CICLO
Double Bill


Jim Jarmusch dedica BROKEN FLOWERS a Jean Eustache, que considera alguém de “absolutamente verdadeiro consigo mesmo e com o que queria dizer no cinema” e o autor de um dos mais belos filmes sobre o desentendimento de comunicação masculino/feminino, LA MAMAN ET LA PUTAIN. BROKEN FLOWERS está programado com MES PETITES AMOUREUSES. O filme de Kenji Mizoguchi à volta do pintor japonês Utamaro e das cinco mulheres que giram em torno dele rima na sessão duplamente “prima” com as sete mulheres do último filme de John Ford. Pelo traço da inspiração arquitetónica, reúnem-se o clássico americano THE FOUNTAINHEAD, de King Vidor, e o recente COLUMBUS, primeira longa-metragem do realizador americano de origem sul-coreana Kogonada, filmada na região rural do Indiana em Columbus, cidade conhecida pela arquitetura modernista. São as três duplas das primeiras sessões “Double bill” de 2019 – como habitualmente de há quatro anos para cá, dois filmes, uma sessão, um bilhete único nas tardes de sábado na Cinemateca.
 
12/01/2019, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill

Broken Flowers | Mes Petites Amoureuses
duração total da projeção: 229 min | M/12
 
19/01/2019, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill

Utamaru o Meguru Gonin no Onna | Seven Women
duração total da projeção: 180 min | M/12
 
26/01/2019, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill

The Fountainhead | Columbus
duração total da projeção: 216 min | M/12
12/01/2019, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
Broken Flowers | Mes Petites Amoureuses
duração total da projeção: 229 min | M/12
entre os dois filmes há um intervalo de 20 minutos
BROKEN FLOWERS
Flores Partidas
de Jim Jarmusch
com Bill Murray, Jeffrey Wright, Sharon Stone,  Frances Conroy, Jessica Lange, Tida Swinton, Julie Delpy
Estados Unidos, 2005 – 106 min / legendado eletronicamente em português
MES PETITES AMOUREUSES
de Jean Eustache
com Martin Loeb, Jacqueline Dufranne, Jacques Romain, Ingrid Caven
França, 1974 – 123 min / legendado em inglês e eletronicamente em português

BROKEN FLOWERS é possivelmente o mais melancólico dos filmes de Jim Jarmusch. Um homem de meia-idade recebe uma misteriosa carta cor-de-rosa de uma antiga namorada, que não se identifica, anunciando-lhe que é pai de um rapaz de 19 anos. Ele, Don Johnston, nome da personagem algo Don Juan de Bill Murray, no seu primeiro trabalho de longo curso com Jarmusch (depois de uma aparição em COFFEE AND CIGARETTES), parte em viagem à procura das antigas namoradas e da autora das cartas. Dedicada a Jean Eustache, trata-se de uma visita desencantada a um passado sentimental que vai ao encontro de vários temas típicos do cineasta – a viagem, a memória de uma América ancestral e marginal. Crónica terna e triste, MES PETITES AMOUREUSES (título extraído de Rimbaud, filmado em 35 mm com uma extraordinária fotografia de Nestor Almendros) segue, de forma comovente, a entrada na adolescência de um miúdo solitário e o despertar da pulsão sexual. Vincadamente autobiográfico, escrito vários anos antes de LA MAMAN ET LA PUTAIN, foi um projeto longamente acalentado pelo realizador e um fracasso crítico e comercial à época. Construído à volta da questão do olhar, é o filme de Jean Eustache que contém mais alusões ao cinema, sobretudo inscritas nos diálogos. A última passagem de ambos os filmes na Cinemateca foi há mais de uma década.
 
