CICLO
Lembrar Anna Karina


Anna Karina (1940-2019) deixou-nos mais sós em dezembro. “A atriz que nos interpretou quando fomos felizes”, escreveu “Jorge Silva Melo, comovido” num texto que fala do segredo não desvendado pelos obituários. “Esta atriz por acaso foi a luz do verão, a luz da manhã, a brisa com que saímos da adolescência, o nosso primeiro e eterno amor, o feliz.” Karina não levou o segredo consigo, deixou-o nos filmes em que todos a lembramos vendo-a como Godard a olhou quando lhe chamou Veronica Dreyer, Angela Récamier, Nana Kleinfrahenheim, Odile, Natacha von Braun, Marianne Renoir, Paula Nelson, Eleanor nos sete (mais um) filmes que fizeram juntos.
O segredo de Karina-atriz também está na personagem da religiosa Suzanne Simonin de Jacques Rivette, ou na Anna do filme homónimo de Pierre Koralnik a partir de música e canções de Serge Gainsbourg, outros dos títulos incontornáveis dos seus “anos Godard”, os 1960. A dinamarquesa Hanna Karin Blarke Bayer tornou-se Anna Karina em 1958, em Paris, batizada por Coco Chanel antes do encontro com Godard. A real dimensão da sua filmografia de mais de 60 títulos está marcada por outras colaborações importantes (Jacques Rivette, Valerio Zurlini, Luchino Visconti, George Cukor, Volker Schlöndorff, Rainer Werner Fassbinder, Raoul Ruiz ou Michel Deville, Jacques Baratier, Roger Vadim, André Delvaux, Pierre Koralnik). A real dimensão do seu percurso, pelo facto de também ter sido realizadora num momento improvável (VIVRE ENSEMBLE, de 1973, por ela escrito, produzido, realizado e interpretado), além de cantora e escritora. O segredo de Anna Karina está ainda nas esferas teatral e musical que foram contíguas à sua vida no cinema mas menos fulgurantemente exaltadas.
Em maio último, quando numa iniciativa conjunta com o festival IndieLisboa a Cinemateca dedicou uma retrospetiva a Anna Karina, esperava tê-la em Lisboa. Por razões de saúde, Karina não pôde viajar no último momento, fazendo dessa retrospetiva um encontro falhado mas também uma ocasião de celebração que prosseguiu festiva, demonstrando aquilo a que se propunha: a intensidade da filmografia, os passos inesperados e corajosos do percurso. Em homenagem póstuma, a Cinemateca dedica um dia de programação a Anna Karina, apresentando três sessões e três filmes no dia 4: o título mais icónico da sua filmografia com Godard, que continua a arrebatar as gerações que o descobrem, jovens – PIERROT LE FOU; o filme em que Rivette lhe deu o papel dramático da sua vida, extravasando dos palcos – LA RELIGIEUSE; um filme inicial em França, contemporâneo de UNE FEMME EST UNE FEMME de Godard, realizado por Michel Deville e que é hoje um título relativamente esquecido (na Cinemateca é programado pela primeira vez e tem uma segunda passagem noutra data) – CE SOIR OU JAMAIS.
 
04/02/2020, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Lembrar Anna Karina

Pierrot le Fou
Pedro, o Louco
de Jean-Luc Godard
França, Itália, 1965 - 109 min
 
04/02/2020, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Lembrar Anna Karina

Ce Soir ou Jamais
de Michel Deville
França, 1961 - 106 min
 
04/02/2020, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Lembrar Anna Karina

La Religieuse
A Religiosa
de Jacques Rivette
França, 1966 - 135 min
18/02/2020, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Lembrar Anna Karina

