CICLO
Double Bill


Como é da praxe as tardes de sábado são preenchidas com programas duplos. Em março os emparelhamentos contemplam, por ordem, dois filmes (os de Fleischer e Mamoulian) que inventam maneiras de dar a personalidade cindida dos seus protagonistas; dois filmes (os de Chaplin e de Carpenter) que, separados por cerca de 50 anos, são animados por uma ferocidade política rara no “mainstream” do cinema de Hollywood; dois filmes quase contemporâneos (os de Pietrangeli e Bresson) construídos sob o signo (poético e estrutural) da “deriva”; e duas adaptações (por Visconti e Vecchiali) da mesma história de Fyodor Dostoievski.
 
04/03/2017, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill

The Boston Strangler | Dr. Jekyll and Mr. Hyde
duração total da projeção: 196 min | M/12
 
11/03/2017, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill

The Great Dictator | They Live
duração total da projeção: 217 min | M/12
 
18/03/2017, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill

Io la Conoscevo Bene | Au Hasard Balthazar
duração total da projeção: 205 min | M/12
25/03/2017, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill

Le Notti Bianche | Nuits Blanches Sur la Jetée
duração total da projeção: 188 min | M/12
04/03/2017, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
The Boston Strangler | Dr. Jekyll and Mr. Hyde
duração total da projeção: 196 min | M/12
Entre a projeção dos dois filmes há um intervalo de 30 minutos

THE BOSTON STRANGLER

O Estrangulador de Boston

de Richard Fleischer

com Tony Curtis, Henry Fonda, George Kennedy, Mike Kellin, Murray Hamilton

Estados Unidos, 1968 - 114 min / legendado em espanhol

DR. JEKYLL AND MR. HYDE

O Médico e o Monstro

de Rouben Mamoulian

com Fredric March, Miriam Hopkins, Rose Hobart

Estados Unidos, 1932 - 82 min / legendado em português

 

Um dos mais famosos e admirados filmes de Richard Fleischer sobre um “serial-killer”. Albert De Salvo (o melhor trabalho dramático de Tony Curtis) que aterroriza Boston, assassinando uma série de mulheres, sozinhas nas suas casas. Tecnicamente um dos filmes mais inovadores do realizador, com um uso prodigioso e vanguardista do “split screen”. DR. JEKYLL AND MR. HYDE é um dos maiores filmes da história do cinema, pelo que revela da maestria de Mamoulian e dos seus contributos para a linguagem cinematográfica nos anos de adaptação ao som, representando a súmula das experiências feitas nos seus filmes anteriores. Por muitos tido como a melhor das adaptações do romance de Robert Louis Stevenson, destaca-se também pela carga erótica que o percorre, com Miriam Hopkins no papel da prostituta que Ingrid Bergman retomou na versão de 1941.


 

11/03/2017, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
The Great Dictator | They Live
duração total da projeção: 217 min | M/12
Entre a projeção dos dois filmes há um intervalo de 30 minutos

THE GREAT DICTATOR

O Ditador ou O Grande Ditador

de Charles Chaplin

com Charles Chaplin, Paulette Goddard, Jack Oakie, Reginald Gardiner, Henry Daniell, Billy Gilbert

Estados Unidos, 1940 - 124 min / legendado em português

THEY LIVE

Eles Vivem

de John Carpenter

com Roddy Piper, Keith David, Meg Foster, George “Buck” Flower

Estados Unidos, 1988 - 93 min / legendado em português

 

Charlot entra em guerra contra o fanatismo e a intolerância, e aparece pela última vez no ecrã no papel de um barbeiro judeu que tem um sósia. Nem mais nem menos do que o ditador do país, Adenoid Hynkel (e a referência não podia ser mais transparente). Um dia é confundido com ele e vai fazer um discurso às massas. Portugal esperou anos para ver THE GREAT DICTATOR, de exibição então considerada pouco condicente com a “neutralidade” do nosso país. A ficção científica, o terror e a sátira: THEY LIVE é o filme em que um homem chega a Los Angeles para descobrir que a sociedade de consumo está a ser dominada por mensagens subliminares ditadas por “aliens” disfarçados de humanos. O “real” só se torna visível através de óculos escuros especiais. “Stay asleep”, “no imagination”, submit to authority” são algumas das palavras de ordem para subjugar os humanos. “THEY LIVE, o filme da vingança de Carpenter sobre os anos 80, a plena assunção de uma dimensão política furiosamente combativa – este é, com muito poucos concorrentes à altura, o grande filme político do cinema americano dos anos 80” (Luís Miguel Oliveira).


 

18/03/2017, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
Io la Conoscevo Bene | Au Hasard Balthazar
duração total da projeção: 205 min | M/12
Entre a projeção dos dois filmes há um intervalo de 30 minutos

IO LA CONOSCEVO BENE

de Antonio Pietrangeli

com Stefania Sandrelli, Jean-Claude Brialy, Nino Manfredi, Ugo Tognazzi

Itália, 1965 - 115 min / legendado electronicamente em português

AU HASARD BALTHAZAR

Peregrinação Exemplar

de Robert Bresson

com Anne Wiazemsky, François Lafarge, Philippe Asselin, Pierre Klossowski

França, 1966 - 90 min / legendado em português


Antonio Pietrangeli faleceu prematuramente em 1968, mas pôde dar com este filme a medida do seu talento. O filme conjuga o tema da juventude e o tom lúdico da Nouvelle Vague com a “desdramatização” herdada do cinema de Antonioni e narra uma única história, fragmentada em episódios breves, como se o filme fosse construído sobre o princípio da associação de ideias. No centro do filme, está Stefania Sandrelli e a sua relação com diversos homens, pretexto para um fabuloso retrato, em “corte sociológico”, da Itália em meados da década de 1960. AU HASARD BALTHAZAR é uma fábula construída em torno de um burro que vagueia, ao acaso, de dono em dono. O cinema de Robert Bresson estava, por esta altura, no máximo do seu despojamento, num misto de simplicidade e gravidade formais. As deambulações do burro Balthazar exprimem uma figura capital no universo do cineasta, o acaso. Através dos seus sucessivos donos, é a Humanidade que Bresson encena, num filme de uma beleza sublime.


 

25/03/2017, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
Le Notti Bianche | Nuits Blanches Sur la Jetée
duração total da projeção: 188 min | M/12
Entre a projeção dos dois filmes há um intervalo de 30 minutos

LE NOTTI BIANCHE

Noites Brancas

de Luchino Visconti

com Marcello Mastroianni, Maria Schell, Jean Marais

Itália, 1957 - 94 min / legendado em espanhol | M/12

NUITS BLANCHES SUR LA JETÉE

de Paul Vecchiali

com Astrid Adverbe, Pascal Cervo, Geneviève Montaigu

França, 2014 - 94 min / legendado electronicamente em português


Leão de Prata no Festival de Veneza de 1957, nem por isso LE NOTTI BIANCHE ficou como um dos Visconti mais célebres. O que é profundamente injusto para esta adaptação da novela de Dostoievski, banhada num ambiente “mágico”, sempre numa serenidade “tensa” e num fatalismo à espera da sua confirmação, onde Maria Schell espera fielmente pelo homem que ama, um papel dentro do estilo que a popularizou na Alemanha. Um dos últimos filmes de Paul Vecchiali, que ficou inédito em Portugal, NUITS BLANCHES SUR LA JETÉE pega igualmente na história de Dostoievski, para uma versão duma beleza depuradíssima, centrada nos diálogos entre o principal par de personagens e na relação com a noite e com o sítio onde se encontra: um pontão (a “jetée”) no porto de uma cidade francesa.