CICLO
Escritos sobre Cinema de João Bénard da Costa


Eis, finalmente, o princípio do fim da aventura da edição dos textos escritos por João Bénard da Costa para a Cinemateca, que inclui todas as folhas de sala e todos os textos publicados em catálogos, e que, por opção e coerência, inclui também as “folhas” redigidas no âmbito do seu trabalho na Fundação Calouste Gulbenkian (as quais, na sua grande maioria, foram aqui depois retomadas, com ou sem adaptações). Em companhia de Boris Barnet assinalamos o lançamento do primeiro de um conjunto de volumes, que, de acordo com outros critérios editoriais há muito assumidos, têm estrutura dicionarística e “raisonée” (com inclusão de todas as variantes dos textos agora reunidos, notas de editor e índices onomásticos e didascálicos). Foi um longo percurso e um considerável esforço, levado a cabo (mais uma vez, por opção e coerência, mas sobretudo, também, neste caso, por mero sentido de dever) pela própria equipa da Cinemateca, com intervenção direta de colaboradores de todos os setores da casa. Em ano de aniversário, é um dos momentos altos de comemoração, também assumido como referência à dívida imensa que temos perante o autor destes textos. Mas a data escolhida tem sentido especial, marcando um aniversário dentro de outro: neste dia perfazem-se seis décadas sobre o dia 29 de setembro de 1958, no qual a Cinemateca inaugurou, no Palácio Foz, a história das suas projeções públicas. Não por acaso, de todas as datas históricas da Cinemateca, esta foi a que João Bénard da Costa mais lembrou e acima de todas comemorou. Voltando a homenageá-lo a ele, evocamos assim a própria ideia a que todos estes textos estão tão essencialmente ligados, segundo a qual o momento em que cada filme preservado renasce no ecrã é aquele que dá o sentido último a tudo o que fazemos. É o princípio do fim e é obviamente o começo de uma outra história: com esta edição, começa a nova vida destes escritos, desligados, agora, do contexto que os viu nascer, mas portadores de uma força contagiante que, além de tudo o mais, advém da forma única como o autor viveu e marcou esse contexto.
 
 
29/09/2018, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Escritos sobre Cinema de João Bénard da Costa

U Samogo Sinevo Moria
“À Beira do Mar Azul”
de Boris Barnet
URSS, 1933 - 71 min
 
29/09/2018, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Escritos sobre Cinema de João Bénard da Costa
U Samogo Sinevo Moria
“À Beira do Mar Azul”
de Boris Barnet
com Elena Kuzmina, Lev Sverdlin, Nicolai Kriuchkov
URSS, 1933 - 71 min
legendado em português | M/12
Este filme é, como a generalidade da obra de Boris Barnet, um melodrama aparentemente "leve", de um lirismo magistral: dois jovens pescadores de um kholkoze apaixonam-se pela mesma rapariga, tornando-se rivais até um desconcertante final. Uma sequência imortal: a "ressurreição" da protagonista. Um autor a descobrir e a festejar. “Lembras-te quando ela, espantadíssima, pergunta ‘quem morreu?’ e a resposta é a mais bela dança que vi em cinema, incluindo a do SINGIN’ IN THE RAIN? Nunca, talvez, o cinema tenha estado tão perto de nos fazer tocar na alegria como ‘dom de Deus (…) que traz em si um caráter eterno que passa através do sofrimento’ (Sophia de Mello Breyner). E nunca, a não ser em ORDET de Dreyer, o triunfo de um corpo ‘ressuscitado’ foi tão físico e tão anímico, tão carne e tão espírito (João Bénard da Costa). A anteceder o filme, é mostrada a sua apresentação por João Bénard da Costa para o programa da RTP “No Meu Cinema”.