CICLO
História Permanente do Cinema Português


No primeiro mês de 2019, retomamos a viagem que aqui iniciámos há exatamente um ano pelas obras do que temos chamado a “geração de noventa” do documentarismo português, ou seja, o grupo de realizadores que, ao longo da última década do século XX vieram alterar substancialmente o panorama dessa área de produção entre nós. Convidamos agora Graça Castanheira, que foi mais uma das presenças no Ciclo “Novo Documentário em Portugal” apresentado pela Cinemateca em 1999, em que mostrou dois dos seus filmes iniciais (CÉU ABERTO, 1997, e I HAVE A DREAM, 1998). Desta vez, o desafio é a redescoberta do filme que rodou já na viragem para a década seguinte, em 2000, e que veio a ser estreado em 2001, como uma das boas portas de entrada possíveis para essa fase do seu percurso.
 
 
15/01/2019, 18h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo História Permanente do Cinema Português

Outubro
de Graça Castanheira
Portugal, 2001 - 62 min | M/12
 
15/01/2019, 18h30 | Sala Luís de Pina
História Permanente do Cinema Português
Outubro
de Graça Castanheira
Portugal, 2001 - 62 min | M/12
com a presença de Graça Castanheira
É de uma revolução que se trata, mas não de uma memória de 1917. Em outubro de 2000, quando Graça Castanheira está em Belgrado para filmar a experiência do casal de realizadores Zoran e Svetlana Popovic que aí animam uma escola de cinema, a História rebenta em volta, com a população a tomar nas mãos a própria queda do regime de Milosevic (entretanto derrotado nas eleições mas a resistir ao abandono). Sem deixar cair o projeto, Castanheira não pode senão alargá-lo, filmando essa revolta em direto, sempre a partir da relação com o microcosmos do casal. Ao fazê-lo, dá-nos mais um extraordinário exemplo da mudança operada por esta geração no seio do documentarismo histórico, social ou político até aí maioritariamente feito entre nós: agora, a História fala através do “aqui e agora” da experiência e das interrogações da autora e daqueles que filma. Por um lado, estamos assim para lá de uma fronteira no modo de conceber o documentário que, agora sim, foi ultrapassada (no fundo, a religação ao percurso do cinema internacional nesta área, cuja revolução do “cinema direto” tão pouco, ou tão dificilmente, tinha marcado o cinema português). Por outro, estamos perante uma boa demonstração de como este salto não se converte em qualquer nova ortodoxia, o que se pode ver por exemplo no uso da voz off, que, como em alguns outros filmes deste grupo, é, “apenas”, reinventada.