CICLO
Solveig Nordlund - Um Percurso Singular


Depois de Jorge Silva Melo, Solveig Nordlund. E faz todo o sentido. São da mesma geração, iniciaram--se no cinema no mesmo sítio (Grupo Zero), correalizaram ambos o filme de sketches E NÃO SE PODE EXTERMINÁ-LO?, e – muitos anos depois e com percursos muito diferentes - já neste século, Solveig encenou várias peças para os Artistas Unidos. E como Silva Melo, Solveig Nordlund só realizou uma mão cheia (seis para ser mais preciso) de longas-metragens de ficção.
Nascida na Suécia, em 1943, naturalizou-se portuguesa nos anos 60, por via do seu casamento com o realizador Alberto Seixas Santos. Em 1974 é uma das fundadoras do Grupo Zero. Aí correaliza os seus primeiros filmes. São documentários de intervenção política, filmados em pleno período revolucionário, assinados coletivamente.
O seu primeiro filme a solo é a curta-metragem NEM PÁSSARO NEM PEIXE, uma ficção que retrata a desilusão de uma certa esquerda, pós-Maio de 68, com o rumo dos acontecimentos em Portugal a seguir ao 25 de Novembro de 1975. No ano seguinte, o Grupo Zero e o teatro da Cornucópia iniciam, com o apoio da RTP, uma colaboração que se traduziu em quatro filmes realizados por Solveig Nordlund, a partir de encenações de peças teatrais por aquela companhia. Destacamos E NÃO SE PODE EXTERMINÁ-LO? (1979), de Karl Valentin.
Construída a partir de um fait-divers (um jovem casal que assassina um taxista), DINA E DJANGO (1980) será a sua primeira longa-metragem. A partir da década de 1980, Solveig Nordlund passa a dividir a sua vida e o seu trabalho entre a Suécia e Portugal. Todas as longas-metragens que fará daí em diante serão coproduções luso-suecas. ATÉ AMANHÃ, MÁRIO (1994), rodado na ilha da Madeira, é uma denúncia sobre o turismo sexual, com exploração de menores. A música original de José Mário Branco é um dos pontos altos do filme. COMÉDIA INFANTIL (1998) é, provavelmente, o filme de Solveig Nordlund mais visto e que mais êxito teve. Uma adaptação do livro de Henning Mankel, sobre a história de um rapaz (Nélio) que, depois de ver a sua aldeia destruída pela guerra, foge para Maputo. APARELHO VOADOR A BAIXA ALTITUDE (2001) é a adaptação extremamente eficaz e engenhosa de um conto de ficção científica de J G. Ballard. A FILHA (2003) é um filme feito e pensado para os atores. Situações extremas e ambíguas, brincadeiras perigosas que exigem uma entrega total por parte de quem dá, não só a cara, mas também o corpo. E nesse aspeto quer Nuno Melo quer Joana Bárcia são inexcedíveis. A MORTE DE CARLOS GARDEL (2011), apesar de ser também uma adaptação de uma obra literária (romance homónimo de António Lobo Antunes), será, porventura o mais autobiográfico dos seus filmes.
Mas a filmografia desta cineasta não se esgota nas longas-metragens de ficção. Neste Ciclo poderemos ver quase integralmente a sua obra (além de algumas curtas-metragens que realizou para a televisão sueca de que não se conseguiram cópias, também exibiremos apenas – por sugestão da própria – um episódio de cada uma das três séries que fez para a RTP – “Nós Por Eles”, “Nós Por Elas” e “Conversas de Cabeleiro”). Do muito que há a descobrir ou a rever,  destacamos as três adaptações de peças de Franz Xaver Kroetz (a relação com o teatro é um aspecto fortíssimo e transversal a toda a obra da realizadora); UMA HISTÓRIA IMORTAL (novamente o teatro – um outro teatro) e as duas curtas-metragens a partir de contos de Ballard. Por tudo o que já realizou em cinema, seja ficção (de maior ou menor duração), seja documentário seja em Portugal ou na Suécia, a obra de Solveig Nordlund tem uma amplitude e uma riqueza que vale bem a sua (re)descoberta. O Ciclo conclui-se em julho. Será publicado um catálogo.
 
