CICLO
A Cinemateca com a 12ª Festa do Cinema Italiano: Nanni Moretti


São vários os nomes que poderíamos indicar para nomear os maiores autores do cinema europeu das últimas quatro décadas, um exercício que, dependendo de quem o faz, certamente encontrará uma multitude de respostas. No entanto, poucos nomes serão tão unânimes, na sua apreciação e respeito, como o de Nanni Moretti: alguém que impôs uma linguagem que traz, para os seus filmes, uma apreciação sentimental e crítica da cinefilia, do prazer de se transpor para a realização e fazer um filme com amigos (ou sobre a amizade), uma intrepidez em expôr as suas neuroses e obsessões, através da criação de um alter ego (Michele Apicella), sobre as suas paixões e fantasias (tanto por mulheres como pela magnífica pastelaria italiana), e um olhar que, tanto nas suas magníficas comédias como nos seus filmes dramáticos, nunca abandona um vincado compromisso social e político sobre a vida italiana e europeia (e que muito adivinha a atual decadência da discussão “esquerda/direita” e o definhamento do discurso público para um decadente espetáculo político-mediático, algo que atravessa a sua carreira e que aborda a figura de Silvio Berlusconi, mais diretamente, em IL CAIMANO). Falar de Nanni Moretti é falar de cinema (“Tutti parlate di cinema! Parlo mai di astrofisica, io? Parlo mai di biologia, io? Io non parlo di cose che non conosco!”, protesta perante os seus amigos, em SOGNI D’ORO, antes de se deliciar com uma montra de bolos onde está o “seu” bolo Sacher, nome com que batizaria a sua produtora), de política e do desencontro da esquerda com os seus princípios fundadores (“Di qualcosa di sinistra!”, grita para a televisão, em APRILE, durante um debate eleitoral), de como, contra todas as nossas intenções, as nossas paixões acabam por nos devorar e nos transformar em monstros (“Non voglio morire!”), ou como a maturidade, tema central dos seus últimos filmes, afeta a nossa perspetiva sobre o mundo e em relação a nós próprios, seja num contexto familiar (como LA STANZA DEL FIGLIO), também artístico (MIA MADRE), ou numa pequena fábula político-religiosa (em que Moretti participa enquanto “psicanalista”) como HABEMUS PAPAM. Moretti surge em praticamente todos os seus filmes, concentrando, em si, as dúvidas e neuroses sobre a nossa relação com tudo aquilo que é vivo (e a desadequação, talvez, entre as nossas crenças e aquilo que a realidade nos oferece), mas nunca deixa de falar, por outro lado, sobre todos nós, seja no prazer em estar vivo (como no esplêndido CARO DIARIO e o seu olhar sobre Roma) como na militância e teimosia em acreditarmos num mundo melhor, contra todas as evidências. Para além de todas as longas-metragens da sua carreira, esta retrospetiva, apresentada em colaboração com a Festa do Cinema Italiano, irá também exibir muitas das suas curtas-metragens e uma sessão de ante-estreia, em colaboração com a Midas Filmes, do seu trabalho mais recente: SANTIAGO, ITALIA, um documentário sobre o golpe de Estado de 11 de setembro de 1973, no Chile, e o papel da embaixada italiana no acolhimento de refugiados e opositores do regime de Pinochet que viriam a encontrar refúgio, posteriormente, em solo italiano.
 
23/04/2019, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo A Cinemateca com a 12ª Festa do Cinema Italiano: Nanni Moretti

Aprile | Il Grido d’Angoscia dell’Uccello Predatore
duração total da projeção: 104 min | M/12
23/04/2019, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo A Cinemateca com a 12ª Festa do Cinema Italiano: Nanni Moretti

Ischi Allegri e Clavicole Sorridenti | Il Caimano
duração total da projeção: 121 min | M/12
 
24/04/2019, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo A Cinemateca com a 12ª Festa do Cinema Italiano: Nanni Moretti

Mia Madre
Minha Mãe
de Nanni Moretti
França, Itália, 2015 - 107 min
 
24/04/2019, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo A Cinemateca com a 12ª Festa do Cinema Italiano: Nanni Moretti

Habemus Papam
Habemus Papam – Temos Papa
de Nanni Moretti
França, Itália, 2011 - 105 min
26/04/2019, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo A Cinemateca com a 12ª Festa do Cinema Italiano: Nanni Moretti

Ischi Allegri e Clavicole Sorridenti | Il Caimano
duração total da projeção: 121 min | M/12
23/04/2019, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
A Cinemateca com a 12ª Festa do Cinema Italiano: Nanni Moretti
Aprile | Il Grido d’Angoscia dell’Uccello Predatore
duração total da projeção: 104 min | M/12
APRILE
Abril
de Nanni Moretti
com Nanni Moretti, Silvio Orlando, Silvia Nono, Pietro Moretti, Agata Apicella Moretti
Itália, França, 1998 – 77 min / legendado eletronicamente em português
IL GRIDO D’ANGOSCIA DELL’UCCELLO PREDATORE
de Nanni Moretti
com Nanni Moretti, Carlo Mazzacurati, Agata Apicella Moretti, Silvia Nono, Silvio Orlando, Mario Schiano
Itália, 2003 – 27 min / legendado em português

Foi a longa-metragem seguinte a CARO DIARIO e é o filme em que, no seu duplo de realizador e realizador-ator, Nanni Moretti se confronta com a situação política italiana e os seus próprios dilemas de realizador e pai recente. APRILE surge na sequência da recolha de material sobre a cena política italiana de meados dos anos noventa, a ascensão e “queda” de Berlusconi, e o momento em que Moretti descobre a paternidade. Ou, como o descreveu Claire Denis, o filme em que Moretti “quis fazer uma comédia musical que não conseguia começar, optando assim por falar da sua vida própria vida, o seu novo bebé, os seus desejos e medos. Finalmente, na última cena, começa”. IL GRIDO D’ANGOSCIA DELL’UCCELLO PREDATORE (primeira exibição na Cinemateca) é uma recolha de várias cenas não incluídas na versão final do filme.
 
