeto: fazer a unanimidade do ‘establishment’, apossando-se de um tema que oculta”. E ainda que “REDS não altera nada, mas ocupa um espaço virgem: o da hagiografia oficiosa”. Na Cinemateca, não é apresentado desde 1998.
 
06/10/2017, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
1917 no Ecrã II

Em colaboração com o Gosfilmofond – Fundo Nacional de Cinema da Federação da Rússia
Sorok Pervyi
O Quadragésimo Primeiro
de Grigori Chukhrai
com Isolda Uzvickaja, Oleg Strizenov, Nicolai Kriuciv
URSS, 1957 - 90 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Grigori Chukhrai (1921-2001) pertence a uma geração que sofreu em cheio o impacto da Segunda Guerra Mundial e só chegou à realização em meados dos anos cinquenta, em vésperas do “degelo” de Nikita Khruchev. O QUADRAGÉSIMO PRIMEIRO passa-se durante a guerra civil que se seguiu à revolução de 1917, seguindo uma história que já fora ilustrada num filme realizado por Jakob Protazanov em 1926: a ligação entre uma combatente do Exército Vermelho e um adversário, membro do exército “Branco”. O simples facto de um combatente anticomunista ser mostrado de maneira não caricata já era uma audácia nos anos cinquenta e o filme foi considerado como uma crítica ao culto dos heróis. Longe dos estereótipos guerreiros, Chukhrai descreve uma relação íntima, embora no desenlace a moral revolucionária predomine sobre os sentimentos pessoais. Primeira exibição na Cinemateca.
 
06/10/2017, 22h00 | Sala Luís de Pina
1917 no Ecrã II

Em colaboração com o Gosfilmofond – Fundo Nacional de Cinema da Federação da Rússia
Skizbe | Nachalo Nevedomogo Veka
duração total da projeção: 83 min | M/12
SKIZBE
“O Começo”
de Artavazd Pelechian
URSS, 1967 – 10 min / sem diálogos
NACHALO NEVEDOMOGO VEKA
“O Começo de uma Era Desconhecida”
de Larissa Chepitko, Andrei Smirnov
com Leonid Kulagin, Sergei Volf, Georgiy Burkov
URSS, 1967 – 73 min / legendado eletronicamente em português

A abrir a sessão, um dos mais conhecidos excursos poéticos de Artavazd Pelechian, o grande cineasta arménio cujo nome permaneceu quase desconhecido até meados dos anos oitenta. Realizado por ocasião dos 50 anos da Revolução Bolchevista, SKIZBE (a apresentar numa cópia vídeo) é um ensaio sobre esta revolução, um filme de montagem, sem diálogos, um dos pontos culminantes da obra de um dos cineastas mais originais da sua geração. “O COMEÇO DE UMA NOVA ERA” é um filme de encomenda, em episódios, feito por ocasião do quinquagésimo aniversário da Revolução de Outubro. Os dois realizadores, que ainda não tinham completado 30 anos, eram nomes promissores, mas o filme desagradou de tal modo aos censores que foi proibido de imediato, só sendo divulgado 20 anos depois, na era da “perestroika”. No primeiro episódio, “ANJO”, de Smirnov, estamos no caos da Guerra Civil, num comboio cheio de refugiados, que acaba por ser capturado por um bando de bandidos. No segundo, “A PÁTRIA DA ELETRICIDADE”, Larissa Chepitko (futura autora de “A ASCENSÃO”) aborda um tema clássico do cinema soviético: a chegada de um engenheiro a uma aldeia atrasada, com a missão de instalar uma bomba elétrica que permita a irrigação das terras. Do ponto de vista formal, os dois episódios são típicos do cinema das novas gerações soviéticas dos anos sessenta, oblíquo e elíptico, muito diferente dos filmes do período clássico. Primeira exibição na Cinemateca.