CICLO
Double Bill


Se, desde os seus primórdios, a história do cinema está pulverizada por remakes de filmes realizados por diferentes autores, são também muitos os cineastas que regressam aos seus próprios filmes para os "refazer". Eis o “segundo capítulo” de um conjunto de "Double Bills" dedicados a "auto-remakes", o primeiro dos quais aconteceu no passado mês de junho, envolvendo filmes de Yasujiro Ozu, Raoul Walsh e John Ford. Se este é um campo vastíssimo, cujas motivações serão muitas e muitíssimo variadas, pretendeu-se aqui juntar pares de filmes necessariamente próximos, mas simultaneamente distantes, cujas diferenças garantissem que em nada o prazer do cinema seria perturbado por uma exibição conjunta. Na realidade, com exceção dos dois THE MAN WHO KNEW TOO MUCH, são filmes de um mesmo realizador que questionam a própria ideia de remake e as suas fronteiras, revisitando não apenas as mesmas histórias e temas em momentos temporais e tecnológicos diferentes, mas abordando também realidades profundamente transformadas pelo tempo e incorporadas nos próprios filmes. É pois entre o “remake” e a “variação” que se situam estes quatro programas. 
 
 
03/03/2018, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill

The Man Who Knew Too Much | The Man Who Knew Too Much
duração total da projeção: 195 min | M/12
 
10/03/2018, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill

Rio Bravo | El Dorado
duração total da projeção: 266 min | M/12
17/03/2018, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill

À Bout de Souffle | Numéro Deux
duração total da projeção: 180 min | M/12
24/03/2018, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill

La Rosière de Pessac 79 | La Rosière de Pessac 68
duração total da projeção: 132 min | M/12
03/03/2018, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
The Man Who Knew Too Much | The Man Who Knew Too Much
duração total da projeção: 195 min | M/12
entre os dois filmes há um intervalo de 20 minutos
THE MAN WHO KNEW TOO MUCH
O Homem que Sabia Demasiado
de Alfred Hitchcock
com Leslie Banks, Edna Best, Peter Lorre, Nova Pilbeam, Pierre Fresnay
Reino Unido, 1934 – 75 min / legendado eletronicamente em português
THE MAN WHO KNEW TOO MUCH
O Homem que Sabia Demais
de Alfred Hitchcock
com James Stewart, Doris Day, Daniel Gélin, Brenda de Banzie, Christopher Olsen
Estados Unidos, 1956 – 120 min, legendado eletronicamente em português

Alfred Hitchcock rodou duas versões de um “mesmo” filme com um intervalo de vinte anos a que sintomaticamente deu o mesmo título. Mas se os dois THE MAN WHO KNEW TOO MUCH partem da mesma narrativa de base (com alterações substanciais), são na realidade dois objetos muito diferentes e as suas qualidades intrínsecas fazem deles um caso paradigmático deste universo dos “auto-remakes”. Sobre a primeira versão britânica de THE MAN WHO KNEW TOO MUCH, o cineasta diria: “foi realizada por um amador de talento”, aproximando a segunda ao trabalho de um “profissional”. Foi também o filme que consagrou definitivamente o realizador como o “mestre do suspense” e fez dele o mais conhecido e importante cineasta inglês. Destaque ainda para a presença de Peter Lorre, no seu primeiro papel importante fora da Alemanha. Na versão americana (e a cores), obra-prima do suspense e do humor, o jovem casal de ingleses em férias na Suíça que se confronta com um misterioso assassinato que envolve os serviços secretos britânicos, dá lugar a novos protagonistas: um pacato casal de americanos vê-se envolvido numa história de espionagem aquando das suas férias em Marrocos (James Stewart e Doris Day) e é envolvido numa intriga política, que visa o assassinato do primeiro-ministro de um país não identificado (mas, evidentemente, da “Cortina de Ferro”) durante uma visita oficial a Londres. Suspense, humor, esplendor visual e brilhante mise-en-scène caracterizam este filme de maturidade, que culmina na famosa sequência do atentado, durante um concerto no Albert Hall.
 
10/03/2018, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
Rio Bravo | El Dorado
duração total da projeção: 266 min | M/12
entre os dois filmes há um intervalo de 20 minutos
RIO BRAVO
Rio Bravo
de Howard Hawks
com John Wayne, Dean Martin, Ricky Nelson, Angie Dickinson, Walter Brennan
Estados Unidos, 1959 – 141 min / legendado em espanhol e eletronicamente em português
EL DORADO
El Dorado
de Howard Hawks
com John Wayne, Robert Mitchum, James Caan
Estados Unidos, 1966 – 125 min / legendado eletronicamente em português

RIO BRAVO é um dos mais famosos westerns de sempre, e a obra-prima de Howard Hawks, que o fez em resposta a HIGH NOON de Fred Zinnemann. Um grupo de homens com uma missão a cumprir é o tema geral dos filmes de aventuras de Hawks, neste caso, a de manter a ordem numa pequena cidade, e levar a julgamento um assassino. Mas é também, como todos os filmes do realizador, uma fabulosa variação sobre a “guerra dos sexos”, com um fabuloso duelo verbal entre John Wayne e Angie Dickinson. “E como, de cada vez que se vê RIO BRAVO, como de cada vez que se lê a Recherche, há sempre uma sequência – ou um plano – que parece mais central” (João Bénard da Costa). Oito anos depois Hawks realiza EL DORADO, uma variação em torno de RIO BRAVO. Nessa altura tinha já 79 anos, revelando-se EL DORADO um belíssimo filme de fim de carreira. Pega na mesma situação, a esquadra de uma pequena localidade que é alvo de cerco e ataque por um grupo de pistoleiros que quer libertar os chefes, mas introduz algumas variantes que reforçam o humor e conta com um par perfeito e extremamente contrastante: John Wayne e Robert Mitchum. Dois filmes perfeitos, cuja relação está já na fronteira entre o “remake” e a “variação”. EL DORADO é apresentado em cópia digital.
 
