CICLO
Povos em Movimento – Migração, Exílio, Diáspora (III)


Como conclusão deste vasto Ciclo, que totalizou 65 programas diferentes e cujas duas primeiras partes foram exibidas em março e abril, apresentamos em maio um núcleo de filmes inteiramente consagrado à emigração portuguesa, e, dentro desta, muito especialmente à emigração para França nos anos sessenta e setenta. A escolha deve-se ao facto de, dentro desse tema mais geral, este ter sido de longe o fenómeno histórico que, pelo seu dramatismo único, se tornou objeto de maior investimento cinematográfico. Como é bem conhecido, contrariamente ao que se passara antes, quando a emigração era controlada pelo regime e era necessário passaporte e autorização de viagem para ir para o Brasil, as colónias, a Venezuela, a África do Sul ou os Estados Unidos, esta imensa leva de emigração para a Europa foi feita “a monte”, de modo clandestino, enquanto o regime fechava os olhos, ciente de que o êxodo também aliviava a miséria e garantia remessas não negligenciáveis para a economia interna. Centenas de milhares de pessoas partiram assim da maneira mais precária, de início para França e, depois, espalhando-se por diversos outros países. Nos anos oitenta, estimava-se que a população lusa em França ascendia a cerca de um milhão de pessoas, o equivalente a 10% da população de Portugal. Depois dos duríssimos “anos de lama”, em que populações sobretudo rurais viveram em bairros de lata, as décadas seguintes foram de integração progressiva, criando, também aí, uma relação particularíssima com os países de destino e com Portugal. Diferentemente dos que tinham emigrado para outros continentes e que, na sua imensa maioria, nunca aqui regressavam, aqueles que emigraram para a Europa passaram a vir regularmente de férias às suas terras e jamais cortaram por inteiro os laços com o país de origem. Se um fenómeno como a vastíssima emigração portuguesa para o Brasil no século XX não deixou traços cinematográficos, no caso da emigração para a França há então abundante material filmado, inclusive por imigrantes da primeira ou segunda geração. Neste subciclo, em que optámos por incluir apenas duas obras de ficção (O SALTO e GANHAR A VIDA), serão abordadas diferentes etapas e facetas do fenómeno: os “anos de lama”; a assimilação no país de adoção; as vindas regulares e temporárias a Portugal; a realização do sonho de ter uma casa na terra onde nasceram; o desencanto daqueles que regressam definitivamente e não conseguem reintegrar-se. A seleção de títulos não pretende ser exaustiva e tem de resto uma lacuna importante, involuntária, que não podemos deixar de referir: um dos títulos que consideramos incontornável, e que, aliás, a Cinemateca pôde apresentar no passado – NACIONALIDADE PORTUGUÊS, realizado em 1973 por Fernando Lopes e Nuno de Bragança junto das comunidades portuguesas em França – é hoje um título de que não conseguimos localizar qualquer cópia…e para o qual queremos justamente lançar um alerta sobre o perigo da sua sobrevivência. O próprio O SALTO, de Christian de Chalonge, é uma obra de que não são conhecidas cópias no formato original, e que – até que se possa concluir um restauro que, este, parece finalmente viável mercê da colaboração de várias entidades – apenas entra no Ciclo pela preciosa colaboração que nos foi prestada pelo Museu das Migrações e das Comunidades de Fafe. Quase todos os filmes programados são inéditos na Cinemateca, e chamamos a atenção para o debate final, em que, entre outros, estarão presentes vários realizadores que não só abordaram como viveram eles próprios esta realidade (participantes a anunciar).
 
17/05/2019, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Povos em Movimento – Migração, Exílio, Diáspora (III)

Les Cousins d’Amérique
de Philippe Costantini
França, 1985 - 72 min | M/12
 
20/05/2019, 18h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Povos em Movimento – Migração, Exílio, Diáspora (III)

L’Horloge du Village
de Philippe Costantini
Portugal, França, 1989 - 77 min | M/12
 
20/05/2019, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Povos em Movimento – Migração, Exílio, Diáspora (III)

Ganhar a Vida
de João Canijo
Portugal, 2000 - 118 min
21/05/2019, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Povos em Movimento – Migração, Exílio, Diáspora (III)

O Emigrante | Champigny-sur-Tage | Des Portugais en France: 30 Ans Après
duração total da projeção: 95 min | M/12
21/05/2019, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Povos em Movimento – Migração, Exílio, Diáspora (III)

Crónica de Emigrados
de Manuel Madeira
França, 1980 - 153 min | M/12
17/05/2019, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Povos em Movimento – Migração, Exílio, Diáspora (III)
Les Cousins d’Amérique
de Philippe Costantini
França, 1985 - 72 min | M/12
com a presença de Philippe Costantini
Em 1976, Philippe Costantini realizou TERRA DE ABRIL, numa aldeia transmontana. Nove anos depois, fez LES COUSINS D’AMÉRIQUE, sobre uma família desta mesma aldeia que emigrara para os Estados Unidos, estabelecendo-se em New Bedford, na Nova Inglaterra, “onde paira ainda a lembrança de Moby Dick” e onde 60% da população é de origem portuguesa. Realizado ao longo de dois anos, o filme acompanha as vidas de um casal lá estabelecido há vinte anos e as dos seus nove filhos, primos daqueles que o autor filmara em 1976 e que são portugueses em vias de americanização. “Não se trata nem de uma reportagem, nem de uma ficção disfarçada em cinema do real, mas de uma forma de cine-relação que, além da narrativa anedótica, quer fazer aparecer a passagem do tempo e a História que se faz” (Philippe Constantini). O filme foi apresentado uma única vez na Cinemateca, em 1985.
 
