CICLO
O Cinema e a Cidade II


Prolongando o programa iniciado em setembro dedicado à relação entre o cinema e a cidade, continua o ciclo de filmes que se estende para novembro, aguardando-se ainda uma série de sessões com projeção e debate a realizar fora da Cinemateca, nos meses posteriores. Nesta segunda parte, entre as sinfonias urbanas conotadas com as vanguardas dos anos vinte e trinta e outros filmes com elas associados apresentamos alguns títulos mais raros como LES HALLES, MONTPARNASSE, ÉTUDES SUR PARIS ou ALFAMA A VELHA LISBOA. Uma categoria vasta que inclui filmes em que o décor citadino impõe uma mise en scène conforme, reproduzindo várias das qualidades da cidade moderna e celebrando simultaneamente os seus ritmos. Os filmes de Peter Hutton, MÄNNISKOR I STAD, do sueco Arne Sucksdorff, ou mesmo DO THE RIGHT THING, de Spike Lee, apontam como este é um género que terá os seus continuadores e as mais inesperadas ramificações. As cidades divididas estão exemplarmente representadas por Berlim através do famoso filme de Wenders ou o pouco conhecido trabalho de Victor Vicas. As emblemáticas obras de Pialat e de Godard traduzem o fascínio Nouvelle Vague pela cidade de Paris e a sua importância na constituição de uma imagem para a capital francesa. Entre outros filmes privilegiadamente ligados a uma cidade específica, encontramos novas representações de Lisboa ou do Porto, que é notavelmente convocado por dois filmes de Manoel de Oliveira separados por cerca de cinquenta anos. Nova Iorque é aqui representada por realizadores tão distintos como Jem Cohen, Peter Emmanuel Goldman, Ernie Gehr ou Robert Siodmak, este último com um magnífico filme negro. MATINÉE, de Joe Dante, e SERBIS, de Brillante Mendoza, evocam mais diretamente as transformações da experiência da sala de cinema e as suas relações com as cidades em que se inserem, uma vertente particular deste programa que corresponde a um pequeno núcleo de filmes distribuídos pelas várias partes. Um programa necessariamente aberto e sempre incompleto pela pluralidade de cinematografias, géneros e questões que abrange, assumindo as cidades não apenas como lugares, mas como personagens.
 
 
04/10/2017, 18h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo O Cinema e a Cidade II

Les Halles | Montparnasse | Études Sur Paris
duração total da projeção: 117 min | M/12
 
06/10/2017, 18h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo O Cinema e a Cidade II

Eureka | New York Portrait II e III
duração total da projeção: 55 min | M/12
06/10/2017, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo O Cinema e a Cidade II

Der Himmel Über Berlin
As Asas do Desejo
de Wim Wenders
República Federal da Alemanha, 1987 - 127 min
10/10/2017, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo O Cinema e a Cidade II

NYC Weights and Measures | Do the Right Thing
duração total da projeção: 126 min | M/12
16/10/2017, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo O Cinema e a Cidade II

Portuguese Railway Train | Alfama a Velha Lisboa | Dans la Ville Blanche
duração total da projeção: 138 min | M/16
04/10/2017, 18h30 | Sala Luís de Pina
O Cinema e a Cidade II
Les Halles | Montparnasse | Études Sur Paris
duração total da projeção: 117 min | M/12
LES HALLES
de Boris Kaufman, André Galitzine
França, 1927 – 22 min / mudo, sem intertítulos
MONTPARNASSE
de Eugène Deslaw
França, 1929 – 15 min / mudo, sem intertítulos
ÉTUDES SUR PARIS
de André Sauvage
França, 1928 – 80 min / mudo, intertítulos em francês

Boris Kaufman, irmão mais novo de Dziga Vertov e de Mikhail Kaufman, realizou LES HALLES em 1927, documento sobre a atividade do célebre mercado central parisiense. Boris Kaufman trabalha magistralmente a luz noturna, arte que pouco depois porá ao serviço de Jean Vigo ou de Eugène Deslaw enquanto diretor de fotografia. MONTPARNASSE é uma deambulação poética e surrealista por Montparnasse, onde se mistura o quotidiano dos artistas e o mundo dos saltimbancos e dos habitantes locais. Entre os retratados encontramos Buñuel ou vários futuristas italianos. ÉTUDES SUR PARIS é a única obra cinematográfica do escritor e pintor André Sauvage (ligado a Cocteau, Robert Desnos e Man Ray) que chegou até nós na sua totalidade. Lenny Borger considera ÉTUDES SUR PARIS como um filme do mesmo nível artístico que BERLIN, SYMPHONIE EINER GROSSTADT, de Walter Ruttmann. Sauvage dividiu o seu filme em capítulos, como Ruttmann, mas o cineasta alemão decidiu simular um dia numa grande cidade, ao passo que Sauvage se interessou mais pela geografia e pelos contrastes da cidade. Magnífico momento de cinema mudo que, nestes três títulos, retrata Paris no final dos anos vinte. A descobrir. LES HALLES e MONTPARNASSE são primeiras exibições na Cinemateca.
 
