CICLO
A Cinemateca com o Indielisboa: Anna Karina


A colaboração entre a Cinemateca e o IndieLisboa, em 2019 na sua 16ª edição, resulta na programação e organização de uma retrospetiva dedicada a Anna Karina (que o Indie elege como “Heroína Independente 2019”) e retoma a apresentação, na Cinemateca, da secção do festival “Director’s Cut”, em rima com sessões “em contexto”, refletindo a História do cinema, a sua memória e o seu património. O programa acompanha as datas do festival, que decorre em Lisboa entre 2 e 12 de maio. No caso da retrospetiva Anna Karina, estende-se até 17 de maio com cinco apresentações de filmes em segunda passagem.
 
Anna Karina
Já foi dito e é verdade: não é preciso apresentá-la. Anna Karina é uma estrela do cinema europeu, uma das maiores, a do mais luminoso brilho irradiado dos anos sessenta da Nouvelle Vague francesa, a que protagonizou um “capítulo” decisivo na obra de Jean-Luc Godard nessa época em que formaram um par incomparável, e prosseguiu o seu caminho. Atriz icónica do cinema contemporâneo dessa vaga, em que foi Veronica Dreyer, Angela Récamier, Nana Kleinfrahenheim, Odile, Natacha von Braun, Marianne Renoir, Paula Nelson e de novo Natasha ou Eleanor Romeovich, na pele das personagens compostas nos oito filmes com Godard. Foi também a religiosa Suzanne Simonin de Jacques Rivette, que mais tarde a volta a filmar como cantora de nome Sarah, ou a Anna do filme homónimo de Pierre Koralnik a partir de música e canções de Serge Gainsbourg, outros dos títulos incontornáveis dos mais de 60 da filmografia em curso.
Nascida em Copenhaga em 1940, modelo e cantora muito nova, estreou-se no cinema na Dinamarca, com a curta-metragem PIGEN OG SKOENE / “A RAPARIGA DOS SAPATOS”, de Ib Schmedes (1959), creditada com o seu nome de batismo, Hanna Karin Blarke Bayer. Foi em Paris, onde chegou intempestiva em 1958, que Coco Chanel lhe deu o nome profissional, Anna Karina. Assim a conheceu Godard, que não a levou para À BOUT DE SOUFFLE mas a levou para LE PETIT SOLDAT, que havia de estrear depois do CinemaScope colorido de UNE FEMME EST UNE FEMME, em que Karina canta e dança e rodopia, com Jean Paul-Belmondo, Jean-Claude Brialy e a câmara numa roda-viva de leveza à volta dela. É de VIVRE SA VIE o muito célebre grande plano de Karina em lágrimas numa sala escura perante a projeção das imagens de Renée Falconetti em LA PASSION DE JEANNE D’ARC de Carl Th. Dreyer. Em ALPHAVILLE, as lágrimas também acabam por vir-lhe aos olhos, “Ô bien aimée de tous, bien aimée d’un seul”. É ela, como Marianne Renoir, quem chama Pierrot ao Ferdinand de Belmondo e o sabe “fou”. “Nunca houve falsas lágrimas”, disse Karina mais tarde, também confirmando que era dela, Anna, a frase “Qu’est ce que je peux faire, je sais pas quoi faire”, antes de Marianne a repetir de tédio à beira-mar. A sua religiosa, por Rivette a partir de Diderot, deu brado no cinema, mas aconteceu antes num palco dos Campos Elísios onde Rivette a dirigiu no teatro.
Além de Godard e Rivette, Anna Karina trabalhou com cineastas importantes, tendo sido dirigida por uma série de realizadores desde os anos sessenta ao longo do percurso que assumiu dimensão internacional. O primeiro filme de Michel Deville, CE SOIR OU JAMAIS (1961, que estreia em França antes de UNE FEMME EST UNE FEMME) é protagonizado por Karina, que é, também ela, argumentista e realizadora: VIVRE ENSEMBLE (1973, rodado em Paris e Nova Iorque) é escrito, produzido, realizado e interpretado por Karina que o descreve como “um filme exclusivamente baseado nos sentimentos. Só acredito nos sentimentos, nos movimentos da alma”.
Relevando a filmografia de Anna Karina no contexto da Nouvelle Vague francesa e para lá dela, esta ambiciosa retrospetiva da Cinemateca e do IndieLisboa sublinha a intensidade variada do seu trabalho: a totalidade dos seus filmes com Godard, os filmes com Valerio Zurlini, Jacques Rivette, Luchino Visconti, George Cukor, Volker Schlöndorff, Rainer Werner Fassbinder. Entre os títulos mais raros, a curta-metragem dinamarquesa da sua estreia em 1959, a sua longa-metragem de 1973, VIVRE ENSEMBLE, ou ANNA, de Pierre Koralnik, inédito em Portugal. Associado à secção “Director’s Cut” do festival, numa outra ramificação da colaboração entre a Cinemateca e o IndieLisboa, é apresentado o recente documentário de Dennis Berry em que Anna Karina comenta o seu percurso (ANNA KARINA, SOUVIENS-TOI).
 