23/04/2019, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
A Cinemateca com a 12ª Festa do Cinema Italiano: Nanni Moretti
Ischi Allegri e Clavicole Sorridenti | Il Caimano
duração total da projeção: 121 min | M/12
ISCHI ALLEGRI E CLAVICOLE SORRIDENTI
de Nanni Moretti
com Nanni Moretti, Patrizia Quaranta
Itália, 2017 – 8 min / legendado eletronicamente em português
IL CAIMANO
O Caimão
de Nanni Moretti
com Silvio Orlando, Margherita Buy, Jasmine Trinca, Nanni Moretti
Itália, França, 2006 – 113 min / legendado em português

ISCHI ALLEGRI E CLAVICOLE SORRIDENTI (primeira exibição na Cinemateca) é a segunda curta-metragem, de Nanni Moretti, em que este contracena, em pleno exercício físico, com uma personal trainer enquanto discute as intenções por trás dos seus filmes. Em IL CAIMANO, obra especialmente bem-sucedida no seu país, Nanni Moretti quis filmar a Itália de Berlusconi através de um cinema político em tom burlesco. “O Caimão” é o título do filme dentro do filme, uma proposta de trabalho que vai ter com o protagonista, Bruno (Silvio Orlando), em momento de crise pessoal e profissional (está a separar-se da mulher e é um produtor de cinema em declínio, depois de uns supostos áureos anos setenta). Interrogativo – é pela voz do próprio Moretti, aqui na personagem de um ator, que se verbaliza se será preciso fazer um filme sobre Berlusconi – IL CAIMANO é também um filme angustiado.
 
24/04/2019, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
A Cinemateca com a 12ª Festa do Cinema Italiano: Nanni Moretti
Mia Madre
Minha Mãe
de Nanni Moretti
com Margherita Buy, John Turturro, Giulia Lazzarini, Nanni Moretti, Beatrice Mancini
França, Itália, 2015 - 107 min
legendado em português | M/12
Filme de ficção, na carreira do realizador, com a estreia comercial mais recente, Moretti lida com a morte da sua mãe através de um outro alter ego — desta vez, não Michele mas uma realizadora em plena rodagem (Margherita Buy) que lida, simultaneamente, com as dificuldades em dirigir o seu filme e, também, os episódios incontroláveis da sua vida pessoal, assim como o luto iminente pela sua mãe. Uma obra tocante, não apenas sobre o nosso amor por aqueles que nos deixam, como pela morte de alguns gestos anteriormente intrínsecos ao cinema (como na fabulosa cena “sonhada” em que Moretti e Buy percorrem uma enorme lista de espectadores, na rua, à espera de entrarem numa sala de cinema, ao som de Famous Blue Raincoat, de Leonard Cohen). Primeira exibição na Cinemateca.
 
24/04/2019, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
A Cinemateca com a 12ª Festa do Cinema Italiano: Nanni Moretti
Habemus Papam
Habemus Papam – Temos Papa
de Nanni Moretti
com Michel Piccoli, Nanni Moretti, Renato Scarpa, Jerzy Stuhr
França, Itália, 2011 - 105 min
legendado em português | M/12
Obra especial na carreira de Nanni Moretti, e que evoca aquilo que Manoel Oliveira já fizera, com o mesmo ator, em JE RENTRE À LA MAISON / VOU PARA CASA, Michel Piccoli interpreta o papel de um Papa recém-nomeado, após avanços e recuos na votação dentro do Vaticano, que encontra enormes dificuldades em assumir o papel da “personagem”, decidindo fugir e aventurar-se, fora do perímetro do Vaticano, entre os “comuns mortais”. Na sua ausência, Moretti, no papel de um psicanalista, tenta conversar com Sua Santidade e impor alguma terapia de exercício físico e desportivo entre os cardeais. Primeira exibição na Cinemateca.
 
26/04/2019, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
A Cinemateca com a 12ª Festa do Cinema Italiano: Nanni Moretti
Ischi Allegri e Clavicole Sorridenti | Il Caimano
duração total da projeção: 121 min | M/12
ISCHI ALLEGRI E CLAVICOLE SORRIDENTI
de Nanni Moretti
com Nanni Moretti, Patrizia Quaranta
Itália, 2017 – 8 min / legendado eletronicamente em português
IL CAIMANO
O Caimão
de Nanni Moretti
com Silvio Orlando, Margherita Buy, Jasmine Trinca, Nanni Moretti
Itália, França, 2006 – 113 min / legendado em português

ISCHI ALLEGRI E CLAVICOLE SORRIDENTI (primeira exibição na Cinemateca) é a segunda curta-metragem, de Nanni Moretti, em que este contracena, em pleno exercício físico, com uma personal trainer enquanto discute as intenções por trás dos seus filmes. Em IL CAIMANO, obra especialmente bem-sucedida no seu país, Nanni Moretti quis filmar a Itália de Berlusconi através de um cinema político em tom burlesco. “O Caimão” é o título do filme dentro do filme, uma proposta de trabalho que vai ter com o protagonista, Bruno (Silvio Orlando), em momento de crise pessoal e profissional (está a separar-se da mulher e é um produtor de cinema em declínio, depois de uns supostos áureos anos setenta). Interrogativo – é pela voz do próprio Moretti, aqui na personagem de um ator, que se verbaliza se será preciso fazer um filme sobre Berlusconi – IL CAIMANO é também um filme angustiado.