19/01/2019, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
Utamaru o Meguru Gonin no Onna | Seven Women
duração total da projeção: 180 min | M/12
entre os dois filmes há um intervalo de 20 minutos
UTAMARU O MEGURU GONIN NO ONNA
“Cinco Mulheres à Volta de Utamaro”
de Kenji Mizoguchi
com Minosuke Bando, Tshiko Iikuza, Hiroko Kawasaki
Japão, 1946 – 95 min / legendado em inglês e eletronicamente em português
SEVEN WOMEN
Sete Mulheres
de John Ford
com Anne Bancroft, Margaret Leighton, Sue Lyon, Flora Robson, Mildred Dunnock, Anna Lee, Betty Field, Eddie Albert, Mike Mazurky
Estados Unidos, 1966 – 85 min / legendado em português

“CINCO MULHERES À VOLTA DE UTAMARO” é uma das obras mais singulares da maturidade de Mizoguchi, na qual se funde um “retrato” de Utamaro, grande pintor japonês de fins do século XVIII, com uma evidente identificação entre o cineasta e o pintor, e a temática feminina que atravessa toda a obra do grande mestre do cinema japonês. “Logo no genérico, a sobreposição dos carateres japoneses sobre a procissão floral em Quioto, nos introduz ao mundo da pintura, num efeito caligráfico em que o desenho releva sobre o ‘flou’ da imagem, como se já houvera uma fixidez inalterável pelo movimento” (João Bénard da Costa). SETE MULHERES, último filme de John Ford, é também um dos mais importantes, em que se expõe, com inesperado vigor, aquilo que esteve sempre mais ou menos presente na sua obra: uma atmosfera sensual, marcada pelos estigmas do recalcamento sexual, que no caso se manifesta perante a intrusão de um elemento estranho: a uma missão religiosa, formada por mulheres, na China sujeita aos horrores da guerra civil de meados dos anos trinta (filmada em grande parte na claustrofobia do espaço interior da missão), chega uma médica não crente (Anne Bancroft, numa das suas melhores criações) cuja maneira de ser vai marcar decisivamente os acontecimentos e as demais personagens, “Tudo o que faço, faço em excesso.”
 
26/01/2019, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
The Fountainhead | Columbus
duração total da projeção: 216 min | M/12
entre os dois filmes há um intervalo de 20 minutos
THE FOUNTAINHEAD
Vontade Indómita
de King Vidor
com Gary Cooper, Patricia Neal, Raymond Massey, Kent Smith
Estados Unidos, 1949 – 112 min / legendado em português
COLUMBUS
Columbus
de Kogonada
com John Cho, Haley Lu Richardson, Parker Posey, Rory Culkin, Michelle Forbes
Estados Unidos, 2017 – 104 min / legendado em português

Adaptado do romance de Ayn Rand, THE FOUNTAINHEAD é um dos grandes filmes de Vidor, aquele em que melhor se expõe a sua forma de ver o mundo (o julgamento final é uma autêntica profissão de fé no individualismo). A história é a de um arquiteto que prefere dinamitar um edifício que projetara a permitir a sua adulteração. A personagem é inspirada na figura de Frank Lloyd Wright, cuja arquitetura Vidor estudou para a preparação do filme, maioritariamente rodado em cenários de cinema, com um elaborado e surpreendente trabalho formal em que pontuam a profundidade de campo, os enquadramentos distorcidos ou uma iluminação que favorece a tensão entre luz e sombras concorrendo para a complexidade plástica que acompanha a complexidade das entrelinhas da narrativa, em que Gary Cooper (o arquiteto) e Patricia Neal (colunista de arquitetura) formam um tórrido par. COLUMBUS é a primeira obra de longa-metragem de Kogonada, de quem é conhecido o trabalho de ensaios-vídeo sobre aspectos das obras de Hitchcock, Bresson ou Ozu. A qualidade contemplativa e o trabalho de composição do espaço do cinema de Ozu pairam sobre COLUMBUS, nesta sessão associado ao filme de Vidor pelo raccord da arquitetura. A cidade é o palco do encontro entre as personagens de uma jovem rapariga apaixonada por arquitetura, que aí vive com a mãe, de quem cuida discretamente, e um homem vindo da Coreia para assistir aos últimos dias de vida do pai, um arquiteto conhecido. Percorrendo a natureza e os edifícios da cidade, as duas personagens descobrem afinidades, num itinerário literal e interior, em diálogo consigo mesmas, entre si, e com o ambiente do espaço circundante, dirigido à possibilidade de harmonia e consolação. COLUMBUS é uma primeira exibição na Cinemateca.