Anna Karina está em Lisboa entre 5 e 9 de maio a acompanhar a retrospetiva na Cinemateca, para apresentar alguns dos seus filmes e participar num encontro especial com o público no dia 8 de maio, às 19 horas.
11/05/2019, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo A Cinemateca com o Indielisboa: Anna Karina

Anna
de Pierre Koralnik
França, 1967 - 87 min
11/05/2019, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo A Cinemateca com o Indielisboa: Anna Karina

Chinesisches Roulette
“Roleta Chinesa”
de Rainer W. Fassbinder
Alemanha, França, 1976 - 85 min
13/05/2019, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo A Cinemateca com o Indielisboa: Anna Karina

Justine
Justine
de George Cukor
Estados Unidos, 1969 - 115 min
 
14/05/2019, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo A Cinemateca com o Indielisboa: Anna Karina

Le Soldatesse
de Valerio Zurlini
Itália, 1965 - 120 min
 
15/05/2019, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo A Cinemateca com o Indielisboa: Anna Karina

Lo Straniero
O Estrangeiro
de Luchino Visconti
Itália, França, Argélia, 1967 - 104 min
11/05/2019, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
A Cinemateca com o Indielisboa: Anna Karina

Em colaboração com Indielisboa – Associação Cultural
Anna
de Pierre Koralnik
com Anna Karina, Jean-Claude Brialy, Marianne Faithfull, Serge Gainsbourg
França, 1967 - 87 min
legendado eletronicamente em português | M/12
A comédia musical de Pierre Koralnik com Anna Karina, a partir de música e canções de Serge Gainsbourg (orquestrada por Michel Colombier; a banda musical seria editada em disco), foi o primeiro (tele)filme a cores produzido para a estação televisiva ORTF. Rodado em 35 mm nas ruas de Paris, na discoteca Bus Palladium e na gare de l’Est, no castelo Porgès de Rochefort-en-Yvelines e na praia de Deauville, ANNA compõe-se a partir da inspiração musical e coreográfica, mas também pop e gráfica. A história é a da paixão de um agente publicitário pela imagem de uma rapariga fotografada por acaso numa estação. Foi um título importante no percurso de Gainsbourg e de Karina, Sous le soleil exactement. A apresentar em cópia digital, numa primeira exibição na Cinemateca.
 