20/05/2019, 18h30 | Sala Luís de Pina
Povos em Movimento – Migração, Exílio, Diáspora (III)
L’Horloge du Village
de Philippe Costantini
Portugal, França, 1989 - 77 min | M/12
com a presença de Philippe Costantini
L’HORLOGE DU VILLAGE (que tem como título alternativo PEDRAS DA SAUDADE) fecha a trilogia de Philippe Costantini sobre a aldeia de Vilar de Perdizes e as migrações dos seus habitantes. Doze anos depois de TERRA DE ABRIL, o realizador volta àquela aldeia, de onde alguns habitantes emigraram, ao passo que outros permaneceram e participaram da construção das casas daqueles que emigraram. Durante o verão, confrontam-se os que foram e os que ficaram. Primeira exibição na Cinemateca.
 
20/05/2019, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Povos em Movimento – Migração, Exílio, Diáspora (III)
Ganhar a Vida
de João Canijo
com Rita Blanco, Adriano Luz, Teresa Madruga, Alda Gomes
Portugal, 2000 - 118 min
legendado em português | M/16
com a presença de João Canijo
A quarta longa-metragem de João Canijo é ambientada num subúrbio de Paris. Durante uma rixa, um adolescente de origem portuguesa é morto. A comunidade lusa decide optar pelo low profile, mas a mãe do rapaz não se conforma e trava um duplo combate, contra a administração francesa e contra a sua própria comunidade para que a verdade seja revelada. “GANHAR A VIDA é um título perfeito para um filme que ganha a sua aposta alimentando-se da vida. É pela observação que o filme nos convence, ao mostrar uma comunidade portuguesa tímida e discreta, ao ponto de querer enterrar um dos seus em silêncio, sem fazer ondas”, observou o crítico de Les Inrockuptibles. Primeira exibição na Cinemateca
21/05/2019, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Povos em Movimento – Migração, Exílio, Diáspora (III)
O Emigrante | Champigny-sur-Tage | Des Portugais en France: 30 Ans Après
duração total da projeção: 95 min | M/12
com a presença de José Alexandre Cardoso Marques
O EMIGRANTE
de José Mendes
Portugal, 1955 – 5 min
CHAMPIGNY-SUR-TAGE
de José Alexandre Cardoso Marques
França, 1988 – 29 min
DES PORTUGAIS EN FRANCE: 30 ANS APRÈS
de José Alexandre Cardoso Marques
França, 1992 – 61 min

José Alexandre Cardoso Marques, cujo pai emigrara para a Alemanha, chegou a França aos 17 anos para prosseguir os seus estudos e doutorou-se na Sorbonne sob a orientação de Jean Rouch. Em 1984, descobriu os vestígios do que fora um bairro de lata habitado por portugueses, no subúrbio parisiense de Champigny-sur-Marne. Em CHAMPIGNY-SUR-TAGE, é evocado o contexto da emigração clandestina portuguesa dos anos sessenta e setenta e mostram-se antigos habitantes, muitos dos quais continuavam a rumar ao local ao domingo, para tratar das suas hortas e almoçar ao ar livre. DES PORTUGAIS EN FRANCE: 30 ANS APRÈS mostra portugueses que exercem diversas profissões, não apenas manuais e que, depois de integrados no seu novo país, querem preservar e fazer viver a sua originalidade e a sua herança cultural. A abrir a sessão, um dos raríssimos filmes de propaganda do período salazarista a abordar a questão da emigração, quando esta era controlada e não feita “a salto”, o que fazia com que nem todos os que queriam emigrar fossem autorizados a fazê-lo. Os dois documentários de Cardoso Marques são primeiras exibições na Cinemateca.
 
21/05/2019, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Povos em Movimento – Migração, Exílio, Diáspora (III)
Crónica de Emigrados
de Manuel Madeira
França, 1980 - 153 min | M/12
Neste documentário, Manuel Madeira aborda a questão da emigração portuguesa em França a partir de um ponto de vista específico. O realizador apresenta CRÓNICA DE EMIGRADOS com as seguintes palavras: “Num subúrbio industrial de Paris, uma comunidade de cerca de 600 trabalhadores imigrados portugueses funda uma associação, que tem por finalidade exprimir-se e afirmar-se como originária de uma cultura específica. Uma aldeia portuguesa extinta pela emigração reaparece sob a paisagem anónima de um deserto urbano nos arredores de uma metrópole industrial. O filme foi feito clandestinamente. Nisso, é solidário com a história dos emigrantes.” A apresentar em cópia digital, numa primeira exibição na Cinemateca.