17/03/2018, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
À Bout de Souffle | Numéro Deux
duração total da projeção: 180 min | M/12
entre os dois filmes há um intervalo de 20 minutos
À BOUT DE SOUFFLE
O Acossado
de Jean-Luc Godard
com Jean Paul Belmondo, Jean Seberg, Daniel Boulanger
França, 1960 – 90 min / legendado em português
NUMÉRO DEUX
Número Dois
de Jean-Luc Godard
com Sandrine Battistella, Pierre Oudry, Alexandre Rignault, Rachel Stefanol
França, 1975 – 90 min / legendado eletronicamente em português

Em 1974 o produtor Georges de Beauregard propôs a Jean-Luc Godard realizar um remake de À BOUT DE SOUFFLE com o mesmo orçamento. Godard aceitou e iniciou um projeto cuja designação inicial era “À Bout de Souffle – Numéro Deux”. Metade do título cai entretanto com a explicação de Godard de que com a semelhança de orçamento pretendeu sobretudo refletir sobre as condições de base do primeiro filme, e de que se tratava essencialmente de um segundo recomeço. Apresentado polemicamente na altura da sua estreia como um remake em vídeo de À BOUT DE SOUFFLE, NUMÉRO DEUX aborda as relações de poder estabelecidas no seio de uma família no interior de um moderno apartamento em Grenoble, cujo quotidiano é registado por um conjunto de câmaras de vídeo dispostas nesse espaço. Assentando na justaposição e sobreposição de imagens que apelam a uma pluralidade de leituras, é uma experiência única na obra de Jean-Luc Godard, antecipando os seus trabalhos futuros em vídeo. Filmado em grande parte nas ruas de Paris, À BOUT DE SOUFFLE (ao lado de LES 400 COUPS) é o grande “filme-símbolo” da Nouvelle Vague e um dos filmes que abre as portas do cinema moderno. Foi o primeiro sinal de que, como escreveu Serge Daney, este novo cinema não só não se contentava em sacudir o “antigo”, como ameaçava, literalmente, destruí-lo. À BOUT DE SOUFFLE é um dos filmes que melhor ilustra as consequências práticas e teóricas dos postulados da Nouvelle Vague, fazendo “explodir” o cinema para depois o reinventar. Dois marcos que assinalam dois “começos” na obra multifacetada de Godard.
 
24/03/2018, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
La Rosière de Pessac 79 | La Rosière de Pessac 68
duração total da projeção: 132 min | M/12
AVISO: Lamentavelmente, por motivos totalmente alheios à Cinemateca, não é possível mostrar o filme LA ROSIÈRE DE PESSAC 79 (1979) como previsto e programado, uma vez que o seu detentor não nos enviou cópia do filme mas, por engano, duas cópias de LA ROSIÈRE DE PESSAC 68. Dado o atraso da chegada das cópias a Lisboa, este equívoco só pôde ser detectado na véspera da sessão. Sem outra opção apresentamos apenas LA ROSIÈRE DE PESSAC 68, esperando poder reconstituir o “Double Bill” previsto noutra ocasião.
LA ROSIÈRE DE PESSAC 79
de Jean Eustache
França, 1979 – 67 min / legendado eletronicamente em português
LA ROSIÈRE DE PESSAC 68
França, 1968 – 65 min / legendado eletronicamente em português
de Jean Eustache

Eustache filmou a festa tradicional da cidade onde nasceu, Pessac, no registo do cinema direto, uma primeira vez em 1968 e de novo em 1979: conhecida como La Rosière de Pessac, a festa é um ritual que remonta ao século XVII, envolvendo a comunidade na escolha da rapariga mais virtuosa da população local, título que a eleita mantém durante um ano até que o ritual se repita e nova escolha seja feita. Onze anos depois da primeira versão (lamentando que esta cerimónia que data de 1896 não tenha sido já registada nos primórdios do cinema), Jean Eustache procura mais uma vez respeitar escrupulosamente o desenrolar de uma mise-en-scène há muito estabelecida, mas encontra uma realidade sociológica diferente: “A mesma cerimónia não é mais do que um simulacro, revelador da modificação das mentalidades e dos costumes” (Jean Duchet). Sucedendo a LA ROSIÈRE DE PESSAC 68, LA ROSIÈRE DE PESSAC 79 dá assim simultaneamente conta da história francesa a partir da observação de um microcosmos e do fascínio do realizador pelos rituais transformados pelo tempo. Numa entrevista aos Cahiers du Cinéma, em 1979, Eustache manifestou um desejo de programação que esta sessão recupera: “Gostava que os dois filmes fossem mostrados juntos: primeiro o de 79, seguido do de 68. Uma forma de dizer às pessoas: se têm vontade de ver como tudo se passava, fiquem, pois irão ver.”