CICLO
1939 – Dançando Sobre um Vulcão


“A minha ambição, quando comecei a pensar no filme, era ilustrar esta ideia: dançamos sobre um vulcão.” São palavras de Jean Renoir, alguns anos depois, explicando como se formou no seu espírito o projeto do filme que veio a ser LA RÈGLE DU JEU. O “vulcão” era o vulcão de 1939, ano em que principiou a II Guerra Mundial, guerra que para a generalidade das mentes lúcidas – como, indubitavelmente, a de Renoir – se afigurava como inevitável muitos meses antes de, em setembro desse ano, a premonição se confirmar.
80 anos depois, faz sentido revisitar esse ano de 1939, e reencontrar o cinema que “dançava sobre um vulcão”, tivesse disso a plena consciência ou não tivesse. Porventura, nenhum outro filme o sabia melhor – explicitamente, ou quase – do que a RÈGLE DU JEU, de resto um filme que logo na estreia (e sobretudo na estreia) suscitou violentíssimas reações, elas próprias um sinal do “vulcão” sobre o qual o mundo de 39 dançava (e como disse mais tarde Renoir: “Levei muita pancada na vida, mas uma pancada como aquela é inigualável).” Por isso o chamamos, em alusão, para o título do Ciclo. E com ele pomos em diálogo perto de duas dezenas de filmes, de países que viriam a ser centrais no conflito iminente, e em alguns casos (Sirk, Ophuls, Schünzel, de outra forma Veit Harlan) assinados por cineastas cujas vidas pessoais e profissionais viriam a ser definitivamente marcadas pela guerra (o título do filme que representa Ophuls também tinha qualquer coisa de premonitório: “sem amanhã”…). Nem o cinema nem a sociedade que o gerou terá alguma vez sido “inocente”, mas há uma tensão a percorrer tantos destes filmes (mesmo quando resolvidas pela ironia, como na BALALAIKA de Schünzel), do MR. SMITH GOES TO WASHINGTON, expressão máxima do Capra social e politicamente empenhado, ao mergulho no realismo amargo de Busby Berkeley (THEY MADE ME A CRIMINAL), passando pelo estoicismo sacrificial dos heróis do ONLY ANGELS HAVE WINGS de Hawks ou dos CONTOS DOS CRISÂNTEMOS TARDIOS de Mizoguchi (e convém não esquecer que para o Japão a guerra começara anos antes, com a invasão do território chinês), uma tensão tão grande que suscita a célebre metáfora do “sismógrafo”: se queremos sentir como a terra tremeu anunciando a erupção do vulcão de 1939, vejamos os filmes desse ano.
 
29/05/2019, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo 1939 – Dançando Sobre um Vulcão

Sans Lendemain
Piedosa Mentira
de Max Ophuls
França, 1939 - 82 min
 
29/05/2019, 18h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo 1939 – Dançando Sobre um Vulcão

The Lion Has Wings
O Leão Tem Asas
de Alexander Korda, Michael Powell, Adrian Brunel, Brian Desmond-Hurst
Reino Unido, 1939 - 76 min
 
30/05/2019, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo 1939 – Dançando Sobre um Vulcão

The 400 Million | The City
duração total da projeção: 95 min | M/12
30/05/2019, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo 1939 – Dançando Sobre um Vulcão

Birthright
de Oscar Micheaux
Estados Unidos, 1939 - 74 min
31/05/2019, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo 1939 – Dançando Sobre um Vulcão

The Light That Failed
Luz que se Apaga
de William A. Wellman
Estados Unidos, 1939 - 97 min
29/05/2019, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
1939 – Dançando Sobre um Vulcão
Sans Lendemain
Piedosa Mentira
de Max Ophuls
com Edwige Feuillère, Georges Rigaud, Michel François
França, 1939 - 82 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Autêntico apátrida, Max Ophuls teve duas etapas na sua carreira em França. No fim da vida, nos anos cinquenta, quando realizou algumas das suas obras-primas mais apreciadas. E nos anos trinta, quando fez, em Paris, quatro filmes extremamente diferentes entre si e que são muito menos vistos. Um deles é SANS LENDEMAIN, história de uma mulher da alta sociedade que depois da morte do marido é forçada a trabalhar como prostituta num cabaré. Com magnífica fotografia de Eugen Schuftan e cenários de Eugène Lourié, é um filme de realização requintada. Mas que Ophuls o não é? A apresentar em cópia digital.
 
