04/01/2020, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
Marlene | Martin Roumagnac
Duração total da projeção: 199 minutos.
entre os dois filmes há um intervalo de 20 minutos
MARLENE
de Maximilian Schell
com a voz de Marlene Dietrich
República Federal da Alemanha, 1983 - 94 min / legendado em português | M/12
MARTIN ROUMAGNAC
Desespero
de Georges Lacombe
com Marlene Dietrich, Jean Gabin, Daniel Gélin, Margo Lion
França, 1946 - 105 min / legendado eletronicamente em português | M/12
Maximilian Schell levou alguns anos a convencer Marlene Dietrich a aparecer num documentário sobre a sua pessoa. Já quase octogenária, a vedeta impôs como condição estar ausente de campo. Por conseguinte, limitamo-nos a ouvir a sua voz, num tom frequentemente cortante, a que se justapõem fotografias, excertos de filmes e de atualidades, de modo a elaborar o retrato de uma mulher que tornou-se um mito antes dos 30 anos (na Alemanha, o filme é subtitulado precisamente “Retrato de um Mito”). Foi em MARTIN ROUMAGNAC que Marlene Dietrich e Jean Gabin, que viviam então uma relação sentimental, se reuniram no ecrã pela única vez, mas trata-se de um filme “maldito”, que fracassou à época e nunca foi recuperado pela crítica ou pela cinefilia. Gabin e Marlene (que fala perfeitamente francês) vivem personagens que correspondem à imagem cinematográfica que tinham à época: ela é uma estrangeira “com um passado” que vive numa cidade de província e é amante de um diplomata sobranceiro, ele é um empreiteiro da construção civil. Ambos vivem uma intensa relação ilícita e, como de costume, a personagem de Gabin não aceita compromissos. Os filmes não são apresentados na Cinemateca, respetivamente, desde 2014 e 2004.
11/01/2020, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
La Femme au Couteau | O Som ao Redor
duração total da projeção: 208 minutos
entre os dois filmes há um intervalo de 20 minutos
LA FEMME AU COUTEAU
“A Mulher com a Faca”
de Timité Bassori
com Timité Bassori, Marie Vieyra, Danielle Alloh
Costa do Marfim, 1969 - 77 min / legendado eletronicamente em português | M/12
O SOM AO REDOR
de Kleber Mendonça Filho
com Ana Rita Gurgel, Caio Almeida, Maeve Jenkins
Brasil, 2012 - 131 min | M/12
LA FEMME AU COUTEAU, única longa-metragem de ficção de Timité Bassori insere-se na vertente do cinema africano do primeiro decénio posterior às independências cujos filmes se situam em ambientes urbanos e não em regiões recuadas, tratando por conseguinte dos dilemas da África moderna, como os filmes de Désiré Ecaré, Med Hondo e parte da obra de Ousmane Sembène. Trata-se da história de um jovem “ocidentalizado”, que tem pesadelos recorrentes, em que uma mulher o ameaça com uma faca. O homem tenta aplacar as suas fobias misturando métodos africanos tradicionais e a psicanálise. Numa intriga secundária, vemos um africano de smoking, a vaguear por Abidjan. A realização é sóbria, precisa e perfeitamente dominada. O filme foi recentemente restaurado pela Cinemateca de Bolonha e a Film Foundation’s World Cinema Project, no âmbito do African Film Heritage Project. Nos últimos anos, devido a um trabalho de fundo, a cidade do Recife tornou-se o pólo do cinema de maior ambição artística e melhor qualidade do Brasil, graças em parte à ação como programador de Kleber Mendonça Filho, o realizador de AQUARIUS e BACURAU. O SOM AO REDOR é a sua primeira longa-metragem. Situado num bairro abastado e realizado em scope, o filme mostra as suas personagens (os habitantes novos-ricos e os homens que fazem a segurança do bairro) num denso panorama mural, com diversas histórias simultâneas e pequenos incidentes. No desenlace, uma surpresa narrativa dá uma nova camada de sentido ao filme. Segundo o realizador, “o tema do filme é a inquietação”. Para “tornar palpável o sentimento de violência sem mostrar o ato de violência”, Kleber Mendonça Filho fez um extraordinário trabalho sobre o som off, a partir de mais de sessenta horas de som gravado: o espaço do filme é compartimentado, mas o som invade cada uma destas divisões, num filme em que “a banda sonora não apenas constrói o ambiente do filme como age sobre a sua dinâmica” (Joachim Lepastier). Primeiras apresentações na Cinemateca.