11/05/2019, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
A Cinemateca com o Indielisboa: Anna Karina

Em colaboração com Indielisboa – Associação Cultural
Chinesisches Roulette
“Roleta Chinesa”
de Rainer W. Fassbinder
com Margit Carstensen, Anna Karina, Ulli Lomel, Macha Méril
Alemanha, França, 1976 - 85 min
legendado em português do Brasil | M/12
Com um ritmo mais pausado que outros filmes de Fassbinder, “ROLETA CHINESA” é um jogo em espaço fechado: um casal vai passar um fim de semana num castelo, separadamente, cada um com o seu (a sua) amante e têm a surpresa de se encontrar frente a frente. A filha do casal, uma pré-adolescente que sofre de deficiência física, põe em movimento um cruel “jogo da verdade” durante todo o fim de semana. As quatro personagens dos casais trocados e quatro outras coabitam o espaço do castelo no tempo do filme, participando do ambiente ameaçador sobre o qual paira a ameaça do nazismo e a inquietação de um enigma por desvendar.
 
13/05/2019, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
A Cinemateca com o Indielisboa: Anna Karina

Em colaboração com Indielisboa – Associação Cultural
Justine
Justine
de George Cukor
com Anouk Aimée, Dirk Bogarde, Robert Forster, Anna Karina
Estados Unidos, 1969 - 115 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Adaptado dos romances O Quarteto de Alexandria de Lawrence Durrell, JUSTINE é considerado uma obra menor de George Cukor, em parte devido às peripécias que rodearam a sua produção. Depois da demissão do anterior realizador do projeto, Joseph Strick, coube a Cukor a missão de “salvar o filme”, correspondendo ao pedido da Fox cinco anos depois do glorioso MY FAIR LADY. Recriando o enredo romanesco e político na Alexandria dos anos trinta, JUSTINE tem alguns momentos notáveis como a sequência do Carnaval. Anouk Aimée é Justine. Anna Karina, que interpreta o papel de Melissa, viu no filme a possibilidade de ser dirigida por Cukor, um dos mestres do cinema clássico americano que admirava. É um filme de raras oportunidades de projeção.
 
14/05/2019, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
A Cinemateca com o Indielisboa: Anna Karina

Em colaboração com Indielisboa – Associação Cultural
Le Soldatesse
de Valerio Zurlini
com Lea Massari, Valeria Moriconi, Tomas Milian, Anna Karina
Itália, 1965 - 120 min
legendado em inglês e eletronicamente em português | M/12
Com argumento adaptado do romance homónimo de Ugo Pirro, LE SOLDATESSE conta uma história da Segunda Guerra Mundial: o Tenente Martino e os seus homens são encarregues da missão de escoltar, pelas montanhas da Grécia ocupada, um grupo de prostitutas com destino a bordéis frequentados por soldados italianos. Filmada por Zurlini, a viagem da “caravana de mulheres” é uma pungente viagem interior. Todas as características do seu cinema se reencontram aqui e também de LE SOLDATESSE se pode falar como um “filme de câmara”. Anna Karina lidera o elenco feminino, no papel de Elenitza.
 
15/05/2019, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
A Cinemateca com o Indielisboa: Anna Karina

Em colaboração com Indielisboa – Associação Cultural
Lo Straniero
O Estrangeiro
de Luchino Visconti
com Marcello Mastroianni, Anna Karina, Georges Wilson, Bernard Blier
Itália, França, Argélia, 1967 - 104 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Visconti trabalhou a adaptação do romance de Camus (O Estrangeiro, 1942) seduzido pela possibilidade de traçar um fresco político contemporâneo centrado no fim da colonização francesa na Argélia, versão que a viúva de Camus impossibilitou exigindo que o livro fosse escrupulosamente seguido. Visconti manteve-se fiel aos compromissos de produção e filmou LO STRANIERO mas desinteressou-se do projeto, para o que além das pressões de Francine Camus e do produtor Dino De Laurentiis, terá contribuído a desistência do ator com quem queria trabalhar, Alain Delon, que Mastroianni acabou por substituir, contracenando com Anna Karina. Para muitos, LO STRANIERO é um Visconti fracassado. Outros enaltecem a primeira parte, rodada sob o sol da Argélia. Na Cinemateca foi exibido uma única vez, em 1997.