29/05/2019, 18h30 | Sala Luís de Pina
1939 – Dançando Sobre um Vulcão
The Lion Has Wings
O Leão Tem Asas
de Alexander Korda, Michael Powell, Adrian Brunel, Brian Desmond-Hurst
Reino Unido, 1939 - 76 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Produzido por Alexander Korda quando a II Guerra estava iminente, de forma muito célere (estreou em novembro de 1939, dois meses depois do início do conflito), THE LION HAS WINGS é um filme de propaganda destinado a convencer o governo britânico da importância de apostar no cinema de propaganda – recado que seria, como sabemos, recebido e posto em prática. Em estilo de falso documentário, com várias estrelas a desempenharem grandes e pequenos papéis, THE LION HAS WINGS centra-se na Royal Air Force, que poucos meses depois seria crucial para evitar uma invasão terrestre das forças nazis.
 
30/05/2019, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
1939 – Dançando Sobre um Vulcão
The 400 Million | The City
duração total da projeção: 95 min | M/12
THE 400 MILLION
de Joris Ivens
Estados Unidos, 1939 – 52 min / legendado eletronicamente em português
THE CITY
de Ralph Steiner,  Willard Van Dyke
Estados Unidos, 1939 – 43 min / legendado eletronicamente em português

THE 400 MILLION é um dos mais famosos filmes de Joris Ivens na fase intermédia da sua obra, e o princípio da sua relação com a China. Feito com o apoio do Partido Comunista Chinês, mas acompanhando também as forças republicanas e os vários grupos de guerrilha, documenta a guerra e a resistência chinesa perante a invasão japonesa. Um dos operadores que colaboram com Ivens foi o futuramente famoso Robert Capa. A sessão prossegue com um clássico do documentário sobre Nova Iorque durante a Depressão: THE CITY, realizado por Ralph Steiner e Willard Van Dyke, depois de terem fundado o American Documentary Films.
 
30/05/2019, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
1939 – Dançando Sobre um Vulcão
Birthright
de Oscar Micheaux
com Carman Newsome, Ethel Moses, Alec Lovejoy
Estados Unidos, 1939 - 74 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Um dos filmes finais de Oscar Micheaux (1884-1951), pioneiro do cinema afro-americano e em simultâneo pioneiro de um sistema de produção intrinsecamente crítico de Hollywood. BIRTHRIGHT, que é um remake de um filme que o próprio Micheaux realizara nos anos vinte do século XX (então, ainda mudo), foca o tema subjacente a toda a obra do cineasta, o racismo na sociedade americana, aqui seguindo um protagonista através da sua carreira como universitário em Harvard, permanentemente alvo de discriminação. Primeira exibição na Cinemateca.
 
31/05/2019, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
1939 – Dançando Sobre um Vulcão
The Light That Failed
Luz que se Apaga
de William A. Wellman
com Ronald Colman, Walter Huston, Muriel Angelus, Ida Lupino
Estados Unidos, 1939 - 97 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Dos dois filmes realizados por Wellman em 1939 (o outro foi o famosíssimo BEAU GESTE), este foi o que quase caiu no esquecimento. É um soberbo melodrama, baseado numa história de Rudyard Kipling, onde a perspetiva sobre o imperialismo britânico (as guerras africanas no final do século XIX) tem premonitória articulação na progressiva cegueira do protagonista, o pintor interpretado por Ronald Colman, que antes que “a luz se apague” quer completar o retrato da rapariga (Ida Lupino) por quem se encantou. Mas a “luz que se apagava” era também a do mundo pré-guerra.