18/01/2020, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
Hairspray | Laberinto de Pasiones
Duração total da projeção: 192 minutos.
entre os dois filmes há um intervalo de 20 minutos
HAIRSPRAY
Laca
de John Waters
com Sonny Bono, Divine, Ruth Brown, Mink Stole
Estados Unidos, 1988 - 92 min / legendado em português| M/12
LABERINTO DE PASIONES
de Pedro Almodóvar
com Cecilia Roth, Imanol Arias, Helga Liné
Espanha, 1982 - 100 min / legendado em inglês e eletronicamente em português| M/12
Depois de POLYESTER, este foi o segundo filme de John Waters a ter uma distribuição “normal”. HAIRSPRAY ilustra o humor delirante do “mestre de Baltimore”, onde se passa a ação, em 1962, quando a cidade se autodenominava “a capital mundial do penteado”. Waters declarou numa entrevista que “a aposta de todos os meus filmes é fazer uma comédia sobre um tema que, em si, nada tem de divertido”. Aqui, um grupo de adolescentes decide atingir a celebridade através de um concurso de televisão e, para tal, estão dispostos a tudo. Este foi o último filme em que atuou Divine, a obesa musa de Waters, que morreria pouco depois. O crítico Richard Corliss comentou: “Vejam HAIRSPRAY, é leve e aéreo, mas gruda: é o primeiro filme em aerossol”. Segunda longa-metragem “oficial” de Pedro Almodóvar, LABERINTO DE PASIONES ilustra o período camp (que já é evidente nos títulos dos filmes) do cineasta espanhol, com um pronunciado gosto pelo humor grotesco. A trama narrativa, parcialmente inspirada de cartas de leitoras da imprensa “cor-de-rosa”, faz jus ao título e todos os personagens procuram desesperadamente ir para a cama uns com os outros. O realizador define LABERINTO DE PASIONES como “uma comédia delirante, um género de que gosto muito e do qual sempre me senti próximo. Quando escrevi o argumento, quis demonstrar que Madrid era a cidade para onde todos vinham e onde tudo podia acontecer”. O filme de John Waters não é apresentado na Cinemateca desde 2014 e o de Almodóvar é mostrado nas nossas salas pela primeira vez.
25/01/2020, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
They Made Me a Fugitive | Mephisto
Duração total da projeção: 244 minutos
entre os dois filmes há um intervalo de 20 minutos
THEY MADE ME A FUGITIVE
Sou um Fugitivo
de Alberto Cavalcanti
com Trevor Howard, Griffith Jones, Sally Gray
Grã-Bretanha, 1947 - 100 min / legendado eletronicamente em português| M/12
MEPHISTO
Mephisto
de István Szabo
com Klaus Maria Brandauer, Krystyna Janda, Ildikó Bánsági
Hungria/República Federal da Alemanha, Áustria 1981 - 144 min / legendado em português| M/12
Antepenúltimo filme do período britânico de Alberto Cavalcanti, THEY MADE ME A FUGITIVE conta a história de um soldado desmobilizado que, a seguir à guerra, aceita trabalhar para um criminoso que trabalha no mercado negro. Traído pelos seus “patrões”, o homem é preso por um crime que não cometeu. Ao ser libertado, busca vingança. O filme, de grande riqueza plástica, assume a forma de um périplo pelas ruas noturnas do Soho londrino, com semelhanças com o filme negro americano, então no auge. Em MEPHISTO, o percurso de um ator na Alemanha é posto em paralelo com a ascensão do Nacional-Socialismo. Gustav Gründgens foi o ator que serviu de base ao filme e ao romance de onde foi extraído, escrito por Klaus Mann, filho de Thomas Mann e irmão de Erika Mann, primeira mulher de Gründgens. Este foi considerado o melhor intérprete do papel de Mefisto no Fausto de Goethe da sua geração. Também fez o inesquecível papel do chefe dos gangsters em M, de Fritz Lang e atuou em LIEBELEI, de Ophuls. O filme de Istvan Szabo é uma obra complexa e magnífica, que segundo o realizador, “não é uma história sobre a ditadura nazi, mas uma meditação, válida em qualquer época, sobre a relação entre a arte e o poder.” O filme de Szabo não é apresentado na Cinemateca desde 2014, ao passo que o de Cavalcanti é aqui apresentado pela primeira vez.