13/09/2019, 18h30 | Sala Luís de Pina
História Permanente do Cinema Português
Ala-Arriba!
de José Leitão de Barros
com Domingues Gonçalves, Elsa Bela-Flor, Luís Pinto, Madalena Vilaça, Maria Olguim, e os pescadores da Póvoa do Varzim
Portugal, 1942 - 84 min | M/12
Aposta forte do autor e do próprio contexto estatal da época (este foi um filme em que António Ferro se empenhou especialmente depois da relativa desilusão que terá tido com a falta de grande impacto público de obras de propaganda política ostensiva como A REVOLUÇÃO DE MAIO ou o FEITIÇO DO IMPÉRIO, voltando-se aqui para o campo folclórico e etnográfico tão no centro da atividade do SPN por si dirigido), ALA-ARRIBA! é normalmente visto como a conclusão da “trilogia do mar” de Leitão de Barros, depois das obras que este tinha dedicado ao tema nos finais do cinema mudo (NAZARÉ, PRAIA DE PESCADORES, de 1929, e MARIA DO MAR, de 1930). Filmando agora mais a norte (na Póvoa de Varzim), o tema, o propósito e o enredo ficcional quase fazem dele um remake de MARIA DO MAR, não seja a vontade de levar todos os pressupostos do antecedente ainda mais longe: onde no primeiro a relação amorosa enfrenta um choque de famílias incidental, agora o pano de fundo é mesmo uma história de castas na comunidade piscatória; onde no primeiro se aproveita exemplarmente o enquadramento e a iconografia da Nazaré, tudo, agora, escava nas tradições da Póvoa e nos seus rituais do mar e da morte (o que João Bénard da Costa chamou uma “figuração do luto”), acentuando-se ainda mais o propósito realista da filmagem e o recurso aos não-atores locais (todos os protagonistas o são e em todo o elenco só intervieram dois profissionais). Um dos grandes exemplos da força plástica de Leitão de Barros, que o regime levou à Bienal de Veneza (a última em tempo de Mussolini), onde ganhou a Taça Volpi.