CICLO
História Permanente do Cinema Português


Reabrimos a “História Permanente…” com um regresso a Leitão de Barros, cruzando dois motivos próximos. Por um lado, ALA-ARRIBA!, estreado no São Luiz há quase exatamente 77 anos (a 15 de setembro de 1942) é um dos filmes marcantes dos inícios da década que aqui estamos agora a revisitar, e um título que, não tendo estado propriamente ausente destas salas, teve uma única exibição na Cinemateca depois de 2006 quando, há dois anos, foi projetado no contexto dos “filmes portugueses legendados” em línguas estrangeiras. Por outro, neste mesmo mês de setembro é editada uma biografia do realizador que não pode senão suscitar um redobrado interesse naquele que ocupou lugar destacadíssimo em toda a primeira metade da nossa cinematografia. Leitão de Barros, a biografia roubada, de Joana Leitão de Barros e Ana Mantero (ambas netas do realizador) terá uma sessão de lançamento na Cinemateca, na Livraria Linha de Sombra, no próprio dia desta sessão, no que constituirá portanto uma dupla iniciativa de evocação do autor e de proposta de reflexão sobre ele.
 
 
13/09/2019, 18h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo História Permanente do Cinema Português

Ala-Arriba!
de José Leitão de Barros
Portugal, 1942 - 84 min | M/12
 
13/09/2019, 18h30 | Sala Luís de Pina
História Permanente do Cinema Português
Ala-Arriba!
de José Leitão de Barros
com Domingues Gonçalves, Elsa Bela-Flor, Luís Pinto, Madalena Vilaça, Maria Olguim, e os pescadores da Póvoa do Varzim
Portugal, 1942 - 84 min | M/12
Aposta forte do autor e do próprio contexto estatal da época (este foi um filme em que António Ferro se empenhou especialmente depois da relativa desilusão que terá tido com a falta de grande impacto público de obras de propaganda política ostensiva como A REVOLUÇÃO DE MAIO ou o FEITIÇO DO IMPÉRIO, voltando-se aqui para o campo folclórico e etnográfico tão no centro da atividade do SPN por si dirigido), ALA-ARRIBA! é normalmente visto como a conclusão da “trilogia do mar” de Leitão de Barros, depois das obras que este tinha dedicado ao tema nos finais do cinema mudo (NAZARÉ, PRAIA DE PESCADORES, de 1929, e MARIA DO MAR, de 1930). Filmando agora mais a norte (na Póvoa de Varzim), o tema, o propósito e o enredo ficcional quase fazem dele um remake de MARIA DO MAR, não seja a vontade de levar todos os pressupostos do antecedente ainda mais longe: onde no primeiro a relação amorosa enfrenta um choque de famílias incidental, agora o pano de fundo é mesmo uma história de castas na comunidade piscatória; onde no primeiro se aproveita exemplarmente o enquadramento e a iconografia da Nazaré, tudo, agora, escava nas tradições da Póvoa e nos seus rituais do mar e da morte (o que João Bénard da Costa chamou uma “figuração do luto”), acentuando-se ainda mais o propósito realista da filmagem e o recurso aos não-atores locais (todos os protagonistas o são e em todo o elenco só intervieram dois profissionais). Um dos grandes exemplos da força plástica de Leitão de Barros, que o regime levou à Bienal de Veneza (a última em tempo de Mussolini), onde ganhou a Taça Volpi.