21/06/2022, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Solveig Nordlund - Um Percurso Singular

Dina e Django
de Solveig Nordlund
Portugal, 1981 - 76 min | M/12
 
22/06/2022, 19h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Solveig Nordlund - Um Percurso Singular

A Luta do Povo – A Alfabetização em Santa Catarina | Assim Começa uma Cooperativa | A Lei da Terra
duração total da projeção: 111 minutos | M/12
 
23/06/2022, 19h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Solveig Nordlund - Um Percurso Singular

Música para Si | Viagem para a Felicidade | Novas Perspectivas
duração total da projeção: 137 minutos | M/12
24/06/2022, 19h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Solveig Nordlund - Um Percurso Singular

Hemmet | Minnen Från Byn Torrom | Moster Linnea och Världen | Utsikten Från Mitt Fönster
duração total da projeção: 67 minutos
25/06/2022, 19h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Solveig Nordlund - Um Percurso Singular

Marguerite Duras | Möte Med Mai
duração total da projeção: 68 minutos | M/12
21/06/2022, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Solveig Nordlund - Um Percurso Singular
Dina e Django
de Solveig Nordlund
com Maria Santiago, Luís Lucas, Manuela de Freitas, Sinde Filipe, João Perry
Portugal, 1981 - 76 min | M/12
com a presença de Solveig Nordlund
A revolução de 1974 é o pano de fundo de DINA E DJANGO, em que os dois jovens heróis, dominados por frases de literatura de cordel, vivem uma paixão curta e fatal que deixa atrás de si o trágico rasto de um crime. Baseado num acontecimento verídico, DINA E DJANGO foi o único filme interpretado por Maria Santiago, muito devendo à força da sua presença. Um romance nada convencional cuja história se cruza com a história da revolução de 1974 e com as suas imagens. À semelhança de A LEI DA TERRA e de outros filmes de Solveig Nordlund desse período, DINA E DJANGO é uma produção do Grupo Zero.

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22/06/2022, 19h30 | Sala Luís de Pina
Solveig Nordlund - Um Percurso Singular
A Luta do Povo – A Alfabetização em Santa Catarina | Assim Começa uma Cooperativa | A Lei da Terra
duração total da projeção: 111 minutos | M/12
A LUTA DO POVO – A ALFABETIZAÇÃO EM SANTA CATARINA
de Grupo Zero
Portugal, 1976 – 29 min

ASSIM COMEÇA UMA COOPERATIVA
de Grupo Zero
Portugal, 1977 – 15 min

A LEI DA TERRA
de Grupo Zero
Portugal, 1977 – 67 min

Três filmes produzidos e realizados pelo coletivo Grupo Zero, demonstrativos do desenvolvimento de uma produção cinematográfica que acompanhava de perto as lutas camponesas e operárias do período pós-revolucionário. Do Grupo Zero fizeram parte, entre outros, Acácio de Almeida, Alberto Seixas Santos, Fernando Belo, Joaquim Furtado, José Luís Carvalhosa, Leonel Efe, Lia Gama, Paola Porru, Serras Gago, Solveig Nordlund ou Teresa Caldas. A LUTA DO POVO centra-se na aldeia de Santa Catarina, no Alentejo, onde decorrem cursos de alfabetização para adultos. Só aos quarenta e quatro anos, Alfredo, um trabalhador agrícola, pôde aprender o que são as letras, a política, a vida cooperativa. A LUTA DO POVO destaca-se pelo facto de O Grupo Zero filmar o plenário dos moradores que assistem na escola à projeção de imagens do próprio filme, revelando como o cinema tinha um papel determinante em todo o processo revolucionário ao explorar o típico modelo do cinema militante da projeção seguida de debate. ASSIM COMEÇA UMA COOPERATIVA acompanha os esforços de um grupo de pequenos agricultores de Barcouço, na zona de Coimbra, cuja ideia de formar uma cooperativa nasceu na banda de música que a maior parte integrava. Mais abrangente, A LEI DA TERRA centra-se no processo da Reforma Agrária, retratado nas suas dimensões política, social e económica, com recurso à perspetiva histórica e ao seu respetivo comentário em off a duas vozes (uma masculina e outra feminina). No contexto do cinema militante do PREC, A LEI DA TERRA é também exemplo de uma preocupação didática.

consulte a FOLHA DA CINEMATECA de A LUTA DO POVO aqui

consulte a FOLHA DA CINEMATECA de ASSIM COMEÇA UMA COOPERATIVA + A LEI DA TERRA aqui
23/06/2022, 19h30 | Sala Luís de Pina
Solveig Nordlund - Um Percurso Singular
Música para Si | Viagem para a Felicidade | Novas Perspectivas
duração total da projeção: 137 minutos | M/12
MÚSICA PARA SI
de Solveig Nordlund
com Isabel de Castro
Portugal, 1978 – 55 min

VIAGEM PARA A FELICIDADE
de Solveig Nordlund
com Lia Gama
Portugal, 1978 – 37 min

NOVAS PERSPECTIVAS
de Solveig Nordlund
com Dalila Rocha
Portugal, 1979 – 45 min

Três peças de Franz Xaver Kroetz levadas a cena pela Cornucópia e encenadas por Jorge Silva Melo e Luis Miguel Cintra, de que Solveig Nordlund fez outros tantos filmes. Em todos eles a protagonista está sozinha (ou praticamente) no ecrã. Três grandes desempenhos de três grandes atrizes; Isabel de Castro, Lia Gama e Dalila Rocha. O que João Bénard da Costa escreve a propósito de MÚSICA PARA SI aplica-se aos três filmes: “(…) combina um despojamento bressoniano com uma acumulação de sinais que ‘tapam’ por completo esse despojamento e transformam o filme no acréscimo da mais estrita materialidade. É simultaneamente um filme minimal e maximal, em que tudo se diz com nada e tudo com tudo. E o seu milagre reside no modo como é usada – em contraponto e em eco à música – a figura de repetição.” VIAGEM PARA A FELICIDADE e NOVAS PERSPECTIVAS são primeiras apresentações na Cinemateca.

consulte a FOLHA DA CINEMATECA de MÚSICA PARA SI aqui

consulte a FOLHA DA CINEMATECA de VIAGEM PARA A FELICIDADE e NOVAS PERSPECTIVAS aqui
 
24/06/2022, 19h30 | Sala Luís de Pina
Solveig Nordlund - Um Percurso Singular
Hemmet | Minnen Från Byn Torrom | Moster Linnea och Världen | Utsikten Från Mitt Fönster
duração total da projeção: 67 minutos
legendados electronicamente em português | M/12
HEMMET
“Casa”
de Solveig Nordlund
Suécia, 1982 – 7 min

MINNEN FRÅN BYN TORROM
“Memórias da Minha Aldeia”
de Solveig Nordlund
Suécia, 1984 – 35 min

MOSTER LINNEA OCH VÄRLDEN
“A Tia Linnea e o Mundo”
de Solveig Nordlund
Suécia, 2005 – 8 min

UTSIKTEN FRÅN MITT FÖNSTER
“A Vista da Minha Janela”
de Solveig Nordlund
Suécia, 2005 – 17 min

Os quatro filmes da sessão têm em comum a aldeia de Torrom, terra natal dos avós de Solveig Nordlund (e o nome que escolheu para a sua produtora). Os dois primeiros são memórias da infância, os dois últimos retratam uma realidade atual. Primeiras apresentações na Cinemateca.

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25/06/2022, 19h30 | Sala Luís de Pina
Solveig Nordlund - Um Percurso Singular
Marguerite Duras | Möte Med Mai
duração total da projeção: 68 minutos | M/12
MARGUERITE DURAS
de Solveig Nordlund
Suécia, 1995 - 58 min / legendado em português

MÖTE MED MAI
“Com Mai Zetterling”
de Solveig Nordlund
Suécia, 1995 - 10 min / legendado eletronicamente em português

O documentário MARGUERITE DURAS consiste em duas entrevistas originais em que a cineasta fala da sua vida e obra. Solveig Nordlund entrevista Mai Zetterling no verão de 1984 na casa dela no sul da França. Zetterling diz porque deixou a Suécia e fala do drama que foi passar de ser atriz para entrar na realização de filmes, uma profissão dominada por homens. MÖTE MED MAI é uma primeira apresentação na Cinemateca.

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