06/10/2017, 18h30 | Sala Luís de Pina
O Cinema e a Cidade II
Eureka | New York Portrait II e III
duração total da projeção: 55 min | M/12
BROOKLYN SERIES e NEW YORK PORTRAIT I não poderão ser exibidos por motivos alheios à Cinemateca.
EUREKA
de Ernie Gehr
Estados Unidos, 1974 – 30 min / mudo, sem diálogos
NEW YORK PORTRAIT II, III
de Peter Hutton
Estados Unidos, 1981, 1990 – 10, 15 min / mudos, sem diálogos

Na especificidade do seu cinema de cariz mais experimental, Peter Hutton e Ernie Gehr são dois autores fortemente conotados com o urbano. EUREKA assenta num trabalho de refilmagem de um travelling que retrata Market Street em São Francisco, na passagem para o século XX. Gehr dará nova vida a este longo plano-sequência registado a partir de um elétrico mediante a dilatação da sua duração ao nível dos fotogramas e uma exacerbação dos contrastes da imagem.  NEW YORK PORTRAIT II e III documentam Nova Iorque ao longo de cerca de 10 anos, evocando os ritmos da cidade, os seus contrastes ou as diferenças de escala. NEW YORK PORTRAIT III, é mostrado pela primeira vez na Cinemateca.
 
06/10/2017, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
O Cinema e a Cidade II
Der Himmel Über Berlin
As Asas do Desejo
de Wim Wenders
com Bruno Ganz, Otto Sander, Peter Falk, Solveig Dommartin
República Federal da Alemanha, 1987 - 127 min
legendado em português | M/12
São vários os filmes de Wim Wenders centrados em cidades, de TOKYO-GA a PALERMO SHOOTING, passando por LISBON STORY, mas o mais emblemático é DER HIMMEL ÜBER BERLIN. Inspirado por um poema de Rilke e coescrito com Peter Handke, trata-se de um retrato de Berlim dos últimos tempos do Muro. Uma fábula metafísica com belíssima fotografia, a cores e a preto e branco, assinada por Henri Alekan: Daniel, um anjo que espia Berlim e os seus habitantes, resolve dar o “salto” para Terra e, com a ajuda de outro ex-anjo, inicia o processo de “humanização”. A apresentar em cópia digital.
 
10/10/2017, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
O Cinema e a Cidade II
NYC Weights and Measures | Do the Right Thing
duração total da projeção: 126 min | M/12
NYC WEIGHTS AND MEASURES
de Jem Cohen
Estados Unidos, 2005 – 6 min / legendado eletronicamente em português
DO THE RIGHT THING
Não dês Bronca
de Spike Lee
com Danny Aiello, Ossie Davis, Ruby Dee, Richard Edson
Estados Unidos, 1989 – 120 min / legendado eletronicamente em português

Jem Cohen e Spike Lee são dois cineastas que sempre atribuíram uma importância particular à cidade de Nova Iorque, contribuindo ativamente para a construção da sua imagem. Entre os muitos filmes que, ao longo de 30 anos, registaram as transformações de espaços citadinos, Cohen realizou NYC WEIGHTS AND MEASURES, uma deriva por Manhattan e Brooklyn filmada com uma Bolex 16 mm, que incorpora as consequências do 11 de setembro. A tensão racial em Brooklyn está bem presente em DO THE RIGHT THING, um dos melhores filmes de Spike Lee que culmina com uma tragédia num quente dia de verão e que, pela sua sintaxe cinematográfica, Scott MacDonald apelidou como um continuador do género das "sinfonias urbanas". O filme de Cohen é uma primeira exibição na Cinemateca e o de Lee, a apresentar em cópia digital, não é visto há muitos anos.
 
16/10/2017, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
O Cinema e a Cidade II
Portuguese Railway Train | Alfama a Velha Lisboa | Dans la Ville Blanche
duração total da projeção: 138 min | M/16
PORTUGUESE RAILWAY TRAIN
Chegada ao Cais do Sodré do Primeiro Comboio de Cascais
de Henry Short
Reino Unido, 1896 – 1 min / mudo
ALFAMA A VELHA LISBOA
de João de Almeida Sá
Portugal, 1930 – 31 min / mudo
DANS LA VILLE BLANCHE
A Cidade Branca
de Alain Tanner
com Bruno Ganz, Teresa Madruga, Julia Vonderlinn
Suíça, Portugal, 1983 – 107 min / legendado em português

Seguindo os temas dos filmes dos irmãos Lumière, vistas urbanas, destinos exóticos, ou pequenos números de dança ou acrobacias, Henry Short apresenta-nos um dos primeiros filmes rodados em Portugal, registando a chegada de um comboio à cidade de Lisboa. ALFAMA A VELHA LISBOA é uma notável experiência de vanguarda do cinema mudo português. Uma viagem pela Lisboa dos anos vinte, onde o pormenor e o insólito se manifestam através de um prodigioso trabalho de câmara de Artur Costa de Macedo. DANS LA VILLE BLANCHE é um dos mais célebres filmes de Alain Tanner e um dos mais curiosos filmes que retrata Lisboa, a “cidade branca”. História de um marinheiro suíço que desembarca no porto de Lisboa e se deixa embeber pela atmosfera da cidade, ou pela sua luz, magistralmente captada por Acácio de Almeida.