Ce Soir ou Jamais
de Michel Deville
França, 1961 - 106 min
04/02/2020, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Lembrar Anna Karina
Pierrot le Fou
Pedro, o Louco
de Jean-Luc Godard
com Jean-Paul Belmondo, Anna Karina, Samuel Fuller
França, Itália, 1965 - 109 min
legendado em português | M/12
Emblema dos anos 1960, emblema do cinema moderno, PIERROT LE FOU adquiriu há muito tempo o estatuto de clássico. O mais famoso filme de Godard, de “uma beleza sublime” no dizer de Louis Aragon, continua a entusiasmar as novas gerações que o descobrem. Pierrot (le fou) e Marianne (Renoir) deixam subitamente Paris e saem pelas estradas de França, “vivendo perigosamente até ao fim”. Amam-se e matam(-se), mas principalmente recusam a civilização tal como o pequeno-burguês a concebe, vivendo o instante e o dia a dia. A fotografia a cores de Raoul Coutard é um verdadeiro compêndio de muitas tendências estéticas dos anos 60. E é aqui que Godard filma Fuller a afirmar que “o cinema é como um campo de batalha. Amor. Ódio. Ação. Violência. Morte. Numa palavra: emoção”. A apresentar em cópia digital.
 
04/02/2020, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Lembrar Anna Karina
Ce Soir ou Jamais
de Michel Deville
com Anna Karina, Claude Rich, Georges Descrières, Jacqueline Danno, Michel de Ré, Guy Bedos, Françoise Dorléac, Anne Tonietti, Éliane d’Almeida
França, 1961 - 106 min
legendado eletronicamente em português | M/12
O primeiro filme de Michel Deville é protagonizado por Anna Karina e estreou em França antes de LE PETIT SOLDAT (1960, censurado durante três anos por alusões à Guerra da Argélia) e UNE FEMME EST UNE FEMME (1961, em que Godard filmou Karina na personagem de Angela depois de a ter olhado a 24 fotogramas por segundo como Veronica Dreyer), sendo portanto o primeiro filme em que os espectadores franceses veem Karina. É a sua primeira longa-metragem estreada e foi um filme de assinalável popularidade. A história é a de um encenador que festeja o início dos ensaios da sua primeira comédia musical quando a respetiva vedeta sofre um acidente que obriga a uma substituição de última hora. Valérie (Karina) é uma aluna do conservatório para quem a ocasião é um “ou vai ou racha”. Ou, “esta noite ou nunca”. Primeira exibição na Cinemateca.
 
04/02/2020, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Lembrar Anna Karina
La Religieuse
A Religiosa
de Jacques Rivette
com Anna Karina, Liselotte Pulver, Francisco Rabal
França, 1966 - 135 min
legendado em inglês e eletronicamente em português | M/12
A segunda longa-metragem de Rivette adapta o romance homónimo de Diderot sobre uma jovem que é posta num convento à sua revelia. Antes mesmo de ser realizado, o filme desencadeou uma cabala de políticos conservadores, que fizeram com que fosse proibido, o que gerou um enorme escândalo. Só foi autorizado depois do título ser alterado para SIMONE SIMONIN, LA RELIGIEUSE DE DENIS DIDEROT, embora nunca ninguém se tenha referido assim ao filme. Muito diferente do estilo que Rivette adotaria a partir de L’AMOUR FOU (1969), rigoroso e rarefeito, extremamente “escrito”, LA RELIGIEUSE conta com um desempenho excecional de Anna Karina no papel principal. A apresentar em cópia digital.
18/02/2020, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Lembrar Anna Karina
Ce Soir ou Jamais
de Michel Deville
com Anna Karina, Claude Rich, Georges Descrières, Jacqueline Danno, Michel de Ré, Guy Bedos, Françoise Dorléac, Anne Tonietti, Éliane d’Almeida
França, 1961 - 106 min
legendado eletronicamente em português | M/12
O primeiro filme de Michel Deville é protagonizado por Anna Karina e estreou em França antes de LE PETIT SOLDAT (1960, censurado durante três anos por alusões à Guerra da Argélia) e UNE FEMME EST UNE FEMME (1961, em que Godard filmou Karina na personagem de Angela depois de a ter olhado a 24 fotogramas por segundo como Veronica Dreyer), sendo portanto o primeiro filme em que os espectadores franceses veem Karina. É a sua primeira longa-metragem estreada e foi um filme de assinalável popularidade. A história é a de um encenador que festeja o início dos ensaios da sua primeira comédia musical quando a respetiva vedeta sofre um acidente que obriga a uma substituição de última hora. Valérie (Karina) é uma aluna do conservatório para quem a ocasião é um “ou vai ou racha”. Ou, “esta noite ou nunca”. Primeira exibição